AQUI JAZ LÍLIAN HUGHES

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Para Bruno, que nasceu no mesmo dia e mês que Lílian morreu.

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17 de Outubro de 2015, o dia.

Meus olhos ardiam de sono. As palavras: "Amanhã, a vadia Lílian Hughes, vai morrer", que me importunaram durante toda a noite, ainda formigavam em minha mente. Apesar de passar horas analisando a mensagem e fazendo especulações, a única conclusão que havia chegado foi que Lílian não atraiu apenas um rival, mas um inimigo capaz de mata-la. Seria Amber?

- Tom! Você esta me ouvindo? - ouvi meu pai dizer, por trás da porta do meu quarto.

- Sim, desculpe! - respondi absorto em pensamentos.

- Estou saindo para o trabalho. Deixei a comida no congelador. É só esquentar no micro-ondas.

- Valeu pai - retribuí.

- Está acontecendo alguma coisa?

- Não... ­- omiti -... está tudo bem!

- Qualquer coisa me liga que eu...

- "Um rum", boa viagem, pai.

Não demorou muito para que eu ouvisse o som que a porta de entrada fazia ao fechar, ele cumprimentar o vizinho que todas as manhãs cuidava do jardim e o motor do carro da empresa soltar um ruído altivo ao sair da garagem.

Meu pai vende correias de borracha, para uma fábrica de peças e isso exige que ele trabalhe de segunda a sexta, e às vezes, viaje um ou outro sábado do mês para fazer entregas nas cidades vizinhas. E sabe o que isso significa? Que eu podia fazer o que quisesse e quando quisesse, sem ter o olhar de repreensão dele. Não é um máximo?!

Em Levittown não há muito que fazer. Os restaurantes fecham cedo e a cidade praticamente dorme depois das oito. Entretanto, sempre existe alguma danceteria, clube ou sport bar, que só é permitido para jovens maiores de 21 anos, o que não é meu caso. Mas, claro que nós adolescentes sem atividades para ocupar a mente "diabólica", dávamos um jeito.

Alguns eram pegos pela polícia comprando bebida com a identidade do irmão mais velho, outros roubavam o carro dos pais enquanto dormia, para tocar terror em um morro que serpenteava parte da cidade e os mais ricos como Ian Harris, não precisavam se preocupar, pois os pais tinham sala de jogos, cinema e o próprio bar no porão de casa.

No meu caso, minha diversão era "quebrar" as regras impostas na minha casa, como assistir filme até tarde, jogar videogame violento no volume mais alto da tv ou sair do quarto só de cueca para pegar refrigerante na cozinha.

Com os pés na mesinha de centro e engolindo uma tigela de cereal, assistia a reprise de Naked and Afraid (largados e pelados), um reality show que coloca um homem e uma mulher, "peladões" na selva, tendo que sobreviver 21 dias. "Isso é fichinha, duvido aguentar 21 dias em Walt Whitman!" - dizia contrafeito no momento em que o telefone próximo à cozinha tocou. Olhei preguiçoso, imaginando ter que me levantar para atender, mas lembrei que poderia ser meu pai, ligando para saber se eu havia incendiado a casa. E para minha surpresa...

- Alô, Tom?! - identifiquei de imediato a voz alegre de Rory.

- Oi Rory - disse surpreso.

- Tom! - bradou contente fazendo com que eu afastasse o telefone do ouvido. - Que bom que é você! Foi bem difícil encontrar seu número na lista telefônica, não conseguia lembrar seu sobrenome. Dá pra acreditar? Aí, lembrei do trabalho de literatura que fizemos em dupla, e achei sua assinatura. "Tom Evans Foust" - enfatizou.

TOM FOUST - Revele, se puderOnde histórias criam vida. Descubra agora