WITHOUT WINGS, taehyung

FOUR: ice cream shop

|WITHOUT WINGS|

O chocolate quente de tia Nora estava esfriando enquanto eu observava o escuro da noite pela janela do meu quarto.

As folhas de outono estavam começando a cair, mesmo com a iluminação precária dos postes as folhas avermelhadas das árvores continuavam brilhantes.

Eu tomei mas um gole do chocolate já frio. Fazia poucos minutos que Sun Hee houvera me ligado avisando que estava saindo.

Na verdade, eu nem sei porque ela me ligou. Parecia saber que eu me preocuparia e por incrível que pareça eu estaria sim preocupada se ela não ligasse.

Eu não confiava em Yoongi, na verdade eu não confiava em ninguém que pudesse fazer alguém que eu amo triste.

Talvez essa fosse a vantagem de ter essa fobia estúpida.

Mas com grandes vantagens vem grandes consequências. Me preocupar com os outros talvez seja a única coisa boa na Tantofobia. O resto era dor, pesadelos, traumas e sofrimentos.

Todos tem um lado sombrio dentro de si. Não era como se eu fosse gótica ou algo do tipo. Eu só não conseguia compreender e superar a dor de uma perda. Era difícil. Eu não podia estar no lugar dela?

— Você está muito melancólica. — eu até tinha esquecido que tia Nora estava ao meu lado.

— Eu só estou um pouco preocupada com Sun Hee. — falei e pousei a xícara vazia no batente da janela. — Você acha que isso é ruim? Ficar preocupada demais é ruim?

Tia Nora sorriu, calorosa, e olhou para as pequenas estrelas que brilhavam ao redor da lua. Uma mais bela que a outra.

— Claro que não. Isso demonstra o quanto você tem afeto à ela. Isso é um dom que poucas pessoas do mundo de hoje têm. Importar-se com o próximo.

— Então não preciso me repreender por isso, não é? — eu perguntei. Parecia mais uma criança pequena perguntando sobre uma coisa que nunca ouvira falar.

— Claro que não. — Nora me deu um beijo na testa e pegou minha xícara. — Eu acho melhor você ir dormir. E antes de ir, tome o remédio para dor, está no seu banheiro.

Eu assenti e acompanhei ela com os olhos até vê-la fechar a porta. Me sentia feliz por tê-la ao meu lado. Ela é minha única família, consequentemente, a pessoa mais valiosa da minha vida.

Eu suspirei e fechei a janela. Me dirigi ao banheiro e  tomei a pílula enquanto observava meu reflexo no espelho, os olhos fundos de cansaço. Meu pijama estava levemente amarrotado e quando fui ajeitá-lo eu vi a fina cicatriz na clavícula até o meu ombro.

Fechei os olhos e respirei fundo, reorganizando a minha mente e tentando esquecer o que havia passado.

Havia coisas que até hoje eu não havia superado. E uma delas era aquela maldita cicatriz.

Antes de dormi eu mandei uma última mensagem para Sun Hee.

Me:
Boa noite 😊
Me responde quando chegar.
22:44

No dia seguinte eu acordei com o barulho do meu celular apitando. Fiz uma careta assim que liguei o ecrã, fazendo meus olhos queimarem por alguns segundos.