confiar

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A cada semana, Anne me contava mais coisas, me explicava tudo sobre as pessoas, mas nunca sobre ela.
- Sabe, Sophie, esse corredor com as mesmas pessoas guarda histórias, medos, perdas, desilusões... A questão é: eles estão aqui porque não sabem descansar, não confiam em ninguém...- ela os olhou- Vamos conhecê-los.
Ela nos levou pro lado dá velhinha
- Essa é Laurenny, ela entrou a bastante tempo. Ela surtou depois que seu marido a traiu com uma amiga de longas datas... Ela realmente o amava, mas ele não a amou o suficiente. Por mais que anos já tenham se passado, ela não o esquece, ela sabe que ele não vai voltar, mas tem esperança...
-Nossa...Isso deve trazer uma falta de paz...
- Pois é...
Ela se direcionou ao adolecente
- Esse é o Jimmy, ele está aqui desde que a mãe faleceu. Ele surtou porque a namorada o deixou depois de o melhor dia que eles tiveram juntos, no aniversário dele, ele se sentiu tão mal que não conseguiu mais falar, apenas desenhar, rabiscar, chorar...
- A vida dessas pessoa não deve ser nada fácil...
- Só percebeu isso agora!?- a ironia dela não acaba
Então, nos direcionamos a mulher que estava sempre cantando.
- Essa é Leila, sua auto-estima foi destruída com seus "amigos". Ela já sabia que eles não iam muito com a cara dela e que nunca chamaram ela pra nada, mas quando a chamaram... Fizeram ela passar vergonha na frente de todos... Ela surtou e matou todos eles com as próprias mãos!-A última frase foi dita com muita empolgação
-Nossa, com as próprias mãos...
-Legal, né?! Ela matou a filha dela também...-Ela sorriu e voltou com sua cara de sarcasmo
- Você tem vontade? De matar todos?
- Não... Oque for deles deixa que o vento trás...

Ela parecia tranquila ao dizer essas coisas. Ela é tão realista...
Fomos andando até o fim do corredor, até a sala de recreação. Anne começava a olhar em volta e sorrir com seu jeito poderoso de admirar o mundo.
- Sabe, essas crianças podem ser idiotas e tals, mas eu gostaria sim de ter a esperança como a delas, sei lá... Desde que minha mãe foi embora eu me sinto diferente de todos eles.
- sua mãe?
-É...Minha mãe... Esquece essa história... Vamos continuar caminhando?
Ela nos levou a sala de leitura onde (pela milésima vez na semana) ele estava sentado lá.












já descobriu algo sobre ele?

-então, ele é bem diferente, foi bem difícil descobrir algo-ela parou e se lembro de que...-mas eu sou incrível.
-eu sei que você é
-bom, ele está aqui porque tentou um suicídio coletivo com estranhos. eles jogaram fogo em uma casa abandonada, tinham 10 pessoas dentro do lugar, todas saíram queimadas, algumas morreram, mas ele não, ele sobreviveu sem um arranhão...
-como?
- eu não sei, simplesmente, sobreviveu, como se existisse uma barreira junto com ele.
-nossa
- pois é né?

Sobreviveu...ele sobreviveu sem um arranhão... Como ele sobreviveu? sem ao menos se machucar? o que o fez ele sobreviver? Existiam muitas dúvidas não solucionadas, precisava respirar.

- Sophie, você quer fazer algo muito louco ?
- O que?
-Vem...

Ela, mais uma vez, segurou em meu braço e correu até a escada de segurança.

- Você está pronta?
- Pra quê?- respirei fundo, tentado voltar com o ar

Anne abriu a porta de segurança e, de novo, correu pela escada até onde ver a porta de saída
-Sophie, esse lugar que você vai ver é meu lugar favorito, então eu espero que você possa se sentir tão bem quanto eu...- ela abriu a porta, nunca vi algo tão belo, um lugar tão maravilhoso que, na minha cabeça, surreal.
- Bem-vinda ao Jardim do Éden.
- Não estamos no céu, estamos?
-Sophie, nesse lugar você pode falar com quem você quiser, pois atrás desse hospital horrível, existe um lugar onde você pode sair pra ver a Verdade. Portanto, aqui, pra mim, é o céu
-A Verdade?
-Sim, A verdade. Lá dentro muitos estão tristes, cansados e mortos... Aquilo não existe.

eu paralisei escutando tudo aquilo, não conseguia fazer nada, apenas admirar aquele lugar das flores, as árvores eram tão belas e coloridas, tudo estava tão lindo.
- Você quer conhecer, o dono desse Lugar?
- Dono?
ela me mostrou a direção de onde nós iríamos e me acompanhou até uma cabana onde o suposto dono estava
- Anne, quem eu vou conh...Anne?-ela havia sumido
Eu subi na varanda da cabana e bati na porta, escutava um barulho de alguém construindo algo de
Madeira. Mais uma vez, bati na porta, escutei alguém gritando " ta aberta" Achei bem estranho, mas entrei.
O homem estava trabalhando um uma casinha de bonecas, Parecia tão focado, não quis Atrapalhar.
-Olá Sophie, venha ver!- ele estendeu a mão
- Nossa, está ficando ótimo, de verdade... quem é vo....
- É um castelo, para onde minha filha vai morar um dia...
- Sua filha?
- Sim, já estou esperando ela a bastante tempo...
-esperando? onde ela está?
- perto...Bem perto! - ele disse quase chorando de alegria.
Suas roupas eram um macacão jeans, resgado nas pernas, uma camisa vermelha e branca, e um tênis preto. Seus cabelos batiam em seus ombros, castanhos. Não pude ver seu rosto por causa da da
máscara, apenas seus olhos verdes com um toque mel.
- Desculpe, esqueci da máscara- ele tirou a máscara que escondia seu rosto.
Seu sorriso era perfeito, talvez nunca vi alguém tão bonito...
-Então Sophie o que te trás ao meu lugar?
- Como você sabe meu nome? quem é você? onde eu estou?
-Eu sei que você está com muitas dúvidas, Sophie, eu vou responder todas elas... Mas vamos nos sentar, existe muito o que conversarmos.

Eu sinceramente não sabia o que estava acontecendo, mas eu confiei nele como em ninguém antes. Naquele dia rimos muito, choramos, conversamos e aquele homem não deixava de ser interessante, mas, contudo, a tal pergunta não saia da minha mente: Quem era aquele homem?
Tudo parecia belo naquele momento e as nuvens começaram a se colorir naquele momento nos tons de rosa e amarelo, foi então que eu me lembrei que eu tinha que voltar...
- Foi muito bom conversar com você, mas, infelizmente, terei que voltar pro hospital...
- Me visite mais, Sophie, sua presença foi tão boa- ela pareceu se importar.
- Eu voltarei...
Enquanto eu caminhava pra fora percebia que aquele lugar não era estranho, que já havia estado ali, só não sabia quando, nem porque eu estava ali de novo, mas esperava voltar.
"Não se encontra o paraíso na Terra" - lund

Aguardo Loucamente O Dia Em Que Verei Teus Olhos Where stories live. Discover now