Two.

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Um mês se passou desde aquela noite. Eu estava tranquilo descansando depois de mais um show de merda para bêbados de merda no meu "camarim", que na verdade era uma sala minúscula com as paredes cobertas por fotografias de famosos que o dono do bar jurava que todos eles já se apresentaram lá, mas eu duvido muito que isso realmente tenha acontecido. Adam Hann, meu amigo e guitarrista da The 1975, adentrou a sala dizendo que tinha uns caras me procurando no bar, agradeci, peguei minha mochila e desci as escadas que dava direito onde eles estavam me esperando.

Ultimamente, graças a blitz de merda que resolveu se instalar na rua 13, o bar tinha se tornado meu ponto de encontro para receber mercadorias. Era o lugar ideal, eu conhecia muito bem o dono, as pessoas que frequentavam tinham a ficha mais suja que a minha e os policiais não entravam ali, desde que Frank, o dono do bar, tinha ameaçado um dos canas de morte, e eu não sei bem porque, mas os policiais locais tinham pavor dele.

Mercadoria dentro da mochila. Dinheiro contado e entregue. Era só me mandar. Esse era o plano, mas um dos caras, o mais velho deles que tinha uma barbicha branca e tudo, resolveu puxar conversa comigo. Eu que não sou burro desconfiei completamente, não é todo dia que homens tão mal encarados puxam assunto com um aviãozinho feito eu. Conversa vai, conversa vem e finalmente chegou onde queria. Falou de uma festa chamada Holy Rich, que acontece todo ano e eu obviamente já tinha ouvido falar. Era uma festa dada pelo filho do governador Johnson, onde os convidados são escolhidos a dedo, todos são de classe altíssima, ou seja, minha chances de fazer parte dela era de 0,0%. Porém, me vi enganado quando as palavras saíram da boca do velho, meio embaralhadas por conta da bebida, "O chefe quer que você seja o nosso cara lá dentro". Isso significava que ele queria que eu vendesse o doce. Era óbvio o porquê dele ter me escolhido, eu era jovem e era raro alguém tão jovem ser tão bom nessa coisa de vender e passar despercebido. A grande maioria ficava tão loucão que acabava, ou não vendendo nada, ou a polícia parava e aprendia toda mercadoria, o que gerava um grande prejuízo. Por outro lado, mandar adultos também não era uma opção, já que nessas festas era muito fácil reconhecer quem não era convidado e os seguranças, por ordem do anfitrião, faziam com que eles saíssem imediatamente, e nem sempre era de maneira agradável e gentil. Então, eu era a opção perfeita. Por fim, eles me entregaram um pacote e disseram que ali havia tudo que eu iria precisar, isso é, identidade e carta de motorista com nome e idade falsa, e um convite para a tal festa. Assenti e eles se mandaram sem cerimônia.

Por volta de 03:40 da manhã, eu e os caras resolvemos ir para casa, o George era o mais sóbrio, por isso ele iria ser nosso motorista. Ele foi na frente buscar a van da banda que estava estacionada na rua atrás do bar. Enquanto eu e Ross ficamos sentados na calçada, rindo de Adam que estava extremante bêbado e tentava descer as escadas com um copo na mão. Logo à frente, havia um semáforo e depois de alguns baseados ele parecia ser tão interessante que fiquei lá olhando para luz verde, e de repente ela ficou amarela e logo depois vermelha. Alguns carros pararam, carros bem caros por sinal, encarei um que estava a minha frente, tinha vidros fume extremamente escuros e fiquei ali me perguntando se as pessoas ali dentro estavam me vendo ou se estavam ocupados demais com suas vidas para se quer olhar uns caras chapados sentados numa calçada qualquer. O vidro do passageiro desceu e a figura atrás dele fez meu corpo todo arrepiar. Era ela, a menina da festa. Ela estava completamente diferente, usava uma maquiagem clara, ela tinha os cabelos presos no topo da cabeça e pelo o que pude ver usava uma camiseta azul tão suave quando sua expressão. Ela me olhou e um sorriso tímido brotou nos seus lábios, mas seus olhos ainda demonstravam o mesmo cinismo do dia que a conheci. Eu por outro lado fiquei estatelado, sem reação alguma, pensei que nunca mais a veria, principalmente tão diferente daquela forma. O sinal voltou a ficar verde e o carro arrancou e ela foi embora mais um vez. Após, uns segundos pensando, percebi que nada foi dito ou feito, mas como eu faria qualquer coisa para pode vê-la novamente.

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