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III - Laço Paterno

"Quando o homem amadurece e tem filhos, tudo muda, pelo menos para mim foi assim, pois sou inconstante, sigo o tempo tanto quanto ele me segue."

APOLO

Não irei morar com o homem que destruiu a própria família, fez a minha mãe sofrer e que não está nem aí para mim. Minha avó Leonor mais uma vez tem razão, meu avô Rivaldo só pode estar louco.

— Eu não vou, vovô — afirmo, sério.
— Pronto, assunto encerrado, Rivaldo. O menino não quer ir, eu não quero que ele vá, acabou essa história — conclui vovó. — Sente, meu neto, tome café conosco.
— Desculpe, Apolo, mas isso não é um pedido, é uma ordem, um ultimato. Você ficará com o seu pai até Laura retornar — assevera, ainda mais sério, me deixando com raiva.
— Mas ele não é meu pai! — aumento a voz. — Meu pai sempre foi o senhor, vô. Não quero ficar com ele. Aquele homem nem mesmo se importa comigo...
— Sabe que isso é mentira, Apolo. Ele se afastou, é verdade, foi um erro dele, achou que essa era a melhor saída após a separação, mas nunca o esqueceu, e o fato de ter pedido para ficar contigo neste tempo em que sua mãe passará fora, prova isso.
— Ora, me poupe, Rivaldo! — rebate vovó, limpando os lábios com o guardanapo, também irritada.
— Já está dito! — nunca vi meu avô tão certo de algo assim, e exigente. Que raiva! — Agora sente-se, Apolo, tome café e depois suba e faça a sua mala. Está na hora de pôr um eixo em toda essa situação.

Não o obedeço e saio daqui furioso, respirando forte. Meu avô me chama, mas não dou atenção. Caminho depressa em direção a cozinha e soco a porta dos fundos ao sair para o jardim. Não quero ficar com o Victor! Odeio ele por ter abandonado a mim e a minha mãe, por tê-la feito sofrer com... Ah! Não gosto nem mesmo de lembrar.

Sento em um dos banquinhos que há no belo gramado, entre as plantas e flores. Fecho os olhos e ouço até passarinhos cantando ao redor. Meu avô herdou a herança do pai e sempre trabalhou no mercado da carne, o sobrenome da família, Cordeiro, é uma das marcas mais vendidas dentro e fora do país, o que sempre nos proporcionou muito luxo e reconhecimento, renome. Se bem que a minha mãe sempre teve o seu próprio dinheiro desde que me entendo por gente, é uma fotógrafa superconhecida na região e que agora está expandindo o seu trabalho no estrangeiro, mas já sinto a sua falta.

Lembro dela conversando comigo antes de partir, quando ainda estava no quarto, terminando de arrumar as suas malas para a longa viagem:

"— Filho, seu pai quer ficar contigo enquanto viajo, tem certeza que não quer ir? — ela indaga, acariciando o meu rosto e sentando-se na cama ao meu lado. Minha avó está numa poltrona, nos observando, de pernas cruzadas.
— Oh, Laura, deixe de bobagens! — retruca ela. — É claro que ele não vai, ficará comigo e Rivaldo. Aquele Victor não merece estar na presença do meu neto...
— Mamãe por favor, nos dê licença, quero conversar com o meu filho a sós! — rebate mamãe, fazendo dona Leonor sair bufando do quarto. Sou acariciado na bochecha novamente e admiro a beleza da minha mãe que espera por uma resposta minha. Já sou maior e mais forte que ela, mesmo tendo apenas a idade que tenho.
— Não quero, mãe. Por que ele quer a minha presença agora? Depois de dois anos? Depois do que fez a você, a nós? Não! — respondo, amargo, fazendo ela baixar os olhos por um instante, parece triste.
— Apolo, tanto que te falei para não tomar as minhas dores, para não levar o que aconteceu para o seu coração. Victor querendo ou não é o seu pai e vocês precisam ter contato.
— Não quero ir. Ficarei com a vó e o vô! E a senhora não demore a voltar. Eu te amo. — a abraço e ela me corresponde, é tão bom sentir o seu calor e o seu amor, com ela me sinto protegido.
— Vou passar alguns meses lá, essa oportunidade é muito importante para o meu trabalho. Você entende, né?
— Entendo, mãe.
— Te amo muito, meu filho, meu menininho grandão — declara, beijando a minha cabeça."

A P O L O - DEGUSTAÇÃO - Disponível na AmazonOnde histórias criam vida. Descubra agora