Capítulo 4: Treinamento

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Seguimos por corredores que mais parecem pertencer à um castelo, compridos demais se comparado à qualquer outro colégio.

Paramos em uma sala gigante, com paredes brancas, altas e largas e muito clara, vejo cinco arenas como octógonos de MMA rodeada de jovens com a minha idade.

Dentro de cada arena duas pessoas lutam, a maioria sem usar artes marciais e muitas são leigas como eu.

Para minha infelicidade Daren coloca meu nome em uma lista e ele automaticamente surge no painel em um esquema onde eu lutarei quatro vezes.

Daren se junta à uma mulher um pouco mais velha que eu e que parece durona, com rosto sério e postura rígida, tatuagens, piercing e essas coisas. Assim como Daren, ela se veste diferente dos demais e de mim, é uma calça, um blazer e botas de cano longo, tudo preto, é mais parecido com uma farda militar do que o nosso que se assemelha a roupas de dormir.

A cada minuto que se aproxima da minha luta eu fico mais apreensiva, em toda minha vida eu nunca briguei, nem mesmo as tradicionais brigas de irmãos, nós no máximo discutimos e provocamos um ao outro, mas nunca brigamos.

Daren se aproxima de mim na luta anterior à minha. Ele sorri, acho que irá gostar de me ver apanhar.

- Está preparada? - pergunta ele sem olhar para mim, seus olhos sempre fixados na luta entre duas garotas que parecem galos numa rinha.

- Preparada para quê? Se for para levar uma surra, com toda certeza. - digo me imaginando levando aqueles golpes, me encolho no tatame que estou sentada.

- É fácil, bata neles e não deixe que batam em você. - ele diz sorrindo.

Minhas mãos estão suando e me sinto entorpecida, quase como se o ar à minha volta não tivesse oxigênio o suficiente. Quero correr daqui.

Eu entro na arena olhando tudo à minha volta, meu rival já está me esperando.

- Está com medo princesinha? - pergunta meu rival dando risada e eu gelo, sim estou com medo, mas não digo nada.

Assim que tem início o massacre, ele avança sobre mim, desferindo um soco ao meu rosto. Quero fechar os olhos e me agachar em uma tentativa desesperada de me defender, mas meu corpo não me obedece, ele faz melhor. Desvio para o lado, fugindo do golpe certeiro com uma agilidade que desconheço.

E isso acontece de novo e de novo, me tornando intocável. Não me reconheço quando um sorriso surge em meus lábios devido à luta, é quase como se meu corpo soubesse o que fazer.

Eu posso ver e ouvir cada detalhe do meu oponente, vejo o movimento de seus pés, uma sequência fácil de passadas e a prevejo, vejo cada gota de suor que cai de sua testa, vejo seus olhos mirando meu corpo e ouço seus músculos estalando.

- Excelente, mas ataca. - grita Daren para mim e eu faço isso, fecho meus olhos e meu punho o mais forte que consigo e o golpeio despejando tudo que tenho. Minha mão dói e espero não ter feito nada, mas quando abro os olhos vejo ele de bruços e não se levanta mais. Fico incrédula assim como todo mundo que assistia. Não sabia que era tão forte ou tão ágil, não acredito que seja real.

Todos me aplaudem e percebo que gosto disso. Quando a luta termina Daren está me aguardando escorado à grade da arena, ele me estende uma garrafa de água. A pego e viro na boca com mais sede do que tinha noção.

- Você já sabe lutar, por que não disse? Tínhamos colocado você contra alguém mais desafiador.

- Por que eu não sei. - digo arfando e percebo o quanto eu era sedentária, não tenho condicionamento físico algum e como eu sempre fui muito ruim em esportes, nem mesmo no colégio me exercitava.

- À mim você não engana. Quase matou o garoto com um soco e não foi tocada nenhuma vez. - diz ele com entusiasmo.

Como venci uma luta fico à frente de muitos, mas um número ainda maior fica à minha frente.

Logo chega a minha vez novamente, o intervalo entre elas é tão curto, tenho que lutar tão rápido que parece que foi apenas uma pausa entre dois round numa mesma luta de boxe.

Soa o gongo e a luta começa, mas antes mesmo de qualquer um de
nós avançarmos, meu coração dispara com a adrenalina percorrendo meu
corpo, poucas vezes em minha vida eu senti isso e poucas vezes eu me vi na necessidade de lutar.

Giramos na arena por algum tempo estudando um ao outro, para mim parece ser um tempo, longo demais. Chamam-no pelo nome, Hess e ouço gritos de uma torcida para o lado dele, pessoas demais pedindo para ele me
bater ou vencer essa luta logo, até que o garoto avança.

Ele é rápido, mais do que eu esperava para seu tamanho. Ele tenta me dar um soco na altura do peito, eu sou mais rápida do que imaginaria e instintivamente saio de sua área de alcance desviando-me para o lado, então com uma determinação repentina de vencer o golpeio com um chute na barriga, aplico toda força que esse corpo magro possui e por mais estranho que pareça para mim eu gosto do confronto.

Ele me dá uma rasteira e como não estava esperando caio com facilidade e todos vibram, ele fica parado por alguns segundos, o que me dá
um tempo para respirar e pensar, então ele vem novamente, tenta me socar de novo, mas dessa vez é no rosto.

Eu giro no chão me afastando dele e me levanto um pouco desesperada, ele vem novamente e dessa vez me acerta com um soco na barriga, ele está tão perto de mim, lembro-me da rasteira que me deu e o copio em um instante perfeito em que ele estava dando mais um passo para me socar e funciona, para minha surpresa ele cai. O chuto no abdômen com todas as minhas forças, mas ele parece não sentir nada e segura minha perna, então me derruba também, quando volto a levantar ele já está de pé.

Eu não vou perder essa luta, avanço primeiro, o soco no rosto e quando ele se defende deixa a barriga desprotegida, o golpeio com uma joelhada, mas ele é tão duro que não sei se sentiu algo.

Quando Hess vai golpear novamente a luta é parada pelo gongo, olho à minha volta procurando pelo motivo disso, nenhuma outra luta foi
interrompida. Vejo uma banca com três avaliadores anotando algo e do outro lado muitos vaiando por terem parado a luta, queria que vaiassem por nós ter que lutar.

Daren sinaliza para eu me aproximar dele, vou até a grade que nos separa.

– Porque pararam a luta? – pergunto, não quero ter que lutar, mas se tenho que fazer isso que seja de uma vez.

– A luta estava muito desigual então intervi. – ele me estende através da grade um bastão retrátil parecido com o que a policia usa.

– Legal, agora vou apanhar de bastão. – digo com sarcasmo e ele sorri.

- Os bastões são apenas para se defender e demostrar uma finalização, não para bater. - é o que ele diz, mas na realidade Hess me ataca com tudo que tem, como se já não fosse o suficiente com as mãos nuas.

O intervalo logo acaba e agora é mais rápido, a luta que estava enrolada se resolve em um único golpe e ele não é meu. Piso em falso e abro a minha guarda (desde quando tenho uma?), Hess aproveita esse tempo para me desequilibrar e golpear-me.

Ele usa mais força do que o necessário e perco a consciência.
Isso vai deixar marcas.

Obrigado a todos me desculpem a demora para publicar esse capítulo, espero que ainda haja magia na leitura...

Nêmesis A Estrela Negra - O Despertar da BestaOnde histórias criam vida. Descubra agora