O Sol, a Lua e o Lago que arde em Sangue e Sombras

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O Sol estava caminhando por entre as nuvens, como sempre fazia.
Porém, certo dia, ele tropeçou na Lua,
E caiu no poço de escuridão.

- Perdoe-me, irmão! – ela disse,
Mas ele estava distante demais para ouvi-la.
Caindo pelo poço, lentamente.
O belo brilho já não podia mais ser visto,
Apenas a escuridão soturna dominava a sua visão.

O poço o levou para o Reino das Sombras.
Lá, sua luz foi tragada.
As sombras levaram a luz do Sol para longe, e a mantiveram numa prisão.
Ele chorou, e suas lágrimas caíram sobre o lago rubro de sangue.
Ele olhou para este lago, e não resistiu à própria dor.
Pulou para dentro dele, e perdeu-se naquela cor.

A Lua, sua irmã, teve pena do Sol.
- Resgatar-lhe-ei, irmão – Ela disse do alto do céu noturno.
"Espere por mim, e não caia no lago de sangue!"
Mas ele já havia caído, e ela não sabia.
A Lua deixou o céu, e a completa escuridão recaiu sobre a Terra,
Pois as estrelas deixaram de luzir sem o brilho de sua querida mãe.

Ela entrou no poço
E desceu com suavidade.
Ao chegar ao Reino de Sombras, ela perguntou aos seres noturnos:
- Onde está meu irmão Sol?
- Não sabemos, Senhora – responderam, - Mas sua luz está em cativeiro.
- Como podem ter tirado a luz de meu irmão Sol? – ela perguntou, em desespero,
- Deixem-me falar com sua luz!

Levaram a Lua para um lugar frio e escuro, como o resto daquela terra.
Sombrio e taciturno, dominado pelos mortos.
Lá, enterrada em uma cripta, estava a Luz Solar.
- Oh, Lua! – exclamou a ela,
- Por favor, tire-me daqui!
- Luz – respondeu. – Onde está seu consorte, o meu irmão Sol?
- Jogou-se no lago que arde em sangue e sombras, que é a segunda morte.

Neste momento, a Lua correu para o lago e atirou-se nele.
Sem importar-se com a Luz ou as Sombras,
Com o Sangue e seu mortal rubor,
Ela jogou-se no lago vermelho.
Ao fundo, encontrou o pobre Sol.

- Irmão, venha comigo – Disse-lhe a Lua,
- Recuperei sua Luz.
Ele animou-se e tentou segui-la, mas já era tarde.
Tarde demais.

A Lua permaneceu na Terra de Sombras,
Enfraquecida demais para retornar.
O Sol, então, brilhou novamente pela manhã,
Porém inundou a Terra com chamas vermelhas
Que queimavam as folhas das árvores,
E derretiam o gelo do solo.

Uma cortina de sangue expandiu-se pelos céus.
Sangue rubro, trazido do Lago.
O Sol mesmo assim brilhou,
Pois a Natureza precisava dele de uma forma ou de outra.

Ao entardecer, o Sol retornou ao seu leito.
Porém, deixando um rastro de sangue nos céus.
Novamente tudo se inundou em vermelho,
Até a escuridão noturna vingar sobre a Terra mais uma vez.

A Lua, mesmo fraca, retornou aos céus,
Pois a Natureza precisava dela de uma forma ou de outra.
Seu brilho luziu por entre as marés, tingindo-as de sangue.
Não, ela não estava mais pálida.
A Lua de Sangue brilhou naquela noite,
Com suas filhas fiéis, ajudando-a a iluminar a escuridão.

Passada a noite vermelha, o Sol veio novamente.
O rastro de sangue lhe acompanhou novamente.
O Sol foi embora novamente,
E o rastro de sangue lhe acompanhou novamente.
A Lua brilhou cintilante, mas desta vez branca.
Agora sim, a Lua estava pálida como o Luar.

Mas, ao amanhecer, o Sol voltou com seu rastro vermelho,
E foi embora com o seu rubro rastro atrás.
Nas noites seguintes a Lua brilhou branca,
Mas logo se tingiu de vermelho outra vez,
E o ciclo se reiniciou.

A maldição estava feita.
Ambos caíram no Lago de Sangue,
E estão fadados a derramá-lo pela Terra.
Porém, não um sangue qualquer,
Mas o do Lago que arde em Sangue e Sombras, que é a segunda morte.
Renasceram defeituosos de sua segunda morte.

E por isso a Lua nem sempre aparece no céu.
Às vezes ela precisa deitar-se ao lado do Sol,
Ajudando-o a enfrentar suas feridas sangrentas,
Coisa que nem a Luz pôde fazer sozinha.
Mas a Lua também sangra...
E a Terra recai em sombras mais uma vez.

O rastro de sangue do Sol, quando observado
Pelos pobres humanos mortais, mentes pequenas,
Foi diversas vezes nomeado.
Lusco-fusco, aurora, alvorecer, crepúsculo...
O rastro vermelho era belo, apesar de tudo.
Encantou aos humanos, pois era algo nunca antes visto.

Mal sabiam os pesares do Sol, e nem os tormentosos momentos da Lua.
A propósito, à ausência da Mãe das Estrelas no céu noturno
Foi dado o nome de Lua Nova,
Pois era o início de um novo ciclo
E o término do outro anterior.

Cuidado com o Lago que arde em Sangue e Sombras, que é a segunda morte.
Não entre no Reino das Sombras,
E não caia no Poço da Escuridão durante a noite.
Aproveite a luz do Sol enquanto não é banhada por Sangue,
E a Lua, quando brilha reconfortante no céu estrelado;
Pois, lembre-se:

Algum dia eles podem não aguentar mais,
E irão embora para sempre,
Deixando-nos em um Reino da Escuridão eterno.
Um Reino de trevas e de dor,
Cujo Rei denomina-se Morte
E seus súditos, tristes e enlutadas almas perdidas.

O Sol, a Lua e o Lago que arde em Sangue e SombrasOnde histórias criam vida. Descubra agora