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⎯ Será que sou mesmo uma idiota sonhadora?! ⎯ Arguiu Ana de forma pensativa, com as costas apoiadas no tronco do frondoso ipê roxo da praça, e a cintura segura pelas quentes e firmes mãos do acompanhante. ⎯ Digo, por que, droga, tenho que ver com o que eles acreditam a respeito dos jovens daqui? ⎯ Levantou os braços sobre os ombros de Pablo, o agarrando pela nuca, por baixo dos longos cabelos, de modo a puxá-lo para mais perto de si, unindo seus corpos efervescidos. Ana gostava de sentir-se possuída, presa. Gostava de sentir os seios comprimidos no peitoral do seu amante, e da ereção por baixo dos panos roçando em seu ventre.

Pablo aproximou apertou Ana contra o tronco imponente e, deslizando tocando a orelha da mulher com os lábios, sussurrou com sua nata voz arrebatante, rouca, ritmada e imbuída de malicia:

⎯ Relaxe, vai dar tudo certo, gata. Esqueça a pirralhada deste inferno e vamos para meu apê. ⎯ Deslizou os lábios pela extensão do pescoço levemente suado, pelas bochechas tomadas de rubor, ate o canto da boca, tocando levemente seus lábios nos lábios rosas da fervorosa dama. O beijo era o desfecho obvio para aquele encontro numa tarde qualquer de um domingo de verão. Mais um beijo entre tantos outros.

Ana queria sentir os gosto daquela boca desvendando a sua. Fechou os olhos, enquanto, por pura volúpia, forçava a cabeça de sua nova aventura de uma tarde para mais perto da sua. Não que Pablo fosse especial ou o mais charmoso que se aventurara em suas curvas despidas. De certo modo, o homem, já chegando aos 30 anos, de camiseta larga tomada por estampa preta, verde e amarela; braços tatuados; pele pendendo do branco ao moreno; rosto de traços retos, olhar profundo, e, sobre a cabeça, seu particular toque rastafári: os longos cabeços enegrecidos. Pablo Freire não era exatamente "o tipo" de Ana, mas isso estava sendo relevado.

Pablo afastou a boca e sorriu, mergulhando nos olhos negros daquela dama perfumada, de pele alva e fogo incontrolável. Só de recordar das últimas vezes que fora consumido por ela e seu demônio interior nesses poucos dias que estavam juntos, desejava despi-la ali mesmo, na praça, a pôr de quatro e estocar seu membro ereto sem dó, pena ou vergonha.

⎯ Vou te foder, branquinha! ⎯ Balbuciou Pablo, mergulhando novamente nos lábios de Ana Moura, dando inicio a um beijo quente que fazia voar faíscas sobre a pira da tentação, acendendo as labaredas da libido e tornando incontrolável o fogo impiedoso que começava entre as pernas da acompanhante e subia, alastrando-se como um incêndio por cada célula daquele corpo esguio de mulher.

Ana agarrou os cabelos de Pablo e o afastou.

⎯ Vai me foder, seu safado? ⎯ Indagou, arfante. ⎯ Então fode!- Pediu descarada voltando a beijar o homem a sua frente com fervor.


*****


Sob a marquise da sorveteria, o grupo de adolescentes parecia normal, tomando seus sorvetes. Alguns rindo, gesticulando, outros "ficando". Mas se alguém ousasse aproximar-se da rodinha, certamente atestaria seu conceito sobre aquele bairro esquecido por Deus e seus moradores ¨projetos do que não presta¨ como alguns gostavam de chama. Sete rapazes entre 15 e 19 anos, e cinco garotas, não variando além dessa faixa de idade.

  Poucos deles eram adolescentes normais para a região, com seus olhares matreiros, postura atrevida e roupas despojadas típico de jovens seguidores de ¨modinhas¨. Mas alguém se destacava do grupo. Sim, essa era Helena. Quem seria Helena? Quem seria aquela morena menina, de cabelos cacheados, saia e blusinha floral impecável? Quem seria aquela jovem de traços juvenis e olhar sonhador? Por que no rosto dela não brilhava a máscara da malicia? Sim, ela era diferente, mas se dela dependesse. Se dependesse das suas vontades, isso duraria pouco.

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