Capítulo I - A Aparição

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O despertador acorda-me tocando uma música insuportável. Uma música qualquer dos anos 80 que agora é passada na rádio por uma qualquer razão desconhecida à minha pessoa que só tentava dormir. Depois é que percebi! Era dia de aulas...

Levantei-me o mais pesarosamente possível para um aluno do 9°ano que tinha que se levantar às 07:00 da manhã para apanhar o autocarro meia hora depois. Para andar no mesmo mais 30min até finalmente chegar à escola. O melhor de tudo é que dava para pensar na vida. Não que tivesse muito que pensar sobre ela. O que importa é que dava.

Depois de finalmente me conseguir levantar, fiz o que parecia estar mais ao meu alcance.
Sentar-me na cama e esfregar os olhos para ter a certeza que tudo se tratava de um sonho (um pesadelo, para ser mais exato) e que iria acordar a qualquer instante e ver que ainda estávamos nas férias de verão.

Uma voz familiar chamou-me do andar de baixo. Era a minha mãe dizendo para me levantar para não perder o autocarro.

-Bolas! - pensei.

Como era de prever, era a realidade. Uma realidade onde tinha de ir para a escola.

Fiz os possíveis (e os impossíveis) para me levantar da cama e conseguir pôr-me de pé para me vestir e descer para tomar o pequeno-almoço.

Escolhi meticulosamente a roupa que iria usar nesse dia, experimentando todas as peças de roupa e calçado, esperando até encontrar uma combinação perfeita.
Quem quero enganar? Peguei numa roupa qualquer que estava mais à mão no armário e vesti-me. E olhem que até estava giro!

-Scott! Despacha-te! Faltam 5min para o autocarro chegar!

-Já desço, mãe! - gritei-lhe enquanto calçava as minhas Nike Air totalmente brancas. Adorava aquelas sapatilhas. Se alguém se atrevesse sequer a respirar para cima delas era um homem morto. Limpava-as tantas vezes ao dia que lhe perdia a conta.

Acabo de atar os atacadores das sapatilhas e pego nos livros que permaneciam num sossego eterno em cima da minha secretária para os enfiar na minha mochila que permanecia, também ela, num sossego eterno sem que se mexesse um centímetro, pois nenhuma força foi aplicada nela até então (mentira, porque num corpo, mesmo em repouso, atuam sempre duas forças, mas que se anulam uma à outra, ou seja, a força resultante é nula, fazendo com que o corpo continue em repouso. Conclusão? Nada disso importa aqui.)

Peguei no caderno de Inglês e no manual do mesmo em conjunto com o de matemática e meti tudo na mochila.

-Bem, tenho Inglês, Matemática... E mais?... Hum... Ciências!...

Procuro rapidamente o meu manual de Ciências. O caderno era partilhado com a disciplina de Inglês, ou seja, já estava na mochila. Não sabia era do manual.

Procurei o mais rapidamente possível, pois o tempo não me favorecia de maneira alguma. Vi na secretária, debaixo dela, debaixo dos lençóis da minha cama, que, mesmo sabendo que não estava lá, ainda me dei ao trabalho de ver.

Tentei concentrar-me e pensar onde tinha deixado o manual. Consegui ver uma imagem meio desfocada do manual num sítio escuro, com uma t-shirt por cima a dizer New York.
Abri os olhos e fiz o mesmo com a porta do meu armário. Avistei a t-shirt e levantei-a. Mal a tirei do sítio onde permanecia há já algum tempo, vi o meu Manual de Ciências.

-Vou assumir que tudo isto foi completamente normal - murmurei, sem saber que isto foi muito mais normal que tudo o resto que aconteceu a partir daí.

Meti o manual de Ciências na mochila e fechei-a, já me direcionando para as escadas para ir para o andar de baixo tomar o pequeno-almoço.

Olhei de rompante para o relógio, vendo quantos minutos ainda tinha a meu favor antes do autocarro parar na minha paragem e não ter intenção de esperar se eu não estivesse lá a horas. O meu relógio marcava as 07:30, ou seja, o autocarro deveria estar mesmo quase a chegar à paragem.

Scott MillerWhere stories live. Discover now