Pirate!

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Uma chuva torrencial caía em Londres; Pingos gélidos de água entravam pela a janela entreaberta do flat, atingindo o detetive que estava sentado na sua cama, pensativo. O sol escondia-se por detrás das nuvens escuras, e o frio já entrava sem avisar, como um velho amigo íntimo. Nenhuma pessoa era vista pelas ruas da grande cidade, e a calmaria era tanta que chegava a incomodar o cacheado: Nenhum caso. O tédio pairava, chegando tão rápido quanto o vento lá fora, e sendo tão forte quanto este. Todavia, isso estava longe de ser a coisa que incomodava Holmes. Naquele momento, o que o incomodava não era a calmaria londrina, que em outros tempos o faria rapidamente. Naquela hora, o que o incomodava era o de sempre nesses dois longos anos: A falta de alguém em sua cama. Não só qualquer alguém, porque aquele vazio não poderia ser preenchido por ninguém que não fosse ele. O motivo de Sherlock estar tão quieto naquele momento era a saudade.

Porque ele queria dormir ao lado de John, e isso era tudo o que queria fazer agora.

Tampouco importava os trovões lá fora, o frio quase congelante, ou o vento forte que adentrava seu quarto. Não era como se aquilo fosse algo que merecesse sua atenção. O que ele fazia era visualizar uma cena que tanto gostava. Abrindo os olhos naquele momento, podia enxergar aquilo de novo, como se a cena estivesse se passando novamente diante dos seus olhos, com todos os mínimos detalhes. Ao lado do seu corpo sentado na cama, estava a si mesmo, deitado sobre o peito de um John Watson dois anos mais novo. A porta abria-se apenas para revelar um Matthew, menor ainda, com os cachinhos bagunçados e olhar assustado. Os olhos do Sherlock de dois anos atrás abriram-se para acompanhar os passos leves que seu filho dava até a cama.

"Teve um pesadelo?" John praticamente sussurrou, com a voz rouca devido o sono.

Matthew balançou a cabeça positivamente, com os olhos quase transbordando o medo que sentia. Isso fez Sherlock arrumar-se na cama, dando espaço para que o pequeno se deitasse entre os dois.

"Pesadelos não são reais, Matt." Holmes dizia, enquanto o garoto deitava-se entre o casal. "Você sabe disso."

"Há pesadelos que podem se tornar reais, pai." Praticamente sussurrava, sentindo a mão do cacheado afagar seus fios de cabelo, e um beijo ser depositado na sua testa por Watson.

"Não importa qual tenha sido seu pesadelo, Matt. Nós nunca deixaremos que nada de ruim se torne real para você. Prometemos isso." Watson dissera, fazendo um silêncio confortável estender-se, e logo os três já dormiam serenamente.

Sem dúvidas, aquela era uma das mais doces lembranças de Sherlock, e que ele gostava de rever incontáveis vezes. De fato, sua família era muito feliz antes de John fazer aquilo e estragar tudo. Apenas tolos se apaixonam por John Watson. E com isso, Sherlock conseguiu ter a plena certeza de que era e sempre seria um tolo, porque era apaixonado por John e sempre seria, mesmo depois de tudo o que ele tinha feito no passado.

Logo aquela cena não era mais visível aos seus olhos, pois foi retirado do seu transe bruscamente, quando aquela voz soou, chamando-o. Talvez os ouvidos de Holmes estivessem o enganando, afinal, qual era a probabilidade de John estar ali, o chamando, em um dia em que normalmente não faria visita ao seu filho? Bem, talvez ela fosse pequena demais, mas ainda sim existia. Os olhos claros do detetive desviaram-se rapidamente para a porta, vendo o loiro parado lá. 

- John? Por que está aqui? O seu dia de ficar com Matthew é amanhã.

- Bem, Sherlock, Mrs Hudson me chamou. - O cacheado percebeu uma certa relutância e preocupação vindo do seu ex-marido, o que o fez ficar alarmado. - Eu não sei como dizer isso porque, bem, conhecendo você do jeito que conheço, sei que não vai ter uma boa reação e...

Our Bond - JohnlockOnde histórias criam vida. Descubra agora