Parte 4

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5 dias se passaram mais rápido que eu imaginava. Depois que levei Alice para Casa ela me ligou umas 3 vezes. Ficamos conversando horas e horas. As madrugadas, que antes eu dormia, eu pensava nela. Combinei com Alice de pega-lá na escola, almoçar na casa dela e passar o resto da tarde com ela. Acabei acordando em cima da hora. Sair da cama e fui direto tomar banho. Nem comi nada. Peguei meu skate e fui para escola dela. Quando cheguei os alunos já estavam saindo. Tentei localizar Alice. Até que a vi saindo de cabeça baixa. Com as mãos no bolso da blusa de frio. Estava de cabelo solto. Ela me avistou e abriu um largo sorriso e veio correndo me abraçar.

- E ai? -disse eu

- O que? -disse ela e riu

-Vamos passar no mercado, comprar as coisas para fazer o almoço. -Alice

-Ta bom. Como foi a escola? - Eu

-Normal. Gosta de lasanha?

-Amo.

-Ótimo. Vamos logo. -Ela pegou minha mão e começou a correr me puxando.

-Calma. Eu to velho para isso sabia.

Ela riu e parou.

-Ok. Vamos ir andando então.

-Agradeço. -disse eu respirando fundo.

Passamos no mercado. Ela pegou mais algumas coisas que precisava para casa. Ajudei ela com as compras.
Chegamos na casa dela. Entramos. Fiquei na sala esperando ela tomar banho e se trocar. Era simples a casa. Mas bem arrumada. Meio rústica. E parecia não ter muitos cômodos.A mãe dela ainda estava internada. Hoje o irmão da Alice ia ficar  no hospital com a mãe. Por isso Alice estava "livre" vamos se dizer.

-Vem. Vamos para a cozinha. -Alice me chamou.

Segui ela. A cozinha ficava depois  da sala. Era maior. Tinha uma mesa pequena no canto. Onde caberia uma mesa bem maior. E um balcão em volta de toda cozinha excerto perto da mesa. O balcão era de madeira, não de granito. Embaixo e em cima com armário.

-Mão na massa. -Disse Alice tirando as compras da sacola.

Ajudei picando a cebola. Porque não sou muito bom na cozinha. E ela ficava me expiclando como se fazia uma lazanha. Terminamos de montar e colocamos no forno. Enquanto não estava pronto ajeitamos a "bagunça" que fizemos na cozinha.

-Já deve tá pronto. -Alice disse olhando o forno.

Fiquei observando enquanto ela tirava a forma e colocava na mesa. Depois pegou os pratos e talheres. Alice estava com o cabelo para trás amarrado desajeitadamente. Com uma calça de moletom. E uma blusa sem manga. Mas tinha curativo envolvido nos dois antibraço. Não quiz perguntar o que era. Como ela consguia ficar linda mesmo desarrumada?

-Vamos comer. -ela disse sorrindo e se sentando. Fui me sentar com ela também.

-Olha só. Você sabe conzinhar. Ta muito bom isso aqui. -falei sorrindo pra ela.

-Nossa lazanha é coisa mais difícil se fazer né. -com tom irônico ela disse

-Não é não?

Ela  abaixou a cabeça. Fez que não e deu uma risadinha baixa.

-Idiota.

Decemos para uma praça. Alice foi de patins e eu com meu skate. Era um dia nublado. Não sei se era minha impressão, mas parece que o dia resolveu ficar mais bonito. Andamos na pista que tinha lá.

-Quer trocar? -Alice perguntou parando na minha frente.

-Ah.. Não.. To afim de cair não..

Ela riu.

-Você não vai cair. Vamos.

Coloquei os patins. E pra falar a verdade não queria ter levantado. Alice me ajudou, ficou me segurando pra garantir que eu me equilibrasse. Então ela me soltou, não andei nem um metro direito e já cair. Fiquei tentando me levantar sozinho mas não tive sucesso. Eu escorregava e caia de novo. Alice riu por um tempo, do mico que eu estava pagando, e depois foi me levantar. Eu realmente não planejava isso. Tava mais afim de ver ela caindo, dando bobeira com o skate e eu rindo da cara dela. Não ao contrário. Mas enfim. Ela tava sorrindo e isso valia qualquer queda. Mesmo que não faça sentindo. Depois de muito tentar aprender a andar de patins e não conseguir, desistir. Comprei milk shake para nóis. Tinha uma sorveteria perto da praça. Me sentei e fiquei olhando Alice andar de skate. O legal é que ela sabia andar. Não caiu nenhuma vez. Só eu passei vergonha mesmo. O fim da tarde já chegava.

-Será que pode ir lá no hospital comigo. Da uma olhada na minha mãe? -Alice disse vindo até min

-Hum. Sim.

-Vamos então.

Fomos para o hospital a pé mesmo. Era um pouco distante. Chegamos lá e a mãe dela estava dormindo. Estava com o rosto magro e parecia que o sangue não corria mais em suas veias, estava sem cor, tinha um lenço azul na cabeça. Sentamos em umas cadeiras que tinha no quarto. A expressão do rosto de Alice mudou. Não para triste. Para preocupada. Como se não pudesse fazer nada a respeito.

-Cada ano que passa as coisas só pioram. -Alice disse olhando para sua mãe.

Fiquei calado olhando o rosto de Alice tentando ver se ela falava da mãe ou da vida mesmo.

-Há três anos perdir meu pai e minha irmã de 15 anos em um acidente. Estavam voltando pra cá. Depois dela curti um pouco o aniversário em outra cidade. Lembro que implorei a ela que ficasse. Dei um abraço demorado nela e em meu pai. -Alice deu uma pausa. -Depois só os vi no vélorio. Meu herói todo machucado deitado, tão sensível. E meu maior exemplo, a menina que eu achava ser a mais linda, com o rosto cheio de pontos mais vulnerável ainda. E agora minha mãe aos poucos morrendo.

-Sinto muito -eu disse sem saber direito o que as palavras significaram naquele momento.

Ela fez que sim. -Leucemia. Diagnosticaram no início do ano passado. O tramento parecia estar funcionando. Mas agora... As hemorragias estão sendo frequentes. E ela caiu, bateu a cabeça, deu um pequeno derrame. Conseguiram salva-la, mesmo assim estou tão só, tenho que lutar sozinha contra tudo.

Entrelacei meus dedos nos dela.

-Não mais.

Ela olhou pra min com olhos cheios de lágrimas. Olhei nos olhos dela e vi que no fundo eles pediam ajuda, vi a confiança dos olhos dela nos meus. Alice dizia só pelo olhar tanta coisa, me agradecia e se sentia segura. Ela não precisava dizer nada eu já tinha entendido tudo. Não sei como. Mas de alguma forma conseguir decifrar cada palavra que seus olhos azuis encharcados com lágrimas, tentavam dizer. Ela deitou em meus ombros e ficou ali chorando baixinho, com a mão ainda encaixada na minha. Não sei quanto tempo ficamos assim. Uma enfermeira entrou na sala e foi conversar com Alice. As notícias pareciam boas pois de vez em quando ela sorria. Quando elas terminaram, Alice foi até a cama da mãe deu um beijo na testa dela.

-Amanhã eu volto para te levar para casa,tá mãe. Fica bem. Te amo. -ela disse para sua mãe, que ainda dormia.

Levei alice para casa. Ficamos o caminho todo sem falar nada. Já estava escuro. Chegando na casa dela nos despedimos com um abraço e sair de lá, Alice não disse nada e eu também não, ela ficou me observando ir. Olhei para trás algumas vezes e lá estava Alice em pé me olhando. A última vez que olhei conseguir ver o brilho do seu sorriso.

Em uma terça de madrugada, 12 dias depois de ver Alice, eu estava deitado pensando nela, confesso. Ela me ligou...

Inconsciente {Em Revisão}Onde histórias criam vida. Descubra agora