Intro - Ósseanofobia

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"Eu não estava pronta para despedidas, na verdade nunca pensei que você pudesse partir."

O osso dele sempre apertava meu peito quando a gente se abraçava.

O osso dele afundava meu peito feito lança quando atinge a carne viva. O estalo de dor em meio às batidas do meu coração surpreso. Eu achava que era a hora que eu me desintegraria em mil pedacinhos que se confundiriam com o piso laranja do quarto. Só quando ele me abraçava eu percebia o quanto ele era magro e estava ficando velho, e daqui a pouco ele não teria os mesmos ossos de ferro e nem a mesma força para me segurar.

O abraço dele era desajeitado, como um menino inexperiente em dar carinho porque desloca a mesma força que usaria em um soco. E estufava o peito como se estivesse pronto para guerrilhar. E talvez estivesse.

Para nós o afeto sempre esteve muito próximo de um principio de dor. Em um cuidado para não demonstrar demais e não saber o que fazer com isso. Em não passar do ponto exato em que a gente ainda continua sendo a gente: sozinhos. Porque eu não poderia te abraçar e perder todas as minhas partes. Porque você não poderia me abraçar e perder todas as suas partes. Então em alguns abraços sobrava um espaço nunca preenchido. Um corredor de possibilidades nunca ameaçadas.

Já faz um ano que o osso dele não aperta mais meu peito. Mas eu ainda sinto o estalo me incomodar.

EufemismoOnde histórias criam vida. Descubra agora