Converse com o que dói em você.
Eu não tenho sido minha melhor companhia.
Deitada olhando para o teto, me perguntando como deixei tudo chegar a esse ponto. Onde foi que me perdi de tal forma, penso até na hipótese de pendurar cartazes com a minha foto em busca de mim mesma por mais banal e infantil que pareça, crescer tem sido doloroso. O que é muito irônico, já que ao assopras as velas tudo que se passava em minha cabeça era este momento. Eu e a famosa independência. Deveria ter buscado entender mais sobre a historia de Peter Pan, pois agora ela me faz muito sentido. Tento me lembrar do momento exato em que o merthiolate parou de arder, como se eu tivesse vencido o medo e um machucado ou arranhão já não fosse prioridade, quando foi que meus pulmões começaram a sentir o peso da idade e as olheiras decidiram fazer morada sob meus olhos. Ou então quando foi que abandonei de vez todos os meus brinquedos, minha imaginação costumava ser fértil. Por que abri mão dos meus finais de semana em frente a televisão com meus desenhos preferidos . É muita burrice da nossa parte achar que o melhor da vida começa a partir do momento em que podemos fazer o que bem entendemos.
Nunca entendemos o que fazemos.
Meus amigos não querem mais sair comigo. E eu entendo todos eles. Eu também não me levaria para jantar. Eu não me pagaria uma cerveja, nem ao menos um pingado na padaria mais próxima. Eu não dividiria um lugar no ônibus para não correr o risco de ser meu ombro-amigo. Eu não perguntaria "o que foi?" para não ouvir nenhum principio de desabafo cansativo e regado de culpas e sofrimentos. Eu também não suporto os neuróticos. E todas as facetas, e vícios, e pseudo piadas que não valem uma preciosa noite de folga. Eu não me daria um colo para chorar. Porque sei que – ao supor pelas últimas crises e pela grande ausência – não ter um corpo que aguente a minha massa. A minha falta de certeza em tudo que faço. O meu querer compulsório e a minha indecisão. Meu desejo instantâneo em tudo que parece me afundar cada vez mais, como se eu já não fosse capaz de fazer isso sozinha. Minhas paranoias com a rotina por passar metade do dia pensando no que fazer dele, sem por nada em pratica. Por isso eu entendo que os telefones tenham ficado mudo de repente, e as portas permanecerem fechadas. É de se compreender todas as idas e vindas. Eu só queria que fosse fácil comigo também. Não existe um jeito para mudar de si mesmo e só voltar quando tudo estiver no eixo. Não existe um jeito de fugir de si.
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Eufemismo
Teen FictionNão importa a direção que o vento sopra e para quão longe ele leve algumas coisas, algo sempre permanece dentro de nós como uma marca, mesmo quando a pessoa que se foi não teve a mínima intenção de deixar cicatrizes. E como cicatrizamos?