Ele havia me dado uma carta, acabei ignorando os tiros que acabava de ter dado e abri a carta que dizia:
Maria, se está recebendo essa carta é porque estou morto. Não chore, deixei no porão da minha casa o dinheiro que juntei em 10 anos. Compre uma passagem para a América, vá a Nova Iorque, encontre lá uma casa amarela com hera nos muros. Minha tia reside lá.
Quando essa guerra acabar, eu só te peço uma coisa: Viva todo dia como se fosse o último.
Assinado: Seu Querido Hans
Senti naquele momento, em minhas mãos, que tinha um tesouro que deveria ser entregue.
Logo depois, conduzi Otto e Andrzej, até o prédio. Eu e o francês, armados e Andrzej com pedras caso fôssemos desarmados. Mal pude ver a noite cair, estava agoniado, com uma carta, um fuzil, um homem que não conseguia se comunicar e um menino órfão. Ficamos um dia sem comer e sem dormir.
Já pairava o dia 3 de setembro e Andrzej não parava de me implorar por comida. Naquela madrugada, eu e Otto fizemos turnos, mas eu tinha certeza que ele tinha dormido enquanto era o dele.
Logo pela manhã, tive de ir buscar algo para comer. Levei o fuzil comigo, caso houvesse problemas. Finalmente achei uma padaria meio abandonada, havia alguns pães amanhecidos, tratei de pegar o máximo que pude.
Quando estava quase saindo da padaria pude ouvir o sargento e o Capitão entrando. Estavam conversando novamente:
–A Polônia inteira dominada, mas a França e a Inglaterra acabam de anunciar guerra, Capitão! – disse o sargento.
–Não faz mal, o Fuhrer está tendo planos para atacar outros países e planejar a própria queda desses idiotas! – disse o homem, com desprezo com aqueles países. Eu tive certeza naquela hora, que havia começado a Segunda Guerra das Guerras.
Ao voltar para o prédio não falei nada, Andrzej estava ensinando Otto a falar Alemão. Os dois ficavam em um canto rindo daqueles erros que ele cometia enquanto eu ficava em outro, torcendo que tudo aquilo fosse um sonho, talvez fosse apenas isso, ou talvez estivesse a vir milhões e milhões de mortes.
–Você está bem? – perguntou Andrzej
–Sim, sim, não se preocupe! – eu disse.
–Não me diga que...
–Sim, eles anunciaram a 2ª Guerra Mundial!
Os olhos de Andrzej encheram-se de lágrimas, tentei consolá-lo, mas o menino não parava de chorar. Disse que iria levá-lo para um lugar seguro. Ele se animou, mas de tempo em tempo uma lágrima caía. Eu e Otto começamos a traçar estratégias. Comunicando-nos através de gestos, mímicas e algumas palavras quase indecifráveis concordamos que poderíamos roubar um veículo e fugir para a União Soviética. Mas antes tínhamos que arranjar algo para comer. Estávamos sem dinheiro. Havia, ali próximo, uma espécie de mercearia, local onde se vende de tudo. A ideia era adentrar ao recinto e "roubar" algum mantimento, principalmente pão, mas aquela passagem estava trancada. Plano descartado. Ele ainda teve a ideia de ir pelo norte e roubar um navio, mas seria muito arriscado. Novamente plano descartado. Não poderíamos ir pelo sul porque iríamos encontrar os aliados da Alemanha e teríamos mais um mar para atravessar, por isso nos restou apenas um plano, ir pelo oeste, enfrentar a Alemanha, chegar à França e pegar o primeiro navio ou avião para a América.
Depois de passado mais algum tempo, pudemos observar que passava um jipe militar de dois em dois dias para uma revista completa. No dia 7 de setembro o soldado que dirigia o jipe parou. Um soldado que ficava atrás disse:
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O RESISTENTE
Historical FictionNick Brunner tem todos os motivo para odiar um forçado intercâmbio na Polônia. Tudo Piora quando ela é invadida. Agora Nick terá de fazer de tudo para sobreviver a uma guerra que ficará na história