Morgana e o Big Bang

Parte III

Levantou e foi para fora do quarto enquanto amarrava seu vestido, seu cabelo estava bagunçado e faltava um dos seus sapatos. No final do corredor Rabin estava sangrando, pedindo por socorro. Ela correu até ele.

— O que está acontecendo?

— Seu namoradinho tentou me matar, ele está descontrolado. — O sangue escorria por sua cabeça, a pancada tinha sido forte. Por milagre ou apenas azar, ele havia sobrevivido. Só não sabia por quanto tempo.

Ela desamarrou ele — Se você tentar fugir. Eu juro que cancelo essa maldita aposentadoria e te caço por todos os cantos e planetas. — Pegando ele pelos braços, juntando seus olhares, como a forma dela passar medo. — E eu estou falando muito sério.

— Ok, capitã. Agora me deixe lutar pela minha vida.

Ele corre para os fundos da nave, já Morgana pegou uma das armas no compartimento do corredor e foi em direção a cabine de comando. Seus passos estavam lentos, sua cabeça rápida, pensamentos que não paravam de vim, buscando em si explicações para o que acontecia diante de seus olhos.

Chegando na cabine, Sabrina e Karina estavam mortas, caídas pelo chão e cobertas de sangue. Na cadeira de comando estava Felipe, levando a nave para um planeta que ela nunca havia visto em suas viagens. Pensou no que faria, mas não conseguia chegar a uma conclusão. Quem era aquele que estava ali? Seu marido nunca faria isso.

— O que você fez?

— Calma, amor. Estamos indo para casa.

— Essa não é a nossa casa, e você saberia disso. — Ela apontou sua arma em direção a cabeça dele e se aproximou lentamente. — Quem é você? Pare essa nave agora.

— Ou o que? Vai matar seu marido morto? — Eles estavam chegando ao planeta. Prontos para pousar.

Morgana estava sem reação, ela nunca havia se sentido tão impotente e tão insegura antes, esses sentimentos a lembrava de sua infância, aonde seu corpo frágil passava por torturas de quem deveria amá-la. Agora a história se repetia da forma mais dolorosa possível.

A nave então pousou e Felipe se levantou. Passou pelo sangue das companheiras de Morgana, meninas promissoras, mas que agora encontravam na morte uma glória ridícula de quem tem tudo para dar certo e vê seus sonhos serem estraçalhados por quem não se importa.

— Aonde você está indo? — A arma continuava apontada, mas nenhum tiro saia. Seus dedos estavam duros e ela não conseguia controlar seu corpo.

— Venha, querida. Vamos para nosso refúgio. — Ele estendeu a mão direita em direção a ela, esperando que ela o acompanhasse. No reflexo quase cego, Morgana atirou em sua mão estendida. Ele riu. Não saia sangue, apesar do buraco da bala estar visível. — Vamos, não temos muito tempo.

Ele tirou a arma da mão dela e jogou ao chão. Puxando ela pelo braço foi para fora da nave. Estava tudo vazio, branco como neve, mas sem ser gelado, não tanto quanto a pele dele era. Ao pisar no chão, sentia que aquilo era uma das mais finas areias, de um deserto branco e calmo. Como nuvens.

Em um momento de epifania, ela correu, em direção a nada. Ele ficou parado a observar, sabia que dali não poderiam mais sair. Ela correu por sua vida. A areia não machucava seu pé que estava sem um dos sapatos. O clima era seco, mas não fazia calor. O Sol estava ali, mas não aquecia. A Lua estava distante. A noite não traria paz.

Ela ficou de joelhos, cansada de correr.

— Não temos como fugir. Não mais. — Felipe estava ao seu lado, de pé.

— O que está acontecendo? — Pela primeira vez desde a morte de Felipe, lágrimas saia de seus olhos. Ela havia prometido ser forte para sempre. E ela estava sendo. Ser forte também significa sentir.

— Você não vê, minha querida? Você veio para a luz me encontrar. Sua nave virou pó junto a todos vocês quando chocaram naquele asteroide. Um pequeno big bang, o nosso big bang, que deu vida ao nosso reencontro. — Ele se aproximou do rosto dela, com as mãos geladas sobre a pele, tão próximo que o corpo de Morgana parecia entrar em uma grande geladeira — Estamos todos mortos. Você pode descansar agora.