Capítulo 1

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— Traz mais uma rodada, garçom!

Olho aterrorizada para o grupo de amigos bêbados sentados na mesa ao meu lado e repreendo-os. Apesar da nítida diversão entre eles, era óbvio que a noite de muitos estava sendo arruinada graças às suas piadas ridículas e seus flertes descarados.

Se não fosse pelos berros estridentes, minha noite estaria sendo mais produtiva.

O bar estava um pouco movimentado, mesmo que o frio na cidade tenha atormentado muitos nas madrugadas dessa semana. A música soava em um volume médio, o que seria ótimo para saborear a bebida quente entre minhas mãos, mas o grupinho de adolescentes insistiram em cantarolar cada parte da letra em um coro desafinado. Eles com certeza eram o motivo de eu odiar ter saído de casa em pleno dez graus celsius.

Aliás, eu realmente não sabia o motivo certo de estar ali, sentada sozinha em uma mesa de um bar velho, rodeada por uma baderna irritante de hormônios e com a cabeça repleta por preocupações que eu poderia estar resolvendo. Na verdade, era difícil que eu tivesse o desejo de participar dessas coisas, de sair repentinamente do meu quarto, sem ter finalizado minhas obrigações na faculdade. Mas hoje um ímpeto de eletricidade me disse para abandonar o posto de boazinha e me aventurar sozinha ao lado de uma vodka e três cigarros. Era algo que eu precisava provar a mim mesma para ter certeza de que eu não era uma simples garota que as maiores aventuras vividas aconteceram na infância. Então eu saí do campus da Universidade e vim parar em um bar próximo, a fim de desfrutar de um ambiente atípico.

Não era ao todo mal, mas aqueles pivetes realmente arruinaram minha experiência.

Depois de engolir mais uma copada de vodka e tragar o último cigarro, fui até o balcão do barman e pedi a ele uma garrafa. Uma que eu poderia desfrutar a noite inteira no chão do meu quarto sem que um bando de desconhecidos estragassem totalmente o meu momento.

Ele entendeu bem o meu pedido e não hesitou por sorrir várias vezes para mim, como se soubesse das minhas intenções.

Revirei os olhos e sentei no balcão para esperar que ele trouxesse o meu pedido. Eu estava sozinha na área do barmen, já que as outras pessoas dançavam em uma pequena pista de dança improvisada no meio do salão. O cheiro que rodeava o lugar já não era mais o da neve da noite passada, agora havia impregnado uma mistura de ervas com essências de limão de algum cigarro eletrônico.

Remexi-me no banco com impaciência, esperando loucamente que o barman voltasse com a minha garrafa.

Um rapaz sentou-se de repente no balcão junto a mim, em um banquinho a uma distância grande de onde eu estava. Ele pediu sua bebida para uma garota que também atendia ali e tomou-a de uma vez só sem emitir uma única expressão, diferente de como eu insistia em fazer todas as vezes que o amargo do álcool passava pela minha língua.

O homem de aparência jovial, no entanto, séria, tinha o cabelo castanho e uma pele branca que destacava o vermelho rubro de sua boca. As sobrancelhas estavam curvadas enquanto encarava o copo vazio a sua frente, me impedindo de descobrir qual era a cor dos seus olhos.

Quando percebi que eu estava parecendo uma maluca encarando muito um desconhecido, desviei minha atenção no mesmo momento em que o cara voltou com a minha garrafa.

— Cuidado, princesa, isso faz a gente esquecer as coisas.

Mordi a língua para não retruca-lo em um tom cruel e me levantei do banco.

Senti que o homem ao meu lado agora me encarava fixamente, ocasionando em uma queimação esquisita na minha pele. Eu reprimi o desejo de manter contato visual com ele e me retirei do estabelecimento sem olhar para trás.

Diferente da estupidez que acontecia lá dentro, tudo estava calmo do lado de fora, me trazendo um conforto muito maior do que eu poderia imaginar. Com a minha garrafa de álcool em mãos, sai andando pelas ruas da cidade sem me preocupar com os perigos que poderiam estar a espreita.

No momento, a única preocupação que cruzava a minha consciência era se eu seria capaz de ficar bêbada pela primeira vez na vida com essa vodka maldita. Das outras vezes desisti no meio do processo, sem paciência para aguentar a tontura e o enjoo na boca do estômago.

Mas se todos insistiam em ficar bêbados todos os feriados, era porque algo de bom poderia sair disso.

Atravessei uma rua vazia e caminhei até o bairro em que se encontrava meu alojamento no campus. Meus instintos diziam que eu estava sendo seguida ou observada, porém eu ignorei-os com facilidade, sabendo que minha vida era desinteressante o suficiente para que os males me assombrassem.

Morar em apartamentos universitários não era nada confortável, principalmente quando você não tem privacidade ou um ombro amigo no qual poderia confiar fielmente. As despesas apertavam no fim do mês e a sensação de estar perdida entre tantos jovens adultos poderia ser desesperadora.

Qualquer um que estivesse no meu lugar desejaria morrer, já que as dividas não paravam de chegar no meu endereço.

Coloquei a garrafa de vodka na mesa da cozinha, tomei um banho longo e deitei no sofá para ver um seriado. Eu iria buscar o álcool para que começasse minha pequena festa, mas o sono foi maior e eu já estava inserida na escuridão acolhedora que ele me oferecia.

Meu Querido Chefe [harry]Onde histórias criam vida. Descubra agora