Faz cerca de dez anos que eu terminei o colegial e tudo está dando muito certo para mim.
Nunca fui um aluno exemplar, pelo contrário. Sempre tive diversos problemas comportamentais, déficits de atenção, era contrário ao ato de abrir apostilas e estudar e quase repeti todos os anos do colegial. Evidente que, na época, ser um péssimo aluno significava que eu não teria um futuro bom. Me lembro, também, que a pressão para fazer faculdade era enorme no fim do terceiro colegial. Colegas, direção, família e corpo docente não falavam sobre outro assunto, como se todo o futuro dependesse exclusivamente disso. Essa exaltação quase religiosa é uma pressão idiota e completamente inútil.
Faz dez anos que saí dessa merda e, hoje, percebo que realização pessoal e felicidade não está, de forma alguma, relacionada exclusivamente à vida acadêmica. Essa lavagem cerebral toda me enojava e, após uma década, consigo fazer uma analise mediana sobre isso tudo:
Primeiramente, definir se uma pessoa é melhor que a outra apenas pela forma com a qual ela consegue perder dias decorando textos (ou fazendo colas) para responder provas simplistas é ridículo. Nem quero entrar em méritos de linhas educacionais ou como os tempos mudaram e, em plenos anos 2000, ainda usarmos um método educacional quase MOBRAL com educadores ainda sem entender como devem educar em plena Era do Conhecimento, sendo que esta já está em decadência e nos encontramos no inicio da Era do Conceito. Só gosto de ressaltar que essa pseudomeritocracia é falha, promove alienação e não ensina. Se o objetivo é educacional, hoje, esse método é falho.
Outra grande babaquice da época é a necessidade da vida acadêmica. Afinal, só é possível ter um futuro bom, se houver uma vida acadêmica associada. Como se não houvessem bilhões de pessoas que nunca entraram em uma faculdade, conseguiram ter uma família e viver suas vidas normalmente e em paz. Parece, inclusive, que cursar uma faculdade está, de alguma forma, relacionada com a índole e moral do indivíduo. Em resumo, fica implícito na época do colegial, que a pessoa que ingressa no ensino superior é um ser humano melhor que os não ingressantes. Claro que essa ideia imbecil não é transmitida com todas as palavras e descaradamente, mas é uma alienação injetada nas veias aos poucos, no decorrer de anos.
Enfim, não tenho absolutamente nada contra quem opta por seguir uma vida acadêmica e/ou científica, mas sou absolutamente contra a pressão que é imposta durante o período do colegial. Conheço pessoas que mal sabem escrever corretamente em português e são formadas no ensino superior (na mesma faculdade pública que cursei, mas jubilei por preguiça) enquanto conheço pessoas geniais que nunca sequer pisaram no ensino médio. E os mesmos exemplos discrepantes podem ser encontrados em condutas éticas e respeito ao próximo.
De forma alguma inteligência e respeito estão associados à enxurrada burra de ideias que foram vomitadas em nós no colegial. A escolha de fazer faculdade, pós-graduação, mestrado, doutorado e outros níveis acadêmicos é uma escolha pessoal e depende de vocação. É ridículo martelar na cabeça de um adolescente que a felicidade dele será proveniente de níveis educacionais. Cada um tem sua forma de ser feliz e ponto.
Cabe, aqui, uma frase de um gênio que odiava a escola e nunca cursou ensino superior:
“Eu prefiro ser essa metamorfose ambulante do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo”
(esse texto foi publicado por mim no blog www.redutobrainstorm.com e outros textos meus e de colegas podem ser encontrados lá)