#São Paulo/ Lisboa, 2004
Me levantei às 4h da manhã, para chegar na fila às 5h, esperar pela distribuição de senha às 8h e ser atendida por volta das 11h30. Assim funciona(va) o Serviço de Estrangeiros de Fronteiras, mais conhecido por SEF, em Portugal. Eu tinha dado entrada no processo de visto por união de fato há 1 ano e ainda não tinha recebido qualquer resposta do SEF sobre meu visto de residência para o país onde eu já estava vivendo, trabalhando e pagando impostos fazia quase 3 anos.
E eu que queria ver meus pais e irmãos. Para isso, precisava viajar para o Brasil. Para isso, precisava saber como entrar de volta se o meu visto anterior – por estudo – estava vencido. Para isso, precisava de orientação do SEF. E, para isso, às 11h45 de uma amanhã qualquer, perguntei à atendente mal humorada:
Resposta super objetiva:
– Depende!
– Do quê??!!! Não há variáveis na equação!
– Depende... – assim, com a maior naturalidade mal humorada.
Recapitulei:
– Com esse documento – vencido – eu posso ficar em Portugal?
– Pode! – categoricamente.
– Com os meus documentos brasileiros – RG, passaporte, CPF... – eu posso estar no Brasil. Fato. Então... eu posso ir e voltar, correto?
– Depende. – a essas alturas, com sono e confusa, queria esfolar alguém.
– Depende do quê? Se eu posso estar aqui e posso estar lá, o que acontece no meio do caminho que pode dar errado?
– Depende de quem te atender no controle de fronteiras na volta para Portugal. Ele que poderá te deixar entrar ... ou não!
– Mas os documentos são esses! Não há uma regra, lei, ordem, manual de normas, qualquer coisa?!
– Depende...
Viagem foi ótima, arrumei as malas, despedi de alguns amigos, dos meus irmãos e meus pais foram comigo até o aeroporto. Em Portugal, me aguardavam minha casa, meu namorado, meu emprego, minha vida.
Quase desmaiei. Preparei todo um discurso para a chegada em Portugal mas nunca imaginei que meu problema seria sair do Brasil: A companhia área não podia liberar meu vôo de volta, que do ponto de vista deles era um vôo só de ida, sem eu ter qualquer documento que comprovasse que eu podia residir em Portugal. E o A4 com carimbo oficial vencido não servia.
Inconsolável – parece brincadeira mas não é – minha mãe me levou para ver um filme para me distrair e, desatentas, acabamos na sessão de ! Chorei até pela Krakhozia.
Enfim, segunda-feira logo pela manhã começamos os telefonemas: com o trabalho tudo ok (tinha um chefe bem bacana), com o namorado desespero, com o que fazer dali para frente... haviam dois órgãos que, do meu ponto de vista, poderiam me ajudar a encontrar uma solução: SEF, ele de novo, e o Consulado Português em São Paulo.
No consulado a resposta, hoje percebo, foi óbvia: nós cuidamos dos interesses dos cidadãos Portugueses em São Paulo. Você tem que falar com o SEF em Portugal.
No SEF, a resposta foi.... peculiar. E demorou quase uma semana para chegar: "Claro, claro que podemos ajudar. Basta comparecer a uma das unidades do SEF em.... Portugal!". Não vou fazer comentários.
Malas, despedidas, aeroporto, check in, coração na mão, embarquei!
Mesmo com a passagem de ida e volta, passei o vôo apavorada com aquele depende assombrando minhas tentativas de dormir, ler ou assistir um filme.
Pousamos.
– Ó menina, até o mês passado você estava morando em Portugal e agora já está de volta. Por quê?
Tumtum, tumtum, tumtum, tumtum, tumtum... Pensa Renata. Pensa!
Joguei o cabelo para o lado, fiz olharzinho sexy, voz de tonta e quase me joguei em cima do balcão:
– Sabe moço, tô com uma crise! Eu morei aqui em Portugal uns 3 anos, sabe?! Aí, arranjei um namorado uma graça... Português mesmo! Eu gosto dele, sabe? Mas eu queria voltar para minha casa... e voltei, né? Então, olha só, ele me perguntou se eu não quero casar com ele!!!! Moço, não sei o que eu faço? Eu gosto dele, mas não sei se eu quero casar! Então, eu vim passar um mês com ele pra ver no que dá, sabe? Tô tão confusa... O que você acha?
Acho que ele carimbou meu passaporte só para se livrar de mim rapidamente. Ainda antes de me deixar ir murmurou por entre o bigode:
– Se for casar, não se esqueça de tratar dos documentos.
"A partir desse fato, passei a ter pânico de qualquer pessoa que me pede documentos por motivos oficiais ou legais. Em breve contarei mais histórias sobre o assunto."
Veja alguns dos motivos pelos quais, ainda assim, insisti em continuar vivendo em Portugal:
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Histórias de Viagem
Short StoryQuem não gosta de viajar? Eu amo!!! Pra mim, mais do que o lugar, os monumentos históricos, os restaurantes, os hotéis... O que marca mesmo cada viagem são as experiências que vivemos, aquilo que sentimos em cada descoberta, em cada conversa, em cad...