Arthur Scott não conseguia pensar em nada. É fácil sentir-se assim quando seu corpo está rolando descontroladamente sobre terra úmida até o fundo de uma cova. Eu deveria explicar como ele chegou ali ou por que ele estava caindo, mas não seriam informações muito úteis. Importante mesmo é saber que seu corpo rapidamente chocou-se contra o chão. E não doeu tanto quanto ele esperava. Na verdade, não doeu nada. Arthur estava apenas tendo um sonho ruim, como ocasionalmente tinha.
O garoto apoiou-se sobre os cotovelos e, em um rápido movimento, estava de pé dentro da cova escura. Já tinha estado ali inúmeras vezes. Sabia que aquele sonho acabava rapidamente, então se movia de maneira cada vez mais ágil para obter mais informações. Como sempre, encontrou Olivia Grace à poucos metros de distância. Ele quase sempre despertava antes de conseguir se aproximar da garota. Em outras ocasiões, algo mais legal acontecia, como um desmoronamento, e ele terminava engolido pela terra pegajosa. Apesar disso, Arthur tinha memorizado dois fatos importantes: Olivia era uma jovem extremamente bonita; Olivia estava com os pés enfiados na terra e os braços acorrentados às duas colunas ao seu redor.
Ao invés de acordar ou morrer em seu sonho, algo diferente aconteceu. Arthur ouviu, pela primeira vez, a voz de Olivia Grace.
— Salve-me — ela implorou. Sua cabeça continuava baixa e não havia nenhuma esperança em sua voz.
Um tremor aconteceu e Arthur quase perdeu o equilíbrio. Blocos de pedra deslizaram ao seu redor e ele já conseguia sentir seus pés afundando na lama. A garota ergueu a cabeça e seus olhos, negros como carvão, penetraram os de Arthur.
"Eu consigo", pensou ele.
O garoto deu um salto para frente, recuou quando uma pedra caiu diante dele, deu mais alguns passos e esquivou-se quando parte do teto desmoronou ao seu lado. Prosseguiu em seu trajeto mortal até alcançar Olivia. Seus olhos negros, tão surpresos e amedrontados ao mesmo tempo, olharam a face de Arthur outra vez.
— Arthur, como...?
— Também não sei. Mas preciso tirar você daqui.
Havia muita coisa que ele não sabia explicar. Ele nunca tinha visto aquela garota no mundo fora de seus sonhos. Nunca entendeu por que tinha aquele sonho recorrente ou por que tinha uma conexão tão forte com ela. Não sabia por que tinha conseguido chegar perto dela desta vez, já que o sonho encerrava antes de colocar qualquer plano de salvamento em prática. Contudo, ele tinha finalmente conseguido. Ouvir sua voz, checado. Chegar perto dela, checado. Não tinha alternativa além de tentar libertá-la.
Olivia esticou os braços para mostrar o tamanho das correntes.
— Não vamos conseguir — ela afirmou, encarando os fios de terra que desciam do teto acima deles.
— Vamos, sim! — Seus olhos fitaram as mãos acorrentadas dela.
As correntes terminavam fundidas em duas colunas de aço nos cantos da cova. Eles não conseguiriam quebrá-las.
— Precisamos da chave. Quem te prendeu aqui? Como posso te soltar?
— Não há tempo. — Houve outro tremor e mais pedras deslizaram, bloqueando boa parte do espaço por onde ele entrara e levantando muita poeira. — Não vai me tirar daqui assim.
— Olivia, concentre-se — ele pediu. Havia tanta adrenalina em seu corpo que ele nem percebeu que, inexplicavelmente, sabiam o nome um do outro. — Onde encontro a chave?

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Arthur Scott e os Anéis do Tempo
FantasyJustamente quando ele imaginava que a vida na escola não podia ser mais complicada, Arthur Scott descobre que é um bruxo e que um misterioso feiticeiro planeja matá-lo utilizando os quatro elementos.