Capítulo 8. - Visita.

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   Jass.
   Estou em uma sala, mais privilegiada do que meu antigo aposento. Tenho vista para toda Cidade da varanda. A Cidade, vista de cima, parece mais um labirinto circular, com suas ruas e casas padronizadas, porém, incoerentes com seu próprio padrão labiríntico. Seus edifícios, muitos já tocando as nuvens, são demonstrações de intenso planejamento. Sua estrutura como cidade, é impecável. Afinal, dominamos todas outras aldeias e cidades, por meio da Grande Guerra. 

   Já faz alguns dias que estou servindo a Elite. Não estaria mentindo, caso falasse que as vezes eu me pergunto se esse é o certo. As palavras que Marco disse, sempre ecoam em minha mente, fazendo companhia aos pesadelos rotineiros. "Jass está morto". Esse é o principal motivo para eu ter escolhido servir a Elite. Além de superiores, eles reconhecem quem sou. Me deram uma posição de mais alto prestígio aqui. Sou o líder de todos os guardas da Elite. Me presentearam com a melhor espada já forjada. Apesar de não ser muito eficaz em uma troca de tiros, em minhas mãos, é o suficiente para extinguir um batalhão inteiro. Minha vingança já começou, o primeiro a morrer, foi Túlio.
   - Jass? - A anciã Celestia me chama. - Pensando sozinho, novamente?
   - Sim senhora Celestia. - Digo, tentando desfazer a expressão de pensativo.

   - Você não está sozinho nessa Guerra. - Ela se aproxima, botando a mão em meu ombro esquerdo. - Sabe que o lado vitorioso está contigo.
   - Sim. Eu sei. - Celestia sempre me tratou bem desde que cheguei, mesmo como prisioneiro.
   - Vamos Jass, os nossos médicos querem testar algo em você. - Ela diz, se retirando do recinto.
   Dou uma última olhada no horizonte. O Sol, majestoso como de costume, ilumina toda Cidade. Saio do quarto, não ligo de haver guardas querendo me matar por onde quer que eu passe, afinal, devastei centenas de guardas iguais a eles. E além do mais, eu sou o líder deles agora, eles devem me respeitar, haja o que houver. Passo por dois corredores até chegar a sala designada por Celestia. É mais um laboratório. Além de Celestia, há mais um doutor.
   - Senhor Jass. - O homem fala. - Quero ter a honra de testar algo no senhor.
   - Portanto que não me mate. - Brinco. - Do que se trata?
   - Jass, você é um guerreiro ímpar quando se trata de habilidade. - O olho de Celestia brilha enquanto fala. - Queremos aprimorar isso.
   - Aprimorar? - Demoro para assimilar.
   - O senhor será invencível em batalha. - O doutor fala isso de uma tal forma que chega a me convencer. - Por favor, deite-se ali.

   Ele me conduz até uma cama tão pouco hospitalar. Tiro a camisa, por pedido dele, e deito.

   - O senhor poderá sentir alguma irritação epitelial nos primeiros instantes, então por via das dúvidas, será preso nessas correntes de metal. - Ele prende meus dois braços, um em cada lado do leito, em um tipo de algemas.

   - Fique calmo Jass. - Celestia ri. - Não iria arriscar perder meu melhor combatente.
   Respiro fundo. Tento padronizar meus batimentos cardíacos. Um. Dois. Um. Dois. O doutor pega uma seringa com um líquido azul oceânico, encosta na parte da pele onde minha veia se encontra, no meio do braço. Ele olha para mim, pronuncia algumas palavras, mas não entendo. Por fim, aplica o líquido na minha corrente sanguínea. Instantaneamente, não sinto nada. Minha visão parece estar normal, tão quanto minha audição. Depois de poucos segundos, sinto uma dor torrencial invadir cada músculo do meu corpo. Meus olhos ardem, como se tivessem derramado ácido neles. Meus batimentos cardíacos aceleram de tal forma, que sinto que se fosse possível, meu coração saltitaria para fora do meu corpo. Minha visão fica turva, logo, escurecendo, fecho os olhos. Caio em sono profundo.
   Não sei se estou vivo. Consigo, através do tato, identificar que estou em uma cama. Consigo identificar também, que estou recebendo algo em minhas veias, através de tubos. É estranho, mas consigo perceber cada parte de meu corpo trabalhando, como uma irrefutável máquina. Consigo mexer meus dedos do pé e da mão. Abro os olhos.
   - Olá, dorminhoco. - Celestia está sentada em uma cadeira ao meu lado.

   - Infelizmente, ainda estou vivo. - Ironizo. - Mas já que tenho esse privilégio, que tal me explicar o que houve?

   - Você recebeu uma dose do nosso soro aprimorador, e simplesmente apagou. Então pedi aos guardas que trouxessem você para esta sala de recuperação. - Capto cada palavra dela, e cada expressão facial, tudo nela. - Como se sente?

   - Sinto como se eu fosse capaz de destruir um exército inteiro em um piscar de olhos. - Não estou mentindo, me sinto de fato, invencível. - O que fizeram comigo?
   - Você é invencível agora Jass. Melhoramos seu potencial. Tanto físico, quando mental. Seus sentidos estão apurados. - Ela diz isso com uma certa empolgação.
   - Preciso sair. - Falo, retirando as seringas do meu corpo.

   - Onde irá?
   - Testar se estou de fato invencível. - Minha mente me redireciona a apenas um lugar. - Vou fazer uma visita à Void.
   - Tenho um presente para você. - Celestia pega uma roupa que estava ao lado da cama. - Vista.
   É um traje um pouco diferente. Continua sendo da cor branca, afinal, Celestia tem um péssimo gosto para roupas. Porém, é um manto. Um manto de assassino. Visto por cima das roupas já rotineiras.
   - Tem até capuz! - Ela diz, como se orgulhasse de uma criação.
   - Algo mais? Senhora de toda moda e presentes. - Implico.

   - Seu brinquedo, tome. - Ela me da minha espada. - Não esqueceria dela. Tenho certeza.

   - Não mande guardas atrás de mim. É apenas uma visita.
   - Certo... Uma visita não costuma ser acompanhada de morte, caos e destruição, senhorzinho Jass.
   - Acontece que, eu sou o caos.

   Saio do quarto. Estou indo à Void. Levo comigo, apenas minhas armas de combate: armas de fogo e minha indispensável espada. Por onde passo, as pessoas olham para mim. Não notei antes, mas vejo por um reflexo em dois vidros, que estou fisicamente mais forte, e no manto de assassino, há o símbolo da Elite. Uma chama caracterizada em três partes. 
   Estou saindo dos limites da Cidade, estou por conta própria agora. Ando por alguns longos minutos, até me aproximar do local que um dia, já foi meu lar. Meu antigo vilarejo. As marcas da Grande Guerra ainda estão por aqui. Não consigo sentir nenhum apego emocional a esse lugar, como se minhas lembranças sentimentais fossem simplesmente apagadas. Caminho por mais uns minutos. Chego ao Galpão. A Void está a apenas algumas ruas daqui. Não há guardas nesse horário. A lua, imponente no céu, faz o cenário ficar tão pouco que caótico. 
   Decido ir ao Lago. Quero tentar relembrar minhas raízes. Caminho com cautela, não sei o meu verdadeiro potencial, depois desse experimento. Vejo duas silhuetas à margem do Lago. Marco e Agatha, uma menina que vi poucas vezes na Void. Deve ter assumido algum posto importante.

   - Quem está ai? - A voz de Marco soa com um tom de medo.

   - Não se lembra de mim, amigo? - Me revelo, em meio a penumbra, porém, mantendo o capuz.
   - Quem é você?! - Agatha se levanta, junto com Marco, e ambos sacam as armas.
   - Vejo que já esqueceu de um velho irmão. - Retiro o capuz.

   - Não pode ser. - Marco parece horrorizado. - Jass... 

Rebellion - 1° Ato #CPOWOnde histórias criam vida. Descubra agora