Bianca, a líder das corredoras, havia marcado uma espécie de reunião com todas as clareanas após o jantar. Elas se reuniram ao redor de uma fogueira enquanto algumas murmuravam, outras bebiam e assavam marshmallows e outras esperavam, atentas e ansiosas. O clima começou a esfriar, e nós não tínhamos roupa de frio.
- Nós, corredoras, viemos notando coisas estranhas acontecendo no labirinto desde ontem. - Bianca disse, abrindo um mapa desenhado a mão. - Aqui, exatamente aqui - ela coloca o dedo sobre o local - Encontramos um verdugo morto ontem, e hoje, nesse mesmo corredor, mas 4 metros a frente, outro. - ela corre o dedo pelo mapa traçando o local.
- Isso é estranho... - Jane disse e em seguida tomou mais um gole do que estava tomando.
- O que são verdugos? - Nina sussurrou, me perguntando.
- É uma espécie de criatura que vive no labirinto... - Sussurrei em resposta
- ...e também, o ar lá dentro estava mais úmido. - Bianca aumentou o tom de voz, cortando minha conversa com Nina.
- Isso significa que o labirinto possa estar em um processo de expansão, já que ele tem sua própria dimensão, ele não vai parar de crescer nunca, e o fato de os verdugos estarem mortos sejam parte do processo. - Jane disse e em seguida jogou algo na fogueira, fazendo o fogo aumentar.
- Ou talvez todas estejamos perto do fim. - Bianca disse por fim, e levantou, saindo e sendo seguida pelas corredoras.
Entrego uma bebida para Nina.
- Elas são as corredoras e todos os dias, correm euforicamente pelo labirinto o mapeando. É difícil compreender isso tudo, mas... você acostuma. Nunca, em hipótese alguma entre no labirinto. Só elas têm a permissão. Uma picada de verdugo leva direto à loucura e em seguida à morte. - eu disse e sorri para ela.
- Isso é bizarro... eu consigo apenas lembrar meu próprio nome.
- Isso é normal. Aos poucos você começa a se adaptar a esse inferno que chamamos de clareira. - ri.
Eram 21:00. Toque de recolher. Todas caminhamos em direção aos dormitórios.
- Você pode dormir aqui. - Disse enquanto abri a porta de um que estava vazio. - Está novo em folha, foi construído esses dias. - Era perceptível por conta que tudo estava novo e brilhava. - Amanhã, todas acordamos às 5:30, você poderá escolher algo para se ocupar... e por hoje só. - Sorri, fechando a porta.
Nina tomou um banho e vestiu as roupas que lá haviam sido deixadas. Ela deitou e encarou o teto por um longo tempo, e finalmente caiu no sono, começando a ser atormentada por uma série de sonhos.
No sonho, Nina estava aprisionada numa espécie de tubo enorme — daqueles que se vê em filmes de ficção científica — cheio de água, com vários fios ligados a ela, respirando por um tubo ligado à boca. Ela teve dificuldade em abrir os olhos por conta da acidez da água. Ela os abriu finalmente e olhou através do vidro grosso, vendo um garoto preso em outro. Ela sabia que o conhecia, só não lembrava. Era alto, cabelos castanhos, pele clara e olhos verdes. Ele abriu os olhos e a encarou, e então sua voz dominou sua mente.
"Nina...você será a próxima, e por fim eu irei..."
Ela não conseguia pensar nada, e então outras vozes invadiram sua mente.
"CRUEL é bom." As vozes que eram várias diziam, e ela fechou os olhos com força, se encolhendo. O tubo que trazia oxigênio à seus pulmões, de alguma forma, parou de funcionar, e automaticamente ela começou a se afogar dentro do tubo que estava aprisionada. Ela começou a se debater enquanto soltava bolhas de ar pelo nariz. O garoto que antes se comunicara com ela, parecia estar inconsciente agora. Ele estava mais pálido do que já era e não estava respirando. Aos poucos Nina começou a perder a consciência, e percebeu que era apenas um sonho quando uma última voz sussurrou em sua mente "CRUEL É BOM", e ela acordou, assustada. Ainda estava escuro, e Nina levantou tonta. Ela caminhou até a janela e a abriu, encarando a clareira lá fora. O sol estava prestes a nascer, e ela olhou as corredoras que se posicionavam de frente aos portões que ainda estavam fechados.