Capítulo I

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Abro os olhos com pouca vontade mas tem de ser, dá para ouvir claramente a forte chuva a bater na janela do meu quarto conduzida por grandes rajadas de vento e assim podemos esperar mais um dia deste nosso mês de Novembro. Depois de lidar com o primeiro dilema do dia, "ir ou não ir à universidade? Eis a questão!", lá saiu de casa para começar este novo dia de estudante. Depois de chegar à universidade telefonei ao meu amigo João e fomos beber café para ver se arranjávamos energias para o dia. Como era costume a Patrícia chegou atrasada à aula e mais uma vez como era costume a culpa era da irmã Matilde, ou pelo menos era o que ela dizia, já Matilde nem sequer se dava ao trabalho de se defender. Com o decorrer do dia eu tentava ganhar coragem para começar uma conversa com a Matilde mas digo-vos que não correu bem. Já íamos na hora de almoço e eu ainda nem sequer me tinha aproximado dela e já me parecia mais um perfeito falhanço este dia, uma vez que desde que começou este ano eu tento conversar com ela mas o máximo que consegui até agora foram uns meros "bom dia", "boa tarde" nada de mais e eu quero conseguir manter uma conversa com ela mas sendo eu meio que envergonhado não ajuda em nada. E estes foram os meus dias até às tão aguardadas férias de Natal. Ultimo dia de aulas antes das férias e depois de lidar com o tal dilema mais uma vez eu tinha a certeza que iria ser hoje que eu ia ser homem o suficiente para começar uma conversa com ela, mas não se deixem enganar, passou mais um dia e o máximo que consegui foi um "boas férias". Este primeiro tempo de aulas tinha sido um total fracasso mas o pior ainda estava para vir porque nesse mesmo dia em conversa com a Patrícia descobri que Matilde tinha namorado, estava completamente arruinado.

Alguém me está a dar chapadas para ver se eu acordo, quando abro os olhos vejo que é Sara a minha irmã mais nova.

- Acorda mano, já é dia de abrir as prendas! – Disse ela toda entusiasmada.

- Eu sei Sara, mas deixa-me dormir que ainda são só nove da manhã. – Respondi eu.

- Não podes, o Martim já está à tua espera para irem buscar os avós à central de camionagem.

- Está bem, diz-lhe que já me vou despachar.

Assim começou este meu dia 24 de Dezembro.

Às dez já estava eu na central mais o Martim à espera deles os dois e nem 5 minutos estivemos à espera. Carregamos as malas no carro e lá fomos até casa. Quando chegamos o meu avô chegou-se perto de mim para saber se estava tudo bem, dizia ele que eu parecia mais triste do que nos outros dias e até tinha razão que eu bem sei mas com um sorriso meio forçado eu lá disse que era impressão dele mas pensei cá para mim, ele conhece-me mesmo bem. A casa já estava toda enfeitada, da cozinha vinha aquele cheirinho a bolos, doces e tudo ao que temos direito no Natal, na sala estava concentrada toda a atenção na grande árvore e o seu grande presépio, todas as suas fitas vermelhas, brancas, amarelas, verdes, azuis, todas as cores que podemos imaginar. Parecia mesmo um Natal calmo em família até que na hora de abrir os presentes eu desmaiei e só voltei a acordar 1 mês depois numa cama de hospital. Os médicos dizem que estive em coma durante esse mês mas eu sinceramente não sei o que se passou porque posso ter estado completamente apagado mas nesse mês inteiro não houve um único dia que eu não tivesse sido bombardeado com memórias que não pareciam minhas nem de ninguém da minha família, nem sequer pareciam ser deste mundo em que nós vivemos.

Uma semana depois e lá estava eu de volta à universidade e antes que eu pode-se dizer alguma coisa Matilde ofereceu-se para me emprestar todos os seus apontamentos da matéria que eu tinha perdido. Nem sabia bem como haveria de reagir a tal surpresa, é claro que por dentro estava a dar pulos de alegria porque iria ter uma desculpa para falar com ela mas também sabia que ela tinha namorado embora eu nunca a tivesse visto com ninguém, talvez não frequenta-se a mesma universidade ou nem sequer estuda-se. Passamos a tarde inteira juntos na biblioteca para eu tentar alcançar o resto da turma na matéria mas ela parecia-me mais interessada em saber o que me tinha acontecido do que me ajudar nos estudos. Talvez fosse só impressão minha, pensei eu. Por volta das seis horas da tarde despedimo-nos e cada um foi para sua casa. Quando cheguei a casa a minha mãe deu-me uma carta que tinha chegado para mim, rapidamente fui ver quem a tinha enviado e para espanto meu o nome escrito era António Oliveira Santos, esse mesmo, o meu avô paterno. Fiquei intrigado logo de início só porque ele nunca me tinha escrito, nem uma única vez, então aprecei-me a abrir o envelope e corri para o meu quarto para ler a carta.

"Meu querido neto, vejo-me na necessidade de te escrever esta carta porque já está na altura de saberes toda a verdade sobre a nossa família e não só. Primeiro preciso de te avisar sobre as pessoas que te possam tentar enganar, toma atenção com essas pessoas e não confies em ninguém. Há coisas no nosso mundo que só aparecem em filmes e lendas, pelo menos é o que o mundo pensa. A nossa família vem de uma linhagem de criaturas monstruosas, criaturas sedentes de sangue, penso que já sabes do que falo. Quando entraste em coma durante aquele mês inteiro foi a prova de que estás pronto para assumir o legado da nossa família. A família Santos e a família Nobre são as famílias de vampiros de sangue puro. Toma cuidado até eu chegar aí. Vejo-te dia 13 de Março."

Assim que acabei de ler a carta nem sabia bem o que pensar, vieram á minha cabeça milhares de perguntas mas de todas elas houve uma que mais confusão me fez, não era Nobre o sobrenome de Matilde e Patrícia? Tentei manter a calma e fui logo falar com o meu pai e ele comprovou a carta do meu avô. Porque é que só agora é que decidiram dizer-me isto? Porquê o meu avô e não tu? Como sei que não estão a gozar com a minha cara? Meu filho só agora o dissemos porque só depois do coma é que podemos contar, foi o teu avô porque ele é o representante da família e tu és o seu sucessor e não, não estamos a gozar contigo, mas isso tu vais perceber por ti mesmo. Para teres mais respostas terás de esperar mesmo pelo teu avô, quanto isso peço-te que uses sempre esta pulseira, ela irá fazer com que possas andar mesmo de dia sem que te aconteça nada. Pus a pulseira no pulso e fui para a rua apanhar ar fresco, sempre a pensar na Matilde. Saberia ela pelo que eu estava a passar? Queria ela ajudar ou nem por isso? Seria o namorado dela algum vampiro também? Tinha de lhe fazer estas perguntas e sem perder tempo respirei fundo e liguei-lhe com o pretexto de que queria acabar de passar as anotações, ela disse que não havia problema e uma hora depois lá estávamos os dois na biblioteca. Assim que cheguei ao pé dela não me consegui conter e atirei as perguntas todas para ela. O primeiro sinal que tive foi de que ela não sabia nada do que eu estava a falar e pensou que eu tinha andado a fumar drogas e que provavelmente estava a delirar e eu aproveitei a deixa e assumi que ela tinha razão e acabamos por nos separar logo depois e eu sem saber o que pensar fui para o meu quarto. Nem sequer comi e fui logo dormir. A manhã chegou e eu ainda não tinha conseguido dormir nada, tudo o que me lembrava era a carta do meu avô e todos aqueles flashes de memórias que não eram minhas. Fui para a universidade sem comer nada e quando passei pela Patrícia ela olhou-me com um olhar matador e nem sequer me falou o que me deixou muito intrigado.

Lourenço Santos - O início da jornadaOnde histórias criam vida. Descubra agora