Capítulo II

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Naquele dia não consegui falar nem com a Patrícia nem com a Matilde, tanto uma como a outra passaram o dia a olhar para mim como se eu tivesse feito algo de mal, mas eu nem sequer tinha a mínima ideia do que se teria passado. Antes de ir para casa tentei aproximar-me de Matilde para falar com ela, mas antes que eu conseguisse apareceu Patrícia e levou-a embora.

Ao chegar a casa o meu pai estava à minha espera com cara de poucos amigos e antes de eu conseguir dizer alguma coisa ele olhou-me fixamente e perguntou num tom calmo que até arrepiava; - Posso saber porque é que foste logo falar com a rapariga dos Nobre sobre a tua natureza? Estás parvo? Será que não tiras nada dessa cabeça? Queres matar-nos a todos? Eu fiquei boquiaberto, não sabia o que dizer para me justificar embora também não entende-se qual era o grande problema de ter ido falar com Matilde, mas conseguia ver na expressão do meu pai que ele estava mesmo chateado comigo. Tentei compreender a situação e foi aí que o meu pai disse que nós da família Santos não tínhamos boas relações com a família Nobre por causa de razões passadas. Com tanta coisa a acontecer naquele dia eu acabei por me deitar tarde e por mais incrível que pareça eu consegui dormir tranquilamente.

O despertador tocou precisamente às oito da manhã e com ele acordei eu, abri os olhos e tinha raios de sol a entrarem pelas frinchas da preciana a dentro, raios esses que iluminavam perfeitamente o meu quarto. Sai da cama e despachei-me mais rápido do que o normal e antes de sair de casa o meu pai disse-me: - Tem cuidado com os perigos que possam aparecer! Eu nem sabia bem o que ele queria dizer, seria apenas uma frase ou teria outro significado? Sei lá, apenas respondi com um apressado "Está bem!" e segui para a universidade. No trajeto que costumava fazer a pé encontrei Matilde sozinha e aproveitei para tentar falar com ela. Assim que me viu a ir na sua direção, Matilde apressou-se logo a tentar afastar-me o mais possível e embora eu tentasse falar com ela, digamos que ela não estava para conversas e antes que eu desse por isso ela desapareceu da minha frente e só a voltei a ver na universidade já na sala. No decorrer das aulas da parte da manhã Patrícia só olhava para mim com um olhar de matar já por outro lado Matilde olhava-me com um olhar de tristeza. Neste dia só tínhamos aulas da parte da manhã e mal saímos das aulas fui logo ter com Matilde mas mais uma vez apareceu Patrícia e agarrando-me por um braço levou-me para um lugar onde ficamos sozinhos e disse-me que queria ver-me afastado dela e da sua irmã o mais possível ao qual eu não conseguindo ficar indiferente perguntei, O que é que eu fiz de tão mal? Ela respondeu logo muito diretamente, Nasceste! E dizendo isto deu-me um estalo e foi embora.

Este dia estava a correr cada vez melhor, primeiro, de manhã Matilde fugiu de mim a sete pés pouco depois a sua irmã diz-me que o meu problema é eu ter nascido e dá-me um estalo, que mais seria que ia acontecer neste dia?

Na ida para casa encontrei o meu amigo João e uma vez que moramos os dois a meia dúzia de metros um do outro fomos juntos. Durante o trajeto o João decidiu-se a fazer-me umas perguntas:

- Então Lourenço está tudo bem contigo? Pareces abalado estes dias. – Disse ele com um ar preocupado.

- Eu estou ótimo como sempre porque haveria de estar abalado? – Respondi eu com um ar o mais convincente possível.

- Então e já te decidiste a perguntar à Matilde se quer sair contigo? Aquelas trocas de olhares nas aulas não são nada discretas, rapaz.

- Eu ainda não me decidi a nada, nem sei de que olhares estás tu a falar.

E assim chegamos ao ponto onde nos separávamos e lá fui eu para casa a pensar no que ele tinha dito. "Aquela troca de olhares..." ele só podia andar a imaginar coisas, que olhares? Só se fossem de desprezo. Mal cheguei a casa e o meu pai disse-me que tinha uma visita à minha espera no meu quarto. Sinceramente a primeira pessoa a vir-me à cabeça foi o meu avô e lá corri eu até ao meu quarto, quando abro a porta dou de caras com Matilde sentada na minha cama com um olhar sério.

Sem saber bem o que fazer ou dizer, comecei com um simples, O que estás a fazer aqui? Foges de mim e agora estás no meu quarto? Comecei logo a ficar nervoso e sentia o meu coração a bater cada vez mais forte e quando dei por mim estava completamente mudado. Olhos verdes como o normal mas desta vez mais brilhantes, dentes de vampiro e um corpo ligeiramente mais definido do que o meu. Foi aqui que aconteceu a minha primeira transformação em vampiro. Matilde mal me viu assim começou a tremer, do nada entram os meus pais no quarto e começam a tremer da cabeça aos pés também. Eu, bem eu estava a tentar acalmar-me mas não estava a ser fácil mas assim que consegui tudo voltou à normalidade e os três pararam de tremer. Os meus pais estavam com um ar assustado na cara deles já Matilde estava apavorada de medo. Tentei acalma-la enquanto os meus pais saiam do quarto e assim que ficamos sozinhos ela falou pela primeira vez, Então é mesmo verdade, vampiros existem e tu és um, então quer dizer que o que os meus pais contaram sobre a nossa família é mesmo verdade, eu também sou um vampiro. Pois bem eu vim aqui para conversar contigo e para perguntar se queres ir comigo beber café para eu te poder explicar porque é que a minha irmã te afasta de nós o mais possível.

Eu aceitei rapidamente, não poderia perder esta oportunidade para a conhecer melhor e lá fomos os dois. Durante a conversa ela disse-me que não tinha acreditado no que os pais lhe contaram sobre a própria família mas que a sua irmã era diferente porque ela não iria ser um vampiro mas sim uma bruxa como a sua mãe e por causa disso conseguiu ver um pouco do meu futuro numa das vezes que olhou para mim. Por isso e por não ter visto um futuro brilhante é que ela tenta a todo o custo afastar-nos de ti. Eu perguntei-lhe cheio de curiosidade o que é que a sua irmã tinha visto e ela apenas me disse "Escuridão" e aqui eu fiquei sem saber o que dizer. Como assim escuridão? O que aconteceu no quarto teria algo a ver com isso? Comecei eu a pensar com os meus botões.

Quando nos separamos ela deu-me dois beijos e eu fiquei todo contente da vida, já era oficialmente o meu melhor dia de todos, finalmente as coisas estavam a andar.

Quando cheguei a casa os meus pais continuavam com uma cara de assustados e o meu pai disse-me que tinha chamado o meu avô urgentemente por causa do que tinha acontecido no meu quarto e que estava marcado para daqui a cinco dias. Os dias foram passando e as coisas com a Matilde estavam cada vez melhores mesmo com a sua irmã a tentar afastar-nos. E sem dar por isso tinha chegado o tão aguardado dia da visita do meu avô. Estava eu no meu caminho para casa, acompanhado pela Matilde que ia jantar a minha casa quando no meio do trajeto um sujeito aproxima-se de nós e ajoelhando-se à minha frente diz: Meu senhor tenho más notícias para lhe dar. Apressei-me a dizer ao homem para sair do chão porque tinha toda a gente a olhar para nós. Ele levantou-se e disse num tom de voz baixo: O senhor António Oliveira foi assassinado no caminho para aqui e ao que tudo indica foram os homens da família Agostini uma família de vampiros italiana. Tinham atacado o seu carro e sem dó nem piedade decapitaram-no. Ao ouvir isto comecei a enervar-me e lá estava mais uma vez a ocorrer a transformação mas felizmente consegui controlar e fui a correr para casa. Quando lá cheguei os meus pais ainda não sabiam de nada, contei-lhes o que tinha acontecido acabando com um simples: Eu vou matá-los todos!

Lourenço Santos - O início da jornadaOnde histórias criam vida. Descubra agora