Capítulo 4

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Ana

Estava deitada com os pés para cima depois de um longo dia de trabalho, coloquei meus fones e me permiti viajar nas minhas próprias emoções. O meu sonho não saia da minha cabeça, algo me dizia que deveria escrever sobre ele e foi o que fiz. Às vezes tudo que eu queria era poder viver uma vida diferente, algo incrível, algo não imaginado. Ouvi dizer que um escritor para ser bom, precisa viver intensamente suas aventuras. E que aventuras têm? Se não a minha vida pacata? Fico pensando como minha avó escreveu seus livros, como será que foi sua juventude? Para que ela tivesse tantas ideias. Já perguntei isso a ela. Segundo ela, só preciso me permitir sonhar, viver e no momento certo saber como me expressar. Então, fiquei pensando porque estava ali parada com fones no ouvido, em vez de estar na rua, passeando e observando. Troquei rapidamente de roupa, meu marido estava trabalhando ainda e sai para caminhar. Ainda com os fones, andei pelas estradas balançando a cabeça no ritmo da música, as pessoas deviam achar que eu estava imitando um pombo. Comprei um algodão doce, sentei no banco da praça observando as crianças brincar no parque e na neve, o casal de namorados dividindo um lanche, uma idosa lendo um livro... Até que meu celular tocou, me desperdiçando a atenção, era minha avó. – Ligou em boa hora vovó! Disse atendendo. Ela mencionou que havia me enviado um de seus livros antigos e que gostaria que eu lesse, agradeci pelo presente afirmando que logo iria buscar no correio. – Tome cuidado com esse livro! Não deixe que caia em mãos erradas minha filha! Disse ela preocupada como se aquele não fosse nem o momento certo de saber da existência dele, por quê? Aquilo me deixou tão curiosa, que mal desliguei o celular e fui em direção ao correio para buscar a entrega.

Era uma caixa grande e pesada, mas consegui carregar ela a pé, apesar de se sentir descadeirada. Assim que entrei no meu quarto, fechei as cortinas e a porta, abri a caixa com uma fúria que rasguei o papel, o livro era grande e dizia "Revivendo outra vez". Gostei do título e folheei a primeira página. Mandei mensagem para Amanda. "Você não vai acreditar no livro que minha avó me deu. Ele é incrível." Logo após a escrita mandei a foto do livro. "Estou muito ansiosa para ler, algo me diz que existe algo nele que vai além da nossa imaginação". Ou era eu sendo sonhadora demais, outra vez.

Quatro

Amanda

Estava sentada na mesa lendo o livro com Tai, havia desligado meu celular para se concentrar melhor e também porque na biblioteca pedem silencio. Só que tinha algo me incomodando, não sabia dizer o que. – Já volto, vou tomar água! Falei me levantando. No caminho para o bebedouro, a senhora que havíamos falado anteriormente acabou caindo da cadeira, corri para ajuda-la. –A senhora está bem? Perguntei. –Senhora está no céu minha jovem! Disse sorridente ajeitando suas roupas, mas quando finalmente me encarou foi como se ela levasse um choque, ficou me olhando por segundos sem dizer nada, parecia espantada. Ela passou a mão em meu rosto: - Eu consegui! Finalmente te encontrei! Seus olhos estavam marejados e eu não estava entendendo nada. –Me desculpe! Quem é você? Perguntei sem se importar com sua mão em meu rosto. –Amanda! Respondeu ela ainda emocionada. –Que máximo então você é minha xará, também me chamo Amanda! Eu ri e ela tirou a mão de mim a passando sobre seu próprio rosto. – Não sou sua xará! Eu sou você! Ergui uma das sobrancelhas com um sorriso amarelo, pensando que aquela mulher era louca. –Olha preciso de você! Preciso que me escute! Não estou louca! Precisamos conversar! –Senhora! Acho que você não está bem! Isso é impossível... Comecei. –Você quebrou seu coração várias vezes e nesse exato momento você traçou seu destino! Disse que nunca mais iria permitir que alguém entrasse na sua vida para lhe bagunçar. E que você era autossuficiente e não precisava de um companheiro! Disse que iria viajar escrever artigos científicos e ser professora de universidade! Iria seguir seu sonho e essa é sua única meta, além de manter seus amigos e família por perto! A filha que você queria ter antes disso, quando fizesse vinte e oito anos, a Júlia, você já até desistiu dessa ideia! Ela falou tudo o que eu pensei na última semana e aquilo me espantou, ela não tão louca assim, mas como pode ela ser eu? Mas faltava um detalhe... – Nem mesmo o Augusto você terá! Acredita em mim agora? Podemos conversar? Perguntou. –Isso é loucura! Falei atordoada, ela me puxou para uma sala reservada carregando dois livros. –Você tem toda a razão de achar loucura, mas o mundo é muito mais do que imaginamos! Eu sou você no futuro! E desde que fiz cinquenta anos venho procurando uma forma de voltar no passado para impedir que certos erros aconteçam e se estrague tudo de novo! E assim nunca sair desse ciclo que precisa parar! –Ciclo? Questionei. –Sim! Precisamos ser rápidas! Eu até poderia fazer isso, mas essa viajem no tempo já foi cansativa demais para mim! Preciso de você que sou eu ainda jovem! Sabe a Ana? Ela não está no futuro! Sabe o que isso significa? Perguntou-me. –Não! Ela morreu antes? – É o que todos dizem desde que ela se foi e deixou esse livro! Na verdade era um diário, mas assim que consegui crescer financeiramente e montei o projeto para menores carentes, consegui verbas para transformá-lo em livro e distribui-lo! Ela me entregou, na capa dizia "revivendo outra vez". –Ana viajou no tempo, voltou para o extremo passado! O problema é que ela nunca conseguiu voltar de lá! Se o ler, verá o que ela conta, todos acham que é uma simples história, dessas que ela costumava escrever, mas não! Ela realmente viu tudo isso! Porque finalmente eu consegui viajar no tempo e isso prova que estou certa! Ela não morreu como acredita, ela está viva no extremo passado! Olhei indignada para ela. –Ela está na Alemanha agora, é claro que está viva! – Exato você precisa evitar que ela viaje no tempo! E se não chegar a tempo, precisará dar um jeito de buscar ela e deve trazê-la de volta! Você precisa parar este ciclo! Precisa mudar o rumo dessa história! Precisa fazer o tempo correr outra vez! –Como vou fazer isso? E como posso confiar de que tudo isso é verdade e não uma loucura? Questionei.

-A última mensagem que ela me mandou antes de sumir foi à foto da capa do livro, comentando que havia algo nele que vai além da nossa imaginação! Você vai receber essa mensagem! E não demorará muito para perder o contato com ela, provavelmente algumas horas depois ela já vai ter sumido! E você vai precisar encontra-la! A não ser que queira continuar esse ciclo e sua melhor amiga sempre ficará presa! Todos desistiram disso lá onde eu estou às únicas amigas com quem comentei me achara louca. Preciso de você! Nós precisamos de nós! Somos a única esperança para interromper esse ciclo! –O que acontece se eu conseguir viajar no tempo? Como ficaram as coisas por aqui? –Não nos esquecemos de Ana, porque ela se foi de outro jeito que até hoje não descobri! Mas a viajem no tempo, faz com que as pessoas te esqueçam até que você volte, é como se o tempo parasse e voltasse sem que ninguém perceba! – E se eu não voltar? Perguntei. –Será esquecida... Ela engoliu em seco. –Para sempre! Vai viver como fantasma como a Ana em um extremo passado! A diferença é que se lembraram dela! Mas você precisa tentar, precisa salvá-la e interromper isso! Eu sou você, acha que você sumindo eu também não fico comprometida? Claro que fico, estou preocupada! Mas acredito em você, se você soubesse do seu extremo passado, acreditaria mais em si mesma! Ouvi a voz de Tai me chamando, estava me procurando. –Olha, leia esses dois livros, vão te ajudar, a saber, o que fazer! E se conseguir voltar, vai interromper todo o ciclo e metade da história muda! E tenho uma coisa para dizer a você lembre-se disso quando voltar: Você vai conseguir realizar seus sonhos se persistir, não vai ser fácil, vai ter dias de muita chuva, mas no final você consegue! E não permita que o verdadeiro amor te escape outra vez, você aos dezoito anos colocou uma barreira sobre si mesma a impedindo de se relacionar, conseguiu tudo o que quis, mas a liberdade sozinha não vai te fazer feliz. Precisa dar uma chance para aquele que virá. Sabe! Eu, você no futuro vai estar feliz por tudo que conquistou e pelas crianças carentes bem cuidadas, mas vai sentir um vazio causado pelo arrependimento de não ter dado a chance a quem deveria ser dado! Faça diferente agora que tem a oportunidade! Ela estava com lágrimas nos olhos. –Permita que Augusto e Júlia dessa vez tenham a chance de nascer! A abracei apertado e demorado, senti pela primeira vez a nossa ligação, ela era mesmo eu, mesmo que aquilo parecesse loucura. –Obrigada! Você é uma guerreira! Disse a ela a soltando já com a mão sobre o trinque da porta para abri-la. –Nós somos! Ela disse desaparecendo aos poucos. –Você já vai? Perguntei. –Como fez isso? –Você vai saber! Mas agora preciso ir! Você vai conseguir, por favor, faça o que só você pode fazer!

Assim que sai na porta. –Seu celular não parava de vibrar! E falando nisso, você perdeu o caminho do bebedouro? Questionou Tai revoltada e me entregou o celular. –São ligações do Alex, ai meu Deus! Falei sem responder ela e abri as mensagens, eram de Ana, exatamente como Amanda tinha falado a capa do livro e a última mensagem. Com o susto que levei acabei puxando uma cadeira para sentar, havia menos tempo do que eu imaginava. –Estão dizendo que Ana desapareceu! Comentei com Tai. –Como assim desapareceu? –Sumiu, não sabem como! Mas eu acho que sei! Se eu te contar vai me achar louca? Perguntei, afinal precisava desabafar toda aquela loucura, sem contar que precisava de ajuda para saber por onde começar. –Conte-me! Disse ela guardando seu livro na mochila, peguei a chave do carro em cima da mesa e fomos direto para minha casa. No caminho contei toda a conversa que tive com aquela mulher. –Você acreditou nisso? Riu Tai. –Claro que sim, eu a abracei e ela sumiu na minha frente! –Será que não foi sua imaginação enquanto lia? Bufei. –Claro que não! Esses livros nem são da biblioteca, de quem eu teria os pegado? Ela suspirou ok tudo bem. Eram dois livros grossos, um era o diário da Ana, o outro era sobre viagens no tempo, nos revezamos para ler. Alguém bateu na minha porta fui ver quem era. –Bernardo? Um amigo nosso e o garoto por quem Ana foi apaixonada. – Você já soube que ela sumiu? Eu estou muito preocupado, algo me diz que isso não é nada bom! Ele falou atordoado. Era só o que me faltava, além de estar atrasada para resolver isso tudo, tinha que consolar ele. Respirei fundo e o convidei para entrar. Trouxe uma xicara de café forte como ele gosta e um pedaço de bolo. Pedi para que esperasse ali, pois iria chamar Tai, mas na verdade, iria pedir para que ela fizesse sala para ele enquanto terminava de procurar, não podia envolver mais ninguém nessa situação. – Amanda e se contarmos a ele? E se ele nos ajudar? Por que não deixamos para ler depois? –Eu vou sumir e quando isso acontecer todos vão se esquecer de mim! Até que eu retorne! Você pode me ajudar por agora, mas se algo der errado, vocês não poderão fazer nada! Eu preciso ler isso sozinha e achar um jeito de ir atrás dela e de voltar salva, porque ninguém depois que eu partir poderá me ajudar, entende? Uma parte de mim já era desespero. –Você não vai conseguir ler nada nesse estado! Falou Bernardo na porta que já havia ouvido tudo. –Deixe nos ajudar, seja qual for o problema! Ele me entregou uma xicara de chá, uma espécie de calmante. Por fim, concordei e eles passaram a ler tudo àquilo comigo naquele fim de tarde, enquanto na Alemanha procuravam por qualquer sinal dela.


Revivendo outra vezWhere stories live. Discover now