Capítulo 3 - Injustiças.

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       Enquanto John e Sérgio andavam cantarolando músicas de seu antigo clã, Thompson ainda observava-os, já que estava seguindo eles.

      Cem metros depois da saída da cidade, se encontrava a tenda em que a família Robson morava temporariamente.

  - Então... - O pequeno começou falando, atraindo agora a atenção do pai. - Pode contar agora papa?

  - Claro, meu pequeno. - O mais velho falou entre risos. - Hannah Arendt foi uma filósofa política alemã, assim como nós, mas, suas origens religiosas eram judaicas e, por causa da Segunda Guerra Mundial, ela necessitou refugiar-se nos Estados Unidos, mas, durante o regime nazista, sua nacionalidade foi confiscada, o que tornou-a apátrida e só em 1951 ela conseguiu nacionalidade americana, ela foi uma das mais importantes pensadoras do século XX, Arendt classificou as ações humanas na guerra como a prática do mal radical. Na visão dela o mal radical é o aniquilamento da ideia de sujeito e de indivíduo e, que o mal estava ligado ao seguinte fenômeno: tornar o homem supérfluo.

  - O que é "tornar o homem supérfluo"? - Indagou de forma curiosa, fazendo o velho homem rir de seu jeito sempre curioso.

  - Praticamente dizer que os homem são desnecessários e sem importância. Ela também criticou que o Ocidente, no que se refere ao entendimento do mal, sempre parte do pressuposto de que a origem dos piores atos que o ser humano pode cometer vem do egocentrismo e da e da capacidade de olhar para si mesmo - apenas para si mesmo - visando ao próprio bem, querendo ganhar vantagem sobre tudo e sobre todos sem se importar com os danos que suas ações causarão a terceiros, contudo segundo ela, o século XX presenciou algo diferente: o mal muito pior do que aquilo que se imaginava, para ela, o mal se radicalizou. Mas, você sabe que mal é esse? - E essa foi a vez do mais velho de devolver o olhar curioso.

  - É... O nazismo..? - Falou incerto de sua resposta.

  - Sim, o sistema dominante nos campos de concentração desejava convencer os prisioneiros de que eles eram supérfluos antes mesmo de serem mortos. Lá, as pessoas tinham de aprender que as punições por elas sofridas não tinham objetivo de oferecer vantagem a alguém ou que elas sofriam porque cometeram algum delito. As pessoas que estavam inseridas nos campos, eram retirados seus nomes, as suas famílias, suas identidades; elas eram conhecidas por números ou símbolos, como a estrela de Davi, que caracteriza os judeus, ou as cores vermelho, para designar os comunistas, e rosa, para identificar os homossexuais. Não eram mais sujeitos construídos, mas coisas jogadas e chutadas para qualquer lado, como se não tivessem identidade.

  - Que maldade! - Disse John indignado.

  - Sim... muitas pessoas morreram com as idéias idiotas de Hitler, se ele fosse uma boa pessoa, teria sido um ótimo líder! - Comentou em um tom descontraído.

  - Mas, ele é um homem muito mal. Não gosto dele e nunca vou gostar! - John chegava a bufar de tanta raiva, enquanto falava.

  - Ei, calma rapaz. Cultivar ódio só vai fazer mal à você mesmo, minha criança.

  - Ok papa, vou tentar não ficar mais com tanta raiva, tá bom? - Falou sorrindo.

  - Está bem... o que você quer comer hoje na janta? - Perguntou sugestivo, enquanto observava a criança fazendo uma careta, por causa de sua indecisão.

  - Lasanha! - Gritou John, depois de longos segundos em silêncio pensando.

  - Está bem, rapazinho! Vou te levar até a tenda e depois voltarei a cidade, para comprar os ingredientes. - O mais velho falou, e John assentiu.

       Os dois foram o resto do caminhoem silêncio, mas não era um silêncio desconfortável, ambos estavam apenas curtindo a presença um do outro.

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