O recital era uma forma de descarregar a obstrução do dia de hoje. Era verdade que só num dia tinha passado por coisas piores, mas esta também era a minha primeira vez num palco.
Uma rapariga maquilhou-me e penteou o meu cabelo. Depois o meu professor entrou dentro da sala.
- La maravillosa violonchelista! - Saudou-me num tom animado com a sua incapacidade de falar inglês mas somente espanhol - Estás preparada? Tengo la certeza qué tú vas dar un espectáculo de hacer todo el mundo llorar.
- Obrigada. - Agradeci.
- So lo sé qué esta noche te trará una oportunidad.
Era engraçada a forma como o professor falava ou misturava ambas as línguas. Eu felizmente tinha a sorte de entender tudo o que ele me dizia.
Depois guiaram-me até ao palco, onde antes de entrar, fechei os olhos para me acalmar e conseguir regularizar a minha respiração.
"Não tenhas medo de errar" - Pensei para comigo própria.
E finalmente anunciaram o meu nome para entrar.
A plateia estava quase lotada. Na fila da frente, à ponta, podia ver os meus pais com o meu irmão, a Jasmin ao lado dos pais dela e ao lado de Jasmin... O IAN?! - O que é que ele fazia aqui?!"Calma, concentra-te no objeto que tens à tua frente" - Repreendi a mim mesma inspirando e expirando profundamente.
Jeremy também estava na fila da frente, mas mais para o centro, afastado do irmão com uma distância ainda bem relativamente grande.
Sorriu para mim mal trocamos de olhar um com o outro, depois suspirei uma vez mais e o concerto começou.Costuma-se de se dizer que o que custa é começar, e é verdade porque após ter começado a tocar senti-me em casa. Era como se fossemos só nós: o violoncelo e eu. É como como se o público ja não existisse e eu estivesse sozinha a ensaiar, sentindo o som das cordas a vibrarem nos meus dedos enquanto a outra permitia que a música se propagasse. Quando dei conta já tinha terminado. As pessoas levantaram-se a aplaudir, e num abrir e fechar de olhos já estava de volta aos bastidores com o professor e a minha família.
- Magnífico! - Elogiou-me - Eres magnífica! Todo el mundo à gustado. Es por eso qué la Julliard a venido aquí verte.
- O quê? - Retorqui perplexa.
- Era una surpresa para no quedares nervosa. - Contou.
- A Julliard aceitou-te, filha. - Disse a minha mãe.
Depois o meu pai abraçou-me. Eu percebi que ele estava orgulhoso de mim. Porém, não tinha a certeza se continuava a querer ir para a Julliard depois do que aconteceu hoje.
- Obrigada por tudo. - Agradeci.
Eram estes pequenos momentos que me faziam enxergar melhor o que Jeremy me tinha dito sobre o quanto eles são importantes para mim e o quanto me amam, e que era a nossa perda biológica que nos fazia compensar o amor familiar que tínhamos para dar e receber e criar um laço tão forte.
- Tu não nos tinhas dito que já tinhas concorrido à escola. - O meu pai queixou-se - Pensei que tínhamos combinado em avaliar-te primeiro.
- Na verdad, es mi culpa - O professor acusou-se - Yo entré en contacto con la escuela y dice qué tengo una estudiante qué desearía aplicarse à la Julliard pero qué no tenía certeza. Entonces vieron a verla. Les encantó el espectáculo!
- Isto é uma surpresa para todos - A minha mãe respondeu - Ninguém estava à espera, aliás, só agora é que vimos que a Destiny evoluiu porque nem sabíamos que ela tinha voltado a tocar.
Jasmin abriu a porta e espreitou dentro da sala. Aproveitei a deixa para dar com os pés dali pra fora deixando eles a falarem.
- Foste demais! - Elogiou-me quando fechei a porta atrás de nós - Mas agora explica-me o que é que o Jeremy faz lá fora a tua espera.
- Explica-me tu primeiro o que é que o Ian faz aqui. - Pedi-lhe.
- O Ian? - Retorquiu numa expressão confusa.
- Sim! - Sublinhei - Ele estava ao teu lado durante o concerto. Posso saber o motivo?
- Talvez porque quis?... - Sugeriu - Sei lá, andas com o delírio da perseguição por mim, ou quê? Ambas sabemos que ele não me fala.
- Ah, pois. - Balbuciei - Ham, eu já venho.
- Onde vais? - Ela quis saber.
- Tratar de uns assuntos! - Respondi a correr para a entrada do pavilhão.
- Destiny! - Chamou-me.
- Vai ter com os meus pais! - Gritei por já estar longe dela. Tinha esperança de que não me seguisse.
Ian estava na rua, tal como eu esperava.
- Boa noite lobinha. - Saudou-me - Olha, sabes, eu odeio música clássica, faz-te parecer tão betinha... Mas vá, devo reconhecer que até gostei de te ver, estiveste bem.
- O que vieste fazer aqui? - Perguntei logo diretamente.
- E um "obrigada" pelo elogio - Sugeriu -, não?
- Não. - Retorqui - Não, depois de me teres abandonado na floresta de Sherwood.
- Já estavas no teu carro - Revirou os olhos -, não me digas que querias que te levasse a casa.
- Estás a brincar?! - Retorqui irritada - Apareceu um lobo dos Pentágonos! Nem lhes sentiste o cheiro, pois não?!
- Eu tinha o meu lado psíquico desligado como querias que detectasse o perigo? - Replicou.
- Supostamente não és capaz de controlar isso a 100%, principalmente se tiveres alterações emocionais e cognitivas. - Resmunguei.
- Olha, desculpa lá não ter sido salvador da pátria, flor. - Respondeu fazendo aspas com os dedos na parte do salvador da pátria.
- Não faz mal. - Cruzei os braços - Outra pessoa salvou-me.
- Olha vês, afinal existem príncipes encantados. - Revirou os olhos de novo.
- Como sabes que era um ele? - Semicerrei os olhos para Ian.
- Não sei, supus. - Encolheu os ombros olhando para mim - Na história do capuchinho vermelho é um caçador que a salva.
- Sabes que se eu me defendesse poderiam descobrir quem sou, não sabes?! - Repliquei.
- E se não estivesse lá ninguém para te salvar? - Retorquiu - Ou mostravas quem eras e arriscavas-te a morrer ou morrias na mesma.
- Por isso mesmo! - Bufei - Não deverias ter-me deixado sozinha.
- Ok, ok! - Rendeu-se - Desculpa!
Depois regressamos a pergunta inicial que eu tanto queria saber e tornei a repetí-la.
- Só vim para te ver. - Ele disse - O que há de mal nisso? Queria ter a certeza que estavas bem.
- E porque raio haverias tu de te importar? - Repliquei.
- Porque é o meu dever, e o da minha família, protegermos-te.
- Ah sim. - Respondi com sarcasmo - Que belo cãozinho de guarda me saíste.
- Não sei de que te queixas, lobinha - Replicou -, passas-te o dia com o meu irmão.
- Sim, mas antes disso alguém me abandonou na floresta. - Relembrei-o.
- Eu se fosse a ti tinha era mais atenção nas pessoas que escolheria para estar comigo. - Ripostou.
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A Noite da Pedra da Lua
FantasiaDestiny Hope nunca pensou que o seu futuro pudesse vir a mudar pelo interesse que despertava dentro de si face ao segredo do seu passado. Segredo esse que poderia vir a custar a sua vida bem como a vida de quem ama que estava exposta simplesmente po...