Capítulo 20 "Vou para a Julliard?"

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O recital era uma forma de descarregar a obstrução do dia de hoje. Era verdade que só num dia tinha passado por coisas piores, mas esta também era a minha primeira vez num palco.

Uma rapariga maquilhou-me e penteou o meu cabelo. Depois o meu professor entrou dentro da sala.

- La maravillosa violonchelista! - Saudou-me num tom animado com a sua incapacidade de falar inglês mas somente espanhol - Estás preparada? Tengo la certeza qué tú vas dar un espectáculo de hacer todo el mundo llorar.

- Obrigada. - Agradeci.

- So lo sé qué esta noche te trará una oportunidad.

Era engraçada a forma como o professor falava ou misturava ambas as línguas. Eu felizmente tinha a sorte de entender tudo o que ele me dizia.

Depois guiaram-me até ao palco, onde antes de entrar, fechei os olhos para me acalmar e conseguir regularizar a minha respiração.

"Não tenhas medo de errar" - Pensei para comigo própria.

E finalmente anunciaram o meu nome para entrar.
A plateia estava quase lotada. Na fila da frente, à ponta, podia ver os meus pais com o meu irmão, a Jasmin ao lado dos pais dela e ao lado de Jasmin... O IAN?! - O que é que ele fazia aqui?!

"Calma, concentra-te no objeto que tens à tua frente" - Repreendi a mim mesma inspirando e expirando profundamente.

Jeremy também estava na fila da frente, mas mais para o centro, afastado do irmão com uma distância ainda bem relativamente grande.
Sorriu para mim mal trocamos de olhar um com o outro, depois suspirei uma vez mais e o concerto começou.

Costuma-se de se dizer que o que custa é começar, e é verdade porque após ter começado a tocar senti-me em casa

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Costuma-se de se dizer que o que custa é começar, e é verdade porque após ter começado a tocar senti-me em casa. Era como se fossemos só nós: o violoncelo e eu. É como como se o público ja não existisse e eu estivesse sozinha a ensaiar, sentindo o som das cordas a vibrarem nos meus dedos enquanto a outra permitia que a música se propagasse. Quando dei conta já tinha terminado. As pessoas levantaram-se a aplaudir, e num abrir e fechar de olhos já estava de volta aos bastidores com o professor e a minha família.

- Magnífico! - Elogiou-me - Eres magnífica! Todo el mundo à gustado. Es por eso qué la Julliard a venido aquí verte.

- O quê? - Retorqui perplexa.

- Era una surpresa para no quedares nervosa. - Contou.

- A Julliard aceitou-te, filha. - Disse a minha mãe.

Depois o meu pai abraçou-me. Eu percebi que ele estava orgulhoso de mim. Porém, não tinha a certeza se continuava a querer ir para a Julliard depois do que aconteceu hoje.

- Obrigada por tudo. - Agradeci.

Eram estes pequenos momentos que me faziam enxergar melhor o que Jeremy me tinha dito sobre o quanto eles são importantes para mim e o quanto me amam, e que era a nossa perda biológica que nos fazia compensar o amor familiar que tínhamos para dar e receber e criar um laço tão forte.

- Tu não nos tinhas dito que já tinhas concorrido à escola. - O meu pai queixou-se - Pensei que tínhamos combinado em avaliar-te primeiro.

- Na verdad, es mi culpa - O professor acusou-se - Yo entré en contacto con la escuela y dice qué tengo una estudiante qué desearía aplicarse à la Julliard pero qué no tenía certeza. Entonces vieron a verla. Les encantó el espectáculo!

- Isto é uma surpresa para todos - A minha mãe respondeu - Ninguém estava à espera, aliás, só agora é que vimos que a Destiny evoluiu porque nem sabíamos que ela tinha voltado a tocar.

Jasmin abriu a porta e espreitou dentro da sala. Aproveitei a deixa para dar com os pés dali pra fora deixando eles a falarem.

- Foste demais! - Elogiou-me quando fechei a porta atrás de nós - Mas agora explica-me o que é que o Jeremy faz lá fora a tua espera.

- Explica-me tu primeiro o que é que o Ian faz aqui. - Pedi-lhe.

- O Ian? - Retorquiu numa expressão confusa.

- Sim! - Sublinhei - Ele estava ao teu lado durante o concerto. Posso saber o motivo?

- Talvez porque quis?... - Sugeriu - Sei lá, andas com o delírio da perseguição por mim, ou quê? Ambas sabemos que ele não me fala.

- Ah, pois. - Balbuciei - Ham, eu já venho.

- Onde vais? - Ela quis saber.

- Tratar de uns assuntos! - Respondi a correr para a entrada do pavilhão.

- Destiny! - Chamou-me.

- Vai ter com os meus pais! - Gritei por já estar longe dela. Tinha esperança de que não me seguisse.

Ian estava na rua, tal como eu esperava.

- Boa noite lobinha. - Saudou-me - Olha, sabes, eu odeio música clássica, faz-te parecer tão betinha... Mas vá, devo reconhecer que até gostei de te ver, estiveste bem.

- O que vieste fazer aqui? - Perguntei logo diretamente.

- E um "obrigada" pelo elogio - Sugeriu -, não?

- Não. - Retorqui - Não, depois de me teres abandonado na floresta de Sherwood.

- Já estavas no teu carro - Revirou os olhos -, não me digas que querias que te levasse a casa.

- Estás a brincar?! - Retorqui irritada - Apareceu um lobo dos Pentágonos! Nem lhes sentiste o cheiro, pois não?!

- Eu tinha o meu lado psíquico desligado como querias que detectasse o perigo? - Replicou.

- Supostamente não és capaz de controlar isso a 100%, principalmente se tiveres alterações emocionais e cognitivas. - Resmunguei.

- Olha, desculpa lá não ter sido salvador da pátria, flor. - Respondeu fazendo aspas com os dedos na parte do salvador da pátria.

- Não faz mal. - Cruzei os braços - Outra pessoa salvou-me.

- Olha vês, afinal existem príncipes encantados. - Revirou os olhos de novo.

- Como sabes que era um ele? - Semicerrei os olhos para Ian.

- Não sei, supus. - Encolheu os ombros olhando para mim - Na história do capuchinho vermelho é um caçador que a salva.

- Sabes que se eu me defendesse poderiam descobrir quem sou, não sabes?! - Repliquei.

- E se não estivesse lá ninguém para te salvar? - Retorquiu - Ou mostravas quem eras e arriscavas-te a morrer ou morrias na mesma.

- Por isso mesmo! - Bufei - Não deverias ter-me deixado sozinha.

- Ok, ok! - Rendeu-se - Desculpa!

Depois regressamos a pergunta inicial que eu tanto queria saber e tornei a repetí-la.

- Só vim para te ver. - Ele disse - O que há de mal nisso? Queria ter a certeza que estavas bem.

- E porque raio haverias tu de te importar? - Repliquei.

- Porque é o meu dever, e o da minha família, protegermos-te.

- Ah sim. - Respondi com sarcasmo - Que belo cãozinho de guarda me saíste.

- Não sei de que te queixas, lobinha - Replicou -, passas-te o dia com o meu irmão.

- Sim, mas antes disso alguém me abandonou na floresta. - Relembrei-o.

- Eu se fosse a ti tinha era mais atenção nas pessoas que escolheria para estar comigo. - Ripostou.

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