Fazia umas sete horas que Alvinho não parava de dançar com as caixas de som, apesar do barulho ensurdecedor. Esfregava-se nos equipamentos, em movimentos sensuais. Também pudera! Aqueles dois comprimidos de Ecstasy, que tomara durante a rave, faziam efeito, e eram potencializados por várias doses de vodca com energético.
A rapaziada que chegou com ele já havia desistido de tirá-lo daquela bad trip. "Ele sempre dá defeito! Deixa esse vacilão aí, na dele." ― disse um dos amigos, gritando para que os outros companheiros o ouvissem, antes de saírem para fumar um beck, beber umas cervejas e irem atrás da mulherada.
Alvinho era um jovem de vinte e um anos, muito bonito e atlético, e, por isso, fazia grande sucesso, embora não se desse conta de seu potencial. Ou talvez preferisse não se dar; o negócio dele era ficar muito doido em todas as festas que ia.
Num dado momento, lá pelas tantas, ele sentiu uma ânsia de vômito e correu para o banheiro. Mal abriu a porta de um dos compartimentos que se encontrava vazio, o jato esguichou, seguindo-se de vários outros, espalhando-se pelas paredes e pelo vaso sanitário. Ajoelhado, permaneceu abraçado à louça, e ali apagou. Game over.
O DJ dera por encerrado os trabalhos, e os amigos já haviam tomado cada um o seu rumo. As pessoas que iam ao banheiro para darem a última aliviada antes de partirem, ao verem aquele compartimento fechado, talvez imaginassem que estivesse interditado, afinal, havia muita sujeira escorrida pelo chão e um cheiro acre vindo dali, empesteando todo o ambiente.
O sol já estava de fora quando o evento se encerrou, ocasião em a moça da limpeza forçou a porta e não conseguiu abri-la. Ela entrou no compartimento ao lado, subiu no vaso, e, olhando por cima da divisória, pôde observar o rapaz na posição original. Tentou forçar a abertura, mas o corpo de Alvinho não permitia, já que encostado na porta.
Outros funcionários foram em auxílio à mulher, além de um frequentador ― um homem de seus quarenta anos ―, que se prontificou em ajudar o rapaz:
― Deixem que eu fico aqui com ele. Dou meu jeito, não se preocupem, podem ir embora tranquilos.
Os empregados não titubearam, comentando entre si: "Vai que esse playboy morreu... Acaba sobrando pra gente! Vamos embora daqui".
Quando a ambulância chegou, o enfermeiro verificou a pressão arterial e os batimentos cardíacos de Alvinho. Ele estava bem debilitado, mas vivo, pelo menos. No hospital, mesmo depois de tomar soro glicosado na veia, permanecia inconsciente. Os pais foram acionados, porém apenas a mãe compareceu, e ficou apavorada ao ver o filho desacordado:
― Meu bebê... Outra vez, Álvaro Augusto?! Aposto que foram aqueles seus coleguinhas que te deram bebida, né, meu amor? ― e o beijou na testa.
Alvinho abriu os olhos, estranhou o entorno, mas acalmou-se e esboçou um sorriso ao ver o semblante afetuoso da mãe. Quando tentou se sentar, não conseguiu. Uma tremenda ardência no traseiro o impedia.
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Contos aleatórios
Short StoryLiteratura contemporânea, contos diversos, com temas realistas e adultos, além de outros causos.