Capitulo 2: O Caminho das Flores

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Aquele era meu fim? Não, como poderia ser. Um recomeço talvez.
Acordei como se a aquilo tudo tivesse sido um pesadelo, um pesadelo terrível do qual você não quer jamais lembrar novamente, um pesadelo que durou 16 anos e que chegou ao fim, do qual consegui acordar e iria receber um abraço de conforto da minha mãe, mas não foi um pesadelo. Acordei em um chão de rocha úmida, eu estava enxarcada, com dor de cabeça, tonta e confusa. Me levantei bem devagar, tossi água, sentia meu corpo fraco e minha cabeça doía, tudo girava. Escutava o som água pingando e mais nada. Me perguntava como sobrevivi a tudo aquilo, muita sorte talvez...

O local Não estava escuro, algo me iluminava, era azul. Terminei de me levantar recobrando meus sentidos, ainda um pouco tonta e com dificuldades de me manter de pé, tiro meu cabelo enxarcado e pingando do meu rosto. Olhei em volta, percebi que estava as margens de um lago, um lago subterrâneo. A luz vinha de algumas flores azuis, com pétalas que brilhavam no escuro, eram várias, nasciam de fendas na rocha e emanavam uma luz bem forte, eram tão lindas e muito delicadas, nunca tinha visto algo como aquilo na minha vida, talvez nunca mais fosse ver. Aquele lugar era uma espécie de gruta subterrânea, não sabia bem o tamanho, também não me importava, eu estava encharcada, confusa e com frio, queria chorar, mas nem isso eu conseguia, eu me sentia muito estranha.
Parei um pouco para observar as flores; A luz que emanavam era suave, leve, pura, sua cor me lembrava os cristais que um inventor famoso usava como energia para suas invenções. Elas desenhavam uma espécie de caminho, uma indicação pela gruta, como quisessem sinalizar algo. Segui o “rastro” até uma fenda estreita na parede da gruta e notei que aquilo parecia uma passagem. Dei um passo a frente e pensei por um momento, ainda bem confusa sobre o que fazer, aquele era o único caminho e pensei mais um pouco. Talvez morrer não fosse o meu destino, pelo menos não naquele momento. Não tenho nada a perder. Era seguir por ali ou nada. O destino te dá uma única opção e você só aceita, não há muito o que fazer, muitas vezes ele é cruel com você.

Quando me dei conta já estava caminhando a passos largos pela fenda, com frio e com pressa, uma pressa movida por uma terrível dúvida e ansiedade, eu só queria saber o que tinha além daquela fenda. Flores azuis apreciam pelo caminho, estavam em toda parte, até no teto, ainda assim era difícil de enxergar um palmo a minha frente, seguia a tropeços me apoiando na parede irregular decidida a saber o que tinha além daquela fenda. Meu pai me dizia que tudo na vida acontece por algum motivo, como se o cruel destino guardasse algo maior para você. Depois de muito tempo concluí que a única coisa que o destino nos traz é sofrimento e dúvidas, nada mais que isso, não se pode confiar no destino, ele é traiçoeiro, te da a mão e depois te esfaqueia sem dó nenhuma nas suas tripas, deixa você apodrecer sozinho e arranca tudo que você tem. Você deve confiar em si mesmo e em suas decisões e tinha decidido naquele momento viver um pouco mais e ver até aonde isso tudo dava.
A passagem da fenda termina e quase me afogo novamente por causa da pressa; Parei bruscamente na beirada do final da passagem e me desequilibro para frente vendo água. Outro lago. E então me jogo pra traz e recupero meu aquilibrio após alguns passos para trás, dei um longo suspiro de alívio, me afogar ainda não estava nos planos. Olhei para frente com mais atenção, havia um caminho com várias pedras, não eram grandes, mas tinham tamanho o suficiente para apoiar meu pé. O caminho levava até as margens, e nela avistei uma flor azul que brilhava, e sua luz revelava que mais além dá margem havia grama. Grama? Aqui?

Era o único caminho e de novo o maldito destino me deu só uma opção, eu negava mas é um fato, não se pode fugir do destino. Quando você nasce, ele se agarra em você e só vai embora depois que você não tem nenhuma força vital e ele termina, morre junto com você. Mesmo que você não acredite no destino, você conclui que só tem uma saída e que você só pode fazer uma escolha, você pode faze-la de várias formas e o resultado é sempre o mesmo, você vai pra frente, é inevitável, é impossível você se estagnar em um lugar, não importa o quão boba seja uma escolha, ela sempre vai te levar pra uma direção.

Dei o primeiro passo na pedra mais próxima e comecei a caminhar, lentamente, sentindo cada passo, tentando me acalmar, eu estava apreensiva, ansiosa, queria saber onde eu estava indo. Concluí que o lago não era fundo após ver um peixe, parecido com uma carpa no fundo do lago, suas escamas brilhavam em amarelo, parecia quase um dourado, então vi outro, depois mais um, e então era um cardume que nadavam por entre as pedras.

Olhava fascinada e distraída para os peixes, percebi que estava perto da margem, talvez uns oito passos, foi quando olhei para frente e congelei com o que eu vi; Era um garoto, talvez mais velho do que eu, parado na margem, seus cabelos brilhavam, eram brancos, meio azulados, nem muito curto e nem muito longo, meio desleixados, mas eram bonitos. Seus olhos eram grandes e tinha cor vermelho cor de sangue e também brilhavam. Seu rosto parecia humano, era pálido só um pouco rosado, ele sorria mostrando os dentes e me encarava sem piscar, apesar de tudo, ele me passava uma sensação amigável, mas mesmo assim, eu estava apavorada e não conseguia me mover, você teme o desconhecido, do mesmo jeito que teme o escuro. Não pode ser. E depois de um breve silêncio ele disse.

— Parece que você caiu aqui não é mesmo? — Houve uma pausa, acho ele esperava uma resposta mas não consegui nem mover minha boca — Foi uma queda e tanto hehe... Não é muito comum pessoas da superfície virem aqui sabe… O que veio fazer aqui? — Sua voz soava estranhamente ameaçadora, era um voz pesada, e intimidava, mesmo não sendo a intenção. Eu cosegui me recuperar e finalmente o respondi.

— Não sei… Eu… Eu… — Eu estava realmente confusa, não sabia bem o que estava acontecendo nem o que iria acontecer eu sentia uma mistura de medo com incerteza, com pitadas de fascínio pelas coisas que vi, pensava que eram apenas lendas. O garoto me interrompeu.

— Sabe pelo menos seu nome? — Aquilo me soou amigável, havia um bom tempo que alguém perguntava meu nome.

— Annie... Annie Anorah — Respondi, minha voz falhou um pouco, estava exausta.

— Prazer em te conhecer Annie — Ele fez uma leve referência com a cabeça — Eu me chamo Jack, Jack Deciverros — Aquele sorriso me pertubava. Houve mais um breve silêncio e eu estava me acalmando, queria que aquilo não fosse real, mas estava diante dos meus olhos, as lendas eram reais — Então… Annie Anorah… a senhorita vai ficar ai parada ou vai me acompanhar? — E o destino de novo, ele nunca me dá outra escolha, ele simplesmente me faz aceitar tudo o que aparece na minha frente e ele colocou um garoto com olhos vermelhos e cabelos que brilham pedindo para eu acompanha-lo, um Daryniano para ser mas exata, raça antiga segundo A Lenda da Criação. Ainda estava cheia de perguntas, mas decidi deixar guarda-las e faze-las outro momento, apenas assenti com a cabeça, lentamente, tremendo um pouco. Então Jack se virou sem dizer nada, começou a caminhar em direção a escuridão, e eu sem muito escolha, fui atrás dele e o segui.

Ederia: O Conto do AbismoOnde histórias criam vida. Descubra agora