Capitulo 3: Não eram apenas lendas

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É difícil de engolir algo que a vida toda te disseram ser mentira, algo que não passava de uma história para crianças. Por que fariam isso?

Eu caminhava bem próxima de Jack pelo local, que parecia ser um grande campo subterrâneo, não sabia o quão grande, pois a única fonte de luz eram os olhos e cabelos de Jack, às vezes aparecia uma flor azul pelo caminho, mas por algum motivo sua luz era fraca, como se estivesse morrendo.

Aquele lugar era tomado por um silêncio perturbador, escutava apenas minha respiração e meus passos na grama. Eu não conseguia parar de olhar em volta, estava inquieta, com medo. Você teme o desconhecido, teme a dúvida, teme tudo o que você não conhece e naquele momento, eu não conhecia nada. Ao contrário de mim, Jack andava calmo, olhava sempre para frente mas também percebia que ele movia os olhos, olhando para os lados atentamente como se tivesse alguma coisa nos seguindo pela escuridão, nos observando, como um animal prestes a atacar sua presa. Talvez realmente tivesse algo nos observando. Mas o fato é: Jack já conhecia a escuridão, ele vivia nela assim como todos os Darynianos, ele sabia que não havia nada a se temer… Ou talvez tivesse...

Depois de pouco tempo caminhando comecei a tentar esclarecer minhas dúvidas; Comecei uma conversa com Jack.

— Onde estamos… Digo… Que lugar é esse? — Perguntei desconsertada, com a voz tímida e tentando parecer calma.

— Estamos nos aproximando Lyrin — Ele me respondeu. Pensei que ele não ia dizer mais nada, então, ainda caminhando, ele direcionou seus olhos para mim e continuou — Uma das 3 últimas cidades Darynianas… Que vocês humanos quase destruiram — Ele disse a última frase com um tom ameaçador.

Naquele momento eu já tinha mais do que respostas. Como nós humanos quase destruimos essas cidades? E por quê...?

— Você não faz idéia não é? — Ele continuou enquanto ainda caminhavamos — Como poderia… Esses humanos… tão arrogantes quanto seu criador… —Ele semicerrou os olhos, me lançando um olhar muito ameaçador. Engoli seco e continuei as perguntas escolhendo minhas palavras com cautela.

— Eu não entendo… Como poderiamos fazer isso?... Por que tratamos vocês como lendas…

— Lendas?! — Ele me enterrompeu aumentando o tom da sua voz — Então é assim que decidiram nos esquecer?! Como meras lendas?! Haha… São piores do que eu imaginei!

— Quer parar de jogar xaradas? — Eu me irritei e comecei a falar soluçando e chorando um pouco. Minha cabeça estava uma bagunça — Pare de dizer que os humanos são arrogantes! De me tratar como se eu tivesse culpa de alguma coisa! — Parei de caminhar, Jack parou logo depois e continuei me tentando segurar o choro, me ajoelhei e comecei a gritar com ele, como se ele tivesse culpa de alguma coisa, mas ninguém é culpado por dizer a verdade — Eu só… Eu só queria morrer! Terminar com tudo de uma vez! Agora eu estou em um lugar esquecido pelos Deuses falando com um garoto que brilha feito idiota! — Estava me debulhando em lágrimas, soluçava e tremia olhando para Jack. Eu sentia raiva, não dele, mas de mim mesmo só não sabia o por quê.

—Todos nós fomos esquecido pelos Deuses — Ele me respondeu.

Jack me olhava como se compreendesse minha dor, como se soubesse de todo meu sofrimento, deu um longo suspiro, fechou os olhos como se estivesse pensando e sorriu com os lábios, parecia estar mais calmo. Ele se aproximou de mim enquanto eu o encarava e em um gesto amigável, estendeu a mão e continuou e disse:

—Venha comigo, você parece estar muito cansada — Soava como um pedido de desculpas — Você não tem culpa de nada… Parece que vou ter que desmentir tudo o que te contaram sobre essas tais “lendas”…

Jack me olhava calmo com um sorriso fraco, era bizarro e estranho, mas por algum motivo me passava uma sensação amigável. Limpei as lágrimas do rosto e olhei para seu rosto e apenas pensei. Destino. Peguei em sua mão, era fria como a de um cadáver, e me pus de pé bem devagar, ainda fungando um pouco.
Sorri fraco retribuindo o sorriso de Jack, mas por um momento ele ficou sério e disse:

—Bom, melhor continuarmos em frente, Lyrin não está longe e não é seguro ficar aqui e…

Ele é interrompido por um rosnado, um rosnado raivoso vindo da escuridão. Olhamos em volta atentos, comecei a tremer de medo.

—Annie, corra em linha reta. Jack falou bem devagar. Olhei para ele e uma espécie de energia saia de seus olhos; Era vermelha como seus olhos e movia como fogo, depois essa mesma energia surge em sua mão.

Olhavamos para direções opostas, ele encarava algo que estava atrás de mim e assumia um semblante de um guerreiro que iria para uma batalha. Eu por outro lado encarava o escuro, o nada, o desconhecido, tremendo de medo sem saber se ir por ali era seguro. Mas eu tinha escolha? Destino.
Houve mais um rosnado seguido por um latido raivoso e rasgado. Ainda estava com medo.

—Annie…

Mais latidos...

—Annie.

Escuto passos de um animal de quatro patas, vinha em minha direção e não estava muito longe. Jack se prepara atacar.

—Annie!

Latidos, os passos se aceleram e se tornam em uma corrida, se aproximavam rápido. Eu ainda encarava o escuro.

—ANNIE!

Dei um longo suspiro e disparo em uma corrida, nesse momento, vi Jack disparar a energia vermelha de suas mãos; Parecia fogo, com um núcleo que parecia ser uma pedra de Rúbi. Acertou alguma coisa, aconteceu uma pequena explosão com um que clareou um pouco o lugar, tudo isso em menos de um segundo. Depois mais explosões com mais clarões. Eu corria em desespero, tentando enxergar além da escuridão, não enxergava nada a não ser um puro breu. Jack estava logo atrás, escutava sua respiração ofegante junto aos latidos e os rosnados que diminuíam conforme as explosões, Jack tinha uma boa mira.

Escutei um latido bem atrás de mim, também escutei ele saltando, avançando em mim, mas ouve uma explosão que quase me deixou surda e cega por causa do clarão que era rápido e claro como um raio e continuei correndo.

—Corre mais rápido, estamos quase chegando! — Consegui escutar enquanto meus ouvidos zumbiam e minha visão se recuperava aos poucos.

Alguns segundos depois vi um muro com uns 5 metros de altura e logo a minha frente havia um túnel nesse muro que dava num portão semicircular, reforçado com ferro e aço. Chego no portão ofegante e tento empurra-lo para dentro. Nada. Bato nele com as duas mãos gritanto na esperança de que alguém me ouvisse mas não ouve respostas. Me viro e grudo minhas costas no portão para tentar avistar Jack e nesse momento, tudo me pareceu lento com a visão que tive, aconteceu em segundos mas pra mim foram minutos. Os animais que nos perseguiam tinham um corpo parecido coma de um cachorro, focinho pontudo, orelhas também pontudas, possuíam espinhos que se moviam como tentáculos nas costas, garras afiadissimas, pele negra e sem olhos. Como sei disso? Havia um saltando em minha direção com sua boca aberta mostrando suas enormes presas que dilacerariam meu rosto, mas houve um clarão e a criatura virou poeira, Jack tinha uma boa mira.

Entrei em estado de choque, meu coração estava disparado, só conseguia tremer, não reagia a nada. O portão se abriu atrás de mim e vi Jack se aproximar de mim enquanto minha visão embaçava, ele estava todo cortado, escorrendo sangue. Seus lábios se moviam, ele gritava alguma coisa, acho que era meu nome.

—Põe ela pra dentro! Rápido! — Era uma voz feminina e vinha de dentro do portão. Foi a última coisa que ouvi antes de desmaiar...

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⏰ Última atualização: Feb 17, 2017 ⏰

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