Terrorweb - Os assassinatos inescrutáveis da deep web

Cicatrizes no asfalto

O vento tremulava a cortina branca da janela e a luz revelava com sua forma tetrágona de feixes, uma horrível mancha de sangue no lençol albugíneo... Papéis voavam pelos cômodos, semelhantes aos vôos helicoidais de borboletas na primavera... O copo de conhaque ainda estava em cima da pequena mesa retangular, exibindo sua cor de âmbar e com o líquido amargo ocupando metade do recipiente... Parei próximo da porta e contemplei meu cadáver em desalento... Sim, meu caro leitor. Estou morto e vou lhe mostrar como fui levado para uma armadilha mortal; apontarei todas as falhas da minha missão, enquanto torço para que alguém encontre meu corpo a tempo de um enterro decente. Não tenho parentes vivos, portanto, acredito que o síndico do prédio encontrará meus restos mortais daqui a alguns dias, quando vier cobrar o aluguel.

Temos que voltar novamente no passado. Naquela fatídica sexta-feira, já se completava dois dias do desaparecimento, quando interroguei outra vez a família. A primeira foi a governanta, que se mostrou bem atenciosa às perguntas, mas que não houve muitas novidades para a investigação. Logo em seguida, entrevistei a mãe acompanhada da filha mais nova. Visivelmente abalada, a mãe balbuciou algumas palavras confusas, aparentemente, sob efeito de sedativos. Um fato interessante ocorreu. A filha dela demonstrou durante todo o interrogatório, um semblante impassível. Quando as duas se retiraram, observei um bilhete de anotação com detalhes de desenhos em forma de corações. Ao abri-lo, estava escrita a seguinte mensagem: Ela está bem.

Refleti um pouco sobre aquelas palavras e deduzi que a irmã mais nova sabia de algo importante. Esse foi o meu primeiro erro. Pensei em não interrogá-la, pois acreditava que meus clientes não permitiriam tal intimidade. O último a ser entrevistado foi o pai da menina, o austero Sr. Monterosa, dono de uma das maiores empresas de cimento e materiais para construção civil do país. Seus empregados costumavam chamá-lo de "conde" devido à origem nobre de sua família, famosos senhores de engenho e importantes figuras da sociedade elitista no passado.

Foi uma entrevista difícil de realizar. Encarar nos olhos, aquele rosto formidável, com os olhos fixos, enquanto eu era encarado por seu fiel segurança, abalou as minhas terminações nervosas, dos pés até todos os músculos da face. Não tive progresso. Na verdade eu que fui o interrogado. O empresário me ofereceu uma proposta extraordinária, sendo que, retirava eu da minha principal linha de investigação, para que houvesse uma investigação exclusiva aos seus rivais no assunto. Neste contrato, eu deveria conseguir com a polícia comum, provas que incriminassem seus inimigos.

O Conde estava convencido da participação dos rivais em um suposto rapto premeditado. A proposta era muito atraente e eu conseguiria com muita facilidade o que ele queria. Infelizmente leitor, aceitei o dinheiro oferecido, pois gostaria de dar uma pausa em minha carreira após este caso. Este evento iniciou a minha derrocada na missão. Um segundo evento naquele mesmo dia, mudaria novamente o foco da investigação.

Deixei a mansão da família, decepcionado com os resultados alcançados. Segui então para a central de comunicações, a fim de obter novidades do Agente Joaquim. Ele havia conseguido às imagens da câmera do posto. No vídeo, a garota segue com o homem vestido de faxineiro até o ponto de ônibus em frente aos fundos do shopping; pegaram um táxi, que tinha o número 71 inscrito na lataria. Pedi ao Joaquim para entrar em contato com o taxista. Fui em seguida até minha sala ao lado, com o intuito de acompanhar pelo computador as últimas notícias da polícia. Encontrei informações sobre o investigador Tavares, que encontrou uma parte das jóias roubadas, mas nenhuma pista dos fugitivos.

Resolvi ir para casa descansar; quando fui me despedir de Joaquim, este me trouxe uma informação sobre um acidente automobilístico e me orientou a desviar do caminho para eu não pegar um congestionamento. Como estava de cabeça cheia, esqueci de pegar o atalho e foi quando passava pelo local do acidente, encontrei o novato Novaes conduzindo as investigações. Ao descer do carro e acenar para ele, começou a dizer como ocorreu o evento.