Minha pequena sempre fora fria comigo. Os olhares que ela me lançava, alimentavam uma imensa fúria em meu interior. Desde que era um lindo bebê em seu berço deslumbrante, ela teve tudo o que minha fortuna pode lhe proporcionar. Roupas, brinquedos, confortos de toda natureza; o que sempre pedi em troca, foi o seu mais pleno amor por mim.
Com ela ocorria frequentemente uma tendência a ser rebelde igual à sua tia; há muitos anos, minha irmã desafiou a mim e o meu pai sobre o futuro que planejamos a ela. Não aceitaria se casar com um corrupto político, do qual procurávamos promove-lo a governador e lutar por nossos interesses em seu governo hipotético.
Minha irmã Beatriz, rendeu-se aos desejos mais profanos da carne. Teve relações com mulheres, travestis, homens virgens em bando, mendigos... Jogou literalmente o nome da nossa família na latrina. Cuspiu naqueles que patrocinavam suas perversões. Nossa resposta às suas insolências: apenas alguns avisos.
Beatriz gastou uma parte considerável de nossos rendimentos. Alegava que isso se chamava justiça social. Que devolveria tudo o que havíamos tomado dos mais humildes. A ela foi permitido dizer e praticar todas estas loucuras, enquanto meu pai ainda era vivo. Mas o dia da redenção de meu pai estava próximo. Morreu tranquilamente após uma overdose de calmantes, pois já não podia suportar mais os efeitos da gota, que o atingia havia 30 anos. No dia do seu velório, estopim ocorreu. Compareceu à cerimônia bêbada e nua. Com uma garrafa de uísque na mão, subiu em cima do caixão do finado e simulou um ato sexual, penetrando o pescoço d garrafa em sua vagina.
Eu mesmo e mais alguns seguranças retiramo-la à força dali e a aprisionamos em um dos quartos da casa. Proferi a ela todos os insultos que guardei em meu íntimo há anos. Ela se contorceu e riu como uma desvairada que era, dizendo inúmeras blasfêmias. Fiquei enlouquecido. Tirei o cinto da calça e a chicoteei, como se chicoteia uma fera. E ela ria e continuava a simular prazer pelos golpes desferidos por mim. Lembrei então que sempre foi prazeroso a ela, contrariar a mim e meu pai. Ofegante, parei de estalar o cinto em sua direção.
Lembrei da garotinha amável que foi minha irmã. Seu rosto cheio de sardas e os cabelos ruivos encaracolados com um enfadonho sorriso entre as pequenas bochechas rosadas. Quando tive esse pensamento, desisti do desejo de cometer algum mal a ela. Não por enquanto. Do mesmo modo que os dias cinzentos e encobertos por um véu de brisas negras passavam, os dias agradáveis e com mil verões retornaram. Tudo voltou ao normal, quando acolhemos em nossa residência um frade abaçanado em um dia chuvoso. Este devoto da igreja conseguiu angariar a empatia de minha família e o mais incrível, a simpatia de minha espinhosa irmã. Em poucos dias, uma inesperada mudança ocorreu em seus olhos, semblante e mente.
Apesar de aprovar a amizade do frei com minha família, comecei a sentir um incômodo com os inúmeros pedidos de adiamento de sua partida. Os dois passavam muito tempo juntos, orando às portas fechadas no quarto dela. Ás vezes, os sermões iniciavam-se logo antes da alvorada. Realizavam prodigiosos jejuns e apenas comiam algum pão ou caneca de mingau, após uma semana.
Até que houve um dia, que o silêncio tornou-se insuportável e forçamos a porta do quarto onde os dois encontravam-se; estava vazio. Coloquei os seguranças para vasculhar a região e encontrar o rastro dos dois. Ofereci recompensas por informações e prestei queixas nas autoridades. Não tardou para aparecer pistas do que havia acontecido. Minha irmã encontrava-se habitando uma abadia, sendo a mais noviça entre as feiras. Fiquei satisfeito com seu novo modo de vida e a deixei seguir seu caminho; conhecia as consequências por contrariá-la...
Tive um período de tranqüilidade. Consegui elevar mais ainda o nome de minha família a partir dos meus negócios. Os Monterosa eram temidos por pessoas sensatas e sempre requeridos como convidados em confraternizações por pessoas ainda mais sensatas. Mas mesmo acreditando que minha irmã havia se transformando para alguém guiado pela luz, após um ano, descobri que ela havia gerado um filho. O recém-nascido era negro e não restavam dúvidas quanto à identidade do pai. O frade atraiu sobre si, a mais impiedosa fúria que angariei em toda minha vida. Resolvi eliminá-lo antes que desgraçasse a vida de mais alguma donzela. Encontrei um pároco alcoólatra, para acabar com a vida do infeliz. Em troca, o padre pecador (que venderia até a alma de sua mãe em troca de mais um copo de vinho) receberia uma nova adega de vinhos vagabundos.
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Terrorweb - Os assassinatos inescrutáveis da deep web
Mystery / ThrillerNo lado obscuro da internet, atividades ilícitas atraem indivíduos comuns em busca de satisfazerem os seus mais ocultos e sórdidos desejos. É nesse submundo, que um renomado detetive particular é tragado pela obsessão em desvendar quem são os crimin...