O lago, a descendente e a visão

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- Abre. - Disse Cody. - É só abrir. Não temos nada a perder.

- Temos sim! - Gritou Alex. - A vida!

O prisioneiro e eu nos entreolhamos, sem saber se ríamos mesmo sem querer da piada sem-graça do pequeno tigre, ou se continuávamos em silêncio dando o maior vácuo nele. Acabamos optando pela segunda opção.

Enfim, tomei coragem e abri o alçapão. De primeira, visualizei um grande túnel quase sem-fim. Mas de segunda olhada, vi uma pequena luz azul no fim do mesmo.

- Vamos morrer. - Brinco. - Aquele é o brilho do paraíso, daqui dá pra ver.

- Sério? Mas o paraíso não é pra o céu? E o céu não é pra cima? - Cody pergunta, olhando curioso.

Eu, irritada com a lerdeza daquele crianço peculiar, fiz a primeira coisa que me veio na cabeça.

- Quer descobrir?

- Não.

- Mas vai mesmo assim. - Falo, e o empurro.

- Chantelle! - Alex grita.

- Ai meu Deus, o que foi que eu fiz!? Me segura que eu estou descendo junto!

Me jogo no buraco, e fecho os olhos sem saber o que esperar.

- Aaah! Mas minha nossa, essa queda não acaba nunca? - Pergunto, mais para mim mesma do que para qualquer um que estivesse ali para ouvir.

- Uh, me pergunto o mesmo.

- Me esqueci que não estou sozinha.

- Eu gosto de você.

- Hã?

- Quê?

- Esquece.

Finalmente nos aproximamos da saída, ou pelo menos, o lugar que nos fornecia luz.

- Feche os olhos e a boca. - Diz Cody, olhando para mim.

- Por quê?

- Não dá tempo de explicar. Apenas faça isso.

Começamos a cair mais rápido, e então ele foi em direção a um grande lago antes de mim. Mergulhei logo em seguida.

Entretanto, eu não estava completamente salva. Pelo menos não aparentemente.

Assim que mergulhei, me teleportei para algum lugar até então desconhecido. E só aí percebi: Eu estava de mãos dadas com o Cody.

- Você está aqui? - Pergunto, segurando firme. - Eu não posso estar sozinha...

- Chantelle, eu não posso entrar aí com você, eu vou ter que te soltar...

Senti seus dedos deslizarem para cima da minha mão, me soltando e permitindo-me ser puxada por uma onda muito forte.

- Cody! Socorro! - Grito.

- Me desculpe. - Ouço-o sussurrar.

Apesar de meu elemento ser água, não consegui controlar aquelas ondas.

Fui jogada com força em algo semelhante ao mar. Senti começar a afundar. Nunca fui uma nadadora boa, mas ali não conseguia nem me mexer.

Via meu cabelo acima de mim, flutuando pela água. Oh, sim, certamente uma visão muito bela. Eles, sedosos e macios, seria perfeito se eu não estivesse começando a perder o ar.

"Até que afundei rápido." Penso, tocando na areia. "Esse mar não é tão fundo. Hum, estranho. Mas também, o que não é estranho por aqui?"

- Olá, Chantelle. - Ouço uma voz misteriosa. - Lembra-se de mim?

Ouço passos. Eu disse passos? Esqueci de dizer que não estou mais no mar. De repente afundei na areia, e caí, em uma grande e dolorosa queda num piso, aparentemente de uma mansão ou algo do tipo.

- O que quer comigo, seja lá quem você for? - Pergunto, montando minha posição de ataque.

- Ah, não se preocupe, sou apenas uma garota. Assim como você, fui a descendente. Sabia que daqui a três séculos, quando você morrer, esse será seu trabalho? Eu fui a última Rainha de Guerra, e o destino delas após a morte é servir de guia para as novatas.

A garota sai de um dos corredores do lugar aonde eu estava caíd. Era loira, com olhos azuis e um corpo escultural. Um vestido azul curto, com um pequeno decote e uma saia um tanto rodada.

- Uh, olá. - Digo. - Então você é a minha avó? Que graça. É bem nova, não?

- Por enquanto não estou aberta a piadas. Não sou sua avó. E nem nenhuma familiar.

- E o que quer?

- Quero lhe dizer suas verdadeiras origens.

- Eu quero voltar lá pra cima. Quero ir com o Cody e com o Alex, sair daqui. Sair de perto de você.

- Só fará isso quando eu quiser. - Estala os dedos. - Enquanto isso, permanecerá sentada.

Uma fita mágica me envolve, e me posiciono em cima de uma cadeira, sentada.

- Certo, já entendi a mensagem de silêncio.

- Fico feliz.

Estala os dedos novamente e eu me encontro como estava inicialmente, podendo me mover livremente.

- Certo. Já devem ter lhes dito que você é mais que especial. És uma benção, concebida pelo deus Poseidon. De início, acreditava-se que você era filha dele e de Afrodite, tornando-se assim uma deusa por completo.

- E não sou?

- Não. É uma semideusa, e a sua outra parte é de fada.

- Eu nunca acreditei em fadas.

- Ah, acreditou sim.

- Está bem, mas vamos manter isso em segredo.

- Sabia que você iria concordar. Continuando, sua transformação só estará completa depois que você passar por toda esta história.

- Tem alguma cama por aqui? Estou com sono.

- Sh. Continuando. Você foi doada a Rainha de Guerra, para nascer na barriga da sua mãe: Martha.

- Quem me entregou aquela caixinha?

- Seu pai. Poseidon. Passe por esse corredor.

Pisei no tapete de "bem-vindo" e bati na porta, que se abriu. Entrei, e a mesma fechou-se.

Começaram a passar imagens em minha cabeça, e gritos, muitos gritos, porém uma imagem me chamou a atenção. Era a imagem em que haviam duas garotas. Em seguida, aparecia mais uma. As três estavam de mãos dadas, e elas brilhavam, brilhavam muito.

Estava admirada, e cheguei na outra porta, do outro lado.

Abri, e saí no mesmo lago da queda, vi Cody chorando sentado numa pedra, cabisbaixo.

- Eu deixei ela morrer! - Ele dizia. - Foi minha culpa!

- Olha ela ali! - Alex gritou.

Saí da água, e subi na pedra. Assim que deixei de tocar o lago, comecei a sentir uma dor muito forte nas costas.

- É a de perdê-las... - Sussurrei.

Foi a última coisa que me lembro antes de apagar.

Victory - Muito além de um vídeo-gameOnde histórias criam vida. Descubra agora