Um whisky e um beijo

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Eu não gostava disso. Eu não gostava dele. Eu sabia antes mesmo de começar. Tudo isso tinha que parar. Eu tinha que parar. Toda noite um novo rosto. Toda noite uma cama nova. Aquilo não era o que eu queria. Aquilo não me saciava. Não. Já tinha deixado de lado o saciar e o não saciar, eu sabia bem o que queria e não era nada daquilo.

Medo. Era esse o sentimento que me impedia de seguir, mas ao mesmo tempo eu me sentia vazia e solitária. Nenhuma daquelas almas conseguiu, ao menos, me entreter, muito menos seus corpos. Negros, brancos, magros, gordos, definidos, nenhum.

Eu estava em um quarto com um cheiro fétido, um colchão de espuma bolorenta e lençóis velhos, um armário de maneira que havia sido montado torto e uma pequena janela que dava para os fundos de outra casa, uma não tão melhor que aquele quarto.

Enquanto eu estava sentada na cama, com as costas apoiadas na parede e de joelhos junto ao corpo, soltando a fumaça do cigarro, olhava para a parede em frente, queria saber o que fazer, mas eu não sabia. Aquela sensação de desolação que me assombrava era o que havia de pior. Me sentia suja e sem valor. Era como se minha vida, meu corpo, não passassem de diversão barata para outrem.

Um corpo suado estava na minha frente. Ele era bonito. Mas ele também não me satisfez. Seus cabelos cortados curtos, seu corpo definido, seu rosto masculino de traços fortes e olhos claros, tudo isso ficava muito bem dentro da sua farda de militar, apenas um soldado na folga, mas um corpo bonito e uma nova tentativa.

Sentia o cigarro queimar os dedos e sabia que era hora de ir. Sai da cama e recolocava sua calcinha, a meia calça arrastão e então o vestido vermelho colado ao corpo que tinha um decote profundo nas costas, por último calçava a sandália preta de salto alto.

A noite já estava em uma hora avançada e nem por isso estava em minha mente que eu deveria voltar para meu apartamento. Não me sentia em casa lá, só era um lugar onde estavam minhas coisas. Eu precisava de uma bebida, de uma bebida forte. E era isso que eu ia buscar agora. Bebida forte e barata e música alta, que me impedisse de ouvir os meus pensamentos.

Já sabia onde buscar. Sempre buscava no mesmo lugar, afinal, velhos hábitos eram difíceis de mudar, principalmente quando eles traziam resultado, um resultado que só acelerava minha autodestruição, mas ainda assim um resultado. Então eu ia para a boate, era perto dali, com uma curta caminhada eu chegaria lá.

Depois de poucas quadras, ao virar a esquina pude ver as luzes arroxeadas que iluminavam a porta do lugar, havia algumas pessoas tentando entrar, aquilo me fez sorrir, aquela hora o lugar sempre estava cheio e ao menos que já fosse conhecido não entraria. Quando chego passo pelas pessoas, olho pro segurança, a quem dou uma piscada e um sorriso de canto e adentro o lugar, onde a música começa a engolir as queixas dos que foram deixados de fora.

Me dirigia ao bar, lá eu costumava me livrar de vários de meus problemas. Sentei em um dos banquinhos e esperei o barman me ver. Ele sempre me via, pois ele sempre sabia que eu iria vir. Eu sempre vinha. Então ele trazia uma dose de whiskey, eu apenas sorria. Sabia que ele já tinha anotado aquilo antes mesmo de me ver. Apenas trouxe a bebida e eu fui para o meio da pista de dança.

Eu me acalmava lá, eu não tinha que pensar, a bebida desceu queimando minha garganta, eu sentia os corpos suados e agitados ao meu redor, a confusão toda que se instalava no lugar com as mistura das luzes piscando e a música alta me trazia paz. Paz que talvez não possa ser descrita assim, pois eu não acordava realizada no dia seguinte, nem ao menos no momento depois de sair dali.

Sinto uma mão pequena e fria invadindo o decote do meu vestido segurando minha cintura, de repente a dona daquela pequena mão aparece em minha frente. Ela sorria, determinada, aquele era um sorriso perigoso. Ela me olhou nos olhos como um enfrentamento, ela descobriu que eu aguentava seu olhar, então o sorriso aumentou. E logo os seus olhos examinaram o resto do meu corpo, percorrendo com calma cada curva que eu possuía.

-Vejo que já tem uma bebida, que tal uma companhia? - ela fala numa voz deliciosamente sexy e só então volta a olhar em meus olhos.

-E eu vejo que você sabe o que quer - respondo sorrindo para ela.

Então, mostrando que não é uma garota de palavras, mas sim de ações ela colou nossos corpos e me traz para um beijo ardente, um beijo macio, mas ao mesmo tempo decidido, que me fazia ter arrepios enquanto ela passava suas mãos pelo meu corpo e dizia que me queria. Foi naquele momento que tive certeza do que queria, o vazio dentro de mim se preencheu com um fogo e a solidão dizia que queria dançar com aquela mulher de lábios macios.

Sim, o medo seguir em frente com outra mulher sumira. Ela fizera desaparecer, com seus beijos e carícias que me faziam despir-me de todo e qualquer pudor que eu inventara para me negar esse prazer.


Minha Alma em LamentosOnde histórias criam vida. Descubra agora