É de manhã bem cedo, chove à vontade e a garoa embaça o vidro da janela. Débora dorme profundamente encolhida sobre mim com a cabeça deitada em meu peitoral. Eu mexo em seu cabelo com a ponta dos dedos enquanto encaro o teto e me pergunto se não sou eu o homem mais feliz que viveu e jamais viverá na face da Terra. A vendo adormecida fica compressível que Lúcifer tenha tido inveja, não de nós, mas de você. Mas nem mesmo ele seria capaz de te odiar se tivesse a visão que tenho. Nossas vidas nunca foram fáceis e hoje agradeço que tenham sido tão difíceis ao ponto de nos unir.
— Bom dia. Sussurra ela, me pegando de surpresa em meio ao meu momento de reflexão.
— Bom dia, mulher de minha vida. Dormiu bem? A observo enquanto mexe nos cabelos do meu peitoral.
— Não poderia ter dormido melhor, e você? Sorri para mim.
— Faça de suas palavras as minhas. Sussurro contra os teus lábios. – Infelizmente preciso me ir. Minha aula começa logo e o teu pai me mataria, literalmente, caso abrisse aquela porta e se deparasse com essa imagem renascentista de nós dois.
— Daria um bom quadro, não?
— O mais valioso deles. A beijo brevemente e logo cato as roupas que em seguida visto. — Nos vemos daqui a pouco, daremos uma volta por Paris.
— Só nós dois? Diz ao mesmo em que me entrega a minha meia.
— E ninguém mais. Agora, meu beijo. Ela se ergue e passa uma de suas pequenas mãos sobre meu cabelo.
— Boa aula, homem de minha vida. Sussurra entre o beijo.
Dou um último trato nas roupas sobre meu corpo e sigo em direção à janela, mas não sem antes olhar para trás e ver a imagem afrodisíaca da qual nunca mais me esquecerei. Feixes de luz a completam da cintura para baixo, descabelada, sorridente. É o paraíso na Terra, um olhar de três segundos que equivale a uma eternidade. Saio pela janela, e em puro êxtase garanto que poderia voar por ela. Reflito acerca de cada detalhe da noite passada no caminho de volta para casa. Tudo parece-me contagiante, irradiante. Até a mais insignificante das folhas que caem das árvores. Talvez seja que o amor esteja nos detalhes, independentemente do grau deles.
Na universidade eu passo a auxiliar o senhor Antô e hoje a aula foi divertida como nunca antes.
— Bom conhecer o seu lado bem-humorado, Mr. Bernardo.
— Está sendo bom para mim também o conhecê-lo, Sr. Antô.
— Tenha um bom fim de semana.
— Igualmente.
Saio da sala e logo a vejo me esperando encostada sobre a parede no corredor. O uniforme lhe cai bem, uma mistura meiga e erótica como dois em um.
— Construindo muitas casas de lápis? Me aproximo segurando sua cintura.
— Construirei a nossa casa um dia. Ela sorri para mim e eu para ela.
— Não tenho dúvidas quanto a isso, meu amor. Selo um beijo em sua testa e logo pego em sua mão a conduzindo junto de mim para fora da universidade.
Já na calçada, passo um de meus braços sobre seus estreitos ombros e caminhamos até o parque mais próximo no qual entramos após a compra do bilhete. A forma como a qual ela sorri é uma morte para mim que vale a pena ser vivida.
Passamos a tarde experimentando toda a diversão que o parque tinha a nos oferecer, de tiros ao alvo à cenários aterrorizantes. E então, já pelo anoitecer, a levo à roda gigante.
— Paris é ainda mais bela daqui de cima, não? Tímida, ela concorda com a cabeça. Me viro para ela.
— O quê? Me olha de canto.
— Deixe-me te ver. Ela vira o rosto para mim e me encara hesitante.
— Nem mesmo toda a Paris chega aos teus pés. Seguro o seu doce rosto com uma de minhas mãos e então a beijo lentamente até que retrocedo ao ser interrompido pelo solavanco da roda gigante que para devido a um apagão.
— O que houve? Ela soa preocupada e me agarra sem soltar enquanto eu rio de sua reação. - Do que está rindo, Bernardo?
— De você, do que mais seria?
— É engraçado para você?
— Mais do que parece. Sorrio e a envolvo entre os meus braços ao mesmo em que repouso meu rosto sobre seu cabelo macio.
— Estamos no alto. Sussurra.
— O céu é o limite. Sussurro.
— Por que nunca fala de sua família? Ela me olha.
— Não há nada a ser dito.
— Sempre há, me diga.
— Não vai descansar até saber, não? Balança a cabeça de um lado para o outro. — Se eu te dissesse que está entre os braços do sucessor ao trono russo, grão-príncipe de toda a Rússia e filho único de Ivã IV, O Terrível. Acreditaria? Ela arregala os olhos.
— Eu... Meu senhor...
— Por favor, Bernardo. Ela respira profundamente e torna a me olhar.
— Isso muda tudo. Endureço o meu semblante.
— Não muda nada, não muda o meu amor por você e a minha forma de te amar. A Rússia pode ser o maior país deste mundo e para mim seria o menor dele sem te ter.
— Sou uma mera filha de mercantes. Abaixa o olhar e posso ver algumas de suas lágrimas decaírem.
— Você não é menos do que eu sempre quis mesmo sem saber o que queria. Seguro o seu queixo e o ergo fazendo-a me encarar. — Você é tudo para mim, Débora. Colo a minha testa na dela. — Não me deixe, pois eu jamais a deixaria. Sussurro.
A energia é restaurada e a roda gigante volta a girar até nos deixar no chão. Saímos dela e em seguida do parque, em silêncio nós caminhamos até sua casa e antes de entrar ela beija o meu rosto. Foi quando pude notar que até um beijo pode ser mais mortal que a mais potente das armas. Vê-la fugir de meus braços no rumo ao incerto me destruiu.
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Multiverse : Le bonheur d'un monde qui compense la tristesse de l'autre
RomanceBernardo é um jovem aspirante à monarca em busca de sua razão existencial, tendo a encontrado no momento mais inesperado de sua vida.