SATANÁS A SERVIÇO DE DEUS

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Chovia na maior parte do percurso enquanto seguíamos pela Br-116 rumo a Curitiba. Embora o apelido da estrada fosse "Rodovia da Morte", ela não nos amedrontava, talvez porque já havíamos feito várias vezes o trajeto de São Paulo até a capital paranaense e vice-versa; e também pelo fato de confiarmos na proteção de Deus. A viagem seguia tranqüila e sem excessos e, como de costume, gastávamos a maior parte do tempo em oração. Foi assim até a divisa de Estados e outros quatro quilômetros e meio depois. Então, aconteceu o que marcaria para sempre minha vida, não pelas implicações naturais do ocorrido, mas pelo que Deus viria a me mostrar e ensinar, bem como pela nova direção que tomaria a minha vida. Estávamos em dois no carro, Harold McLaryea e eu. A equipe ministerial contava com mais um integrante nas viagens, o Robert Ros, que tinha viajado antes de nós. Nós estávamos mudando a base de nosso ministério de Campinas para Curitiba e nesta viagem carregávamos tudo o que coubera no carro, uma Parati. O banco traseiro estava deitado e o carro estava cheio até o teto, além de malas sob nossas pernas que repousavam no chão do automóvel. A soberania divina fez com que a falta de espaço poupasse o Robert do acidente e o levou tranqüilo à capital paranaense num ônibus da Viação Cometa. Foi no dia 23 de Agosto de 1993, uma segunda feira. Não tenho muitos detalhes em minha memória, que apagou quase completamente o ocorrido e que teima em permanecer "esquecida". Mas somei os relatos das pessoas que se envolveram e consegui informações suficientes para entender o que aconteceu. Os pneus já estavam bem gastos e o carro não tinha seguro. Disto, o único culpado era eu mesmo, embora durante vários meses quisesse transferir a responsabilidade para Deus. Quase cinco quilômetros depois de termos entrado no Paraná, ultrapassei um caminhão, e isto fez com que eu elevasse a velocidade do carro a um pouco mais do que a que vínhamos mantendo, cerca de cem quilômetros por hora. O caminhão não queria perder seu embalo e eu forcei um pouco a ultrapassagem, o que me fez terminá-la quando havíamos entrado numa ponte e voltar para minha pista um pouco antes de um outro caminhão que vinha no sentido contrário cruzar conosco. Foi o tempo de voltar e andar uns duzentos metros apenas, então uma aqüaplanagem aconteceu. Chovera toda a tarde, e nesta hora, umas cinco e meia da tarde, caía uma garoa fina, mas a pista ainda tinha muita água. Não sei o tamanho da poça d'água, só me lembro do carro ter perdido a direção e saído da pista para a esquerda. Não colidimos com ninguém, a coisa ocorreu só conosco, e nos levou direto para um enorme barranco com degraus com mais ou menos uns quarenta a cinqüenta metros de desnível.

Ainda me lembro da hora em que o carro saiu da pista e o Harold clamou pelo nome de Jesus. De repente o carro voou barranco abaixo e depois do primeiro impacto deuse um verdadeiro tobogã, que se responsabilizou por fazer com que tudo o que estava no carro fosse jogado fora, exceto o motorista e o passageiro, presos ao cinto de segurança. Fomos parar a uns setenta metros da rodovia. Bati várias vezes a cabeça, o que me fez perder a consciência. O caminhoneiro que eu havia ultrapassado assistiu a cena e parou para prestar socorro; Harold e ele me levaram barranco acima e logo um carro parou, levando-nos até o posto da polícia rodoviária mais próximo; e eles, por sua vez nos levaram até o hospital em Campina Grande do Sul, próximo a Curitiba. Tive traumatismo craniano, levei uns trinta pontos no rosto e na cabeça, e devido à uma fratura mais séria na mão esquerda, precisei fazer uma cirurgia e colocar dois pinos de platina. Por causa da intensidade das pancadas na cabeça precisei passar dois dias em observação na U.T.I. Já o Harold saiu ileso e sem nenhum arranhão. Já no hospital descobri que havia perdido tudo. O carro dera perda total. Nossas malas foram roubadas. Quanto ao resto da mudança, o que não se estragou na queda e no barro, também foi roubado. Mas a dor não era tanto a da perda, mas a de um sentimento estranho que começou a brotar em minha alma. Era um misto de abandono com rejeição; algo contra o qual eu lutava, mas que aos poucos parecia me engolir. Por que Deus havia permitido aquilo? E as orações que lhe havíamos feito? 

O Agir Invisível de DeusOnde histórias criam vida. Descubra agora