Cont. O CANTO DO GALO

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Os discípulos eram homens falhos

Tiago, irmão do Senhor, escreveu acerca do profeta Elias, um dos maiores vultos do Velho Testamento: "Elias era homem semelhante a nós, sujeito aos mesmos sentimentos..." (Tg.5:17). Uma outra versão diz que "era sujeito às mesmas paixões". A tradução de J. B. Phillips diz que "ele era alguém tão humano quanto nós"! Isto deixa bem claro como foi cada um dos homens a quem Deus muito usou em toda a história: frágeis, falhos, tentados, limitados em si mesmos. Não eram os superheróis ou semi-deuses que pintamos em nossa imaginação. Cada um deles foi usado por Deus por dispor-se, anularse, e deixar ser tratado. Entre os doze apóstolos havia muita coisa humana, falhas na alma e no caráter que precisavam ser corrigidas. O sentimento de terem sido os escolhidos do Messias certamente afetou a cada um deles. A honra de terem a constante companhia e intimidade de Jesus, de verem seus milagres e prodígios, e também de serem usados por Deus para operação de maravilhas se torna uma descarga poderosa em cima do ego de qualquer um. E, inicialmente, eles ainda não sabiam como lidar com isto; a sensação de grandeza e superioridade penetrou o interior deles, e pode ser claramente vista em alguns episódios narrados nos evangelhos. Em determinada ocasião, dois deles, sem ainda entender a natureza do Reino que Jesus estava proclamando, quiseram tornar-se os dois homens mais influentes depois de Jesus em seu reinado:

"Então, se aproximaram dele Tiago e João, filhos de Zebedeu, dizendo-lhe: Mestre, queremos que nos concedas o que te vamos pedir. E ele lhes perguntou: Que quereis que vos faça? Responderam-lhe: Permite-nos que, na tua glória, nos assentemos um à tua direita e o outro à tua esquerda. Mas Jesus lhes disse: Não sabeis o que pedis. Podeis vós beber o cálice que eu bebo ou receber o batismo com que eu sou batizado? Disseram-lhe: Podemos. Tornou-lhes Jesus: Bebereis o cálice que eu bebo e recebereis o batismo com que eu sou batizado; quanto, porém, ao assentarse à minha direita ou à minha esquerda, não me compete concedê-lo; porque é para aqueles a quem está preparado. Ouvindo isto, indignaram-se os dez contra Tiago e João." Marcos 10:35-41

Observe que os outros dez indignaram-se contra Tiago e João, mas não por aceitarem o que Jesus lhes falara, e sim porque cada um deles também estava tomado do mesmo sentimento egocêntrico e soberbo. O restante da narrativa de Marcos mostra que Cristo teve que chamá-los para junto de si e estabelecer a ótica correta quanto ao ministério, que é baseada no serviço e não na posição: 

"Mas Jesus, chamando-os para junto de si, disselhes: Sabeis que os que são considerados governadores dos povos têm-nos sob seu domínio, e sobre eles os seus maiorais exercem autoridade. Mas entre vós não é assim; pelo contrário, quem quiser tornar-se grande entre vós, será esse o que vos sirva; e quem quiser ser o primeiro entre vós será servo de todos. Pois o próprio Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos." Marcos 10:42-45

Em meio a este desejo de ser, a esta ânsia de posição, poder e prosperidade, Tiago e João, filhos de Zebedeu foram confrontados por Jesus com a afirmação de que posição como a que eles haviam pedido Ele não podia lhes prometer, mas beber do seu cálice (e isto fala de sofrimento) era algo que eles podiam ter certeza que experimentariam. Em nossos dias, estimulamos muito a busca de poder e prosperidade como se isto fosse a coisa mais importante que um cristão pudesse vir a experimentar, mas Deus está levantando seus profetas para declarar que Ele espera que bebamos o cálice das provações e saiamos não só como vencedores ao fim delas, mas tratados por Ele! Assim como o ouro provado no fogo se torna mais limpo, também sob o tratamento de Deus em meio à adversidade e crises externas e internas, seremos também aperfeiçoados. E isto faz parte do agir divino. Até esta hora, contudo, os discípulos que Jesus escolhera ainda não haviam sido trabalhados interiormente naquele sentido. E o curioso é que o próprio evangelista Marcos relata no capítulo anterior que tal problema já havia se manifestado no meio dos doze e que Jesus, por sua vez, também já havia chamado a atenção deles, ensinando-lhes os conceitos corretos; mas eles só tinham ouvido o Senhor, ainda não tinham aprendido. Observe:

O Agir Invisível de DeusOnde histórias criam vida. Descubra agora