II Viemos Até Aqui, Só Até Aqui.

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A paisagem era linda. A cabana ficava em meio às árvores, perto do lago. Um local que já teve sua glória no passado. Foi principal destino de famílias e jovens, todos iam passar os fins de semana e feriados de verão lá.

Por algum motivo, nenhum em especial, o lugar deixou de ser tão badalado. Essas coisas simplesmente aconteciam, aquilo que foi a maior atração simplesmente deixava de ser, um dia, do nada, sem que ninguém sequer percebesse, apenas acontecia.

Mas isso seria excelente, teriam o local todo só pra eles.

Havia uma pequena cidade descendo a trilha, com mercado, farmácia, e tudo que eventualmente necessitassem. Essa era a beleza daquele local: total privacidade sem se privar de nada. exceto o sinal de celular, as companhias telefônicas ainda não haviam conseguido penetrar aquelas árvores - não era de se admirar, muitas vezes não funcionavam nem em grandes cidades.

A cabana era quase toda de toras de madeira, com uma pequena parte em alvenaria. Possuía um primeiro piso grande, onde ficavam cozinha, sala, banheiro e um pequeno quarto - que virou depósito de coisas obsoletas. No segundo andar ficar o quarto principal, abrigado entre as abas do longo e inclinado telhado.

No quarto havia uma pequena mas bela varanda, o charme do local, pois dava uma visão privilegiada do lago e da pequena cidade além dele.

- querida, chegamos.

- Que maravilha, se não tivesse passado tantos momentos felizes nesse lugar ia achar a paisagem até que um pouco sinistra não acha?

- cuidado, Jaison vai sair do lago para estocar com seu facão adolescente fornicadores durante seus atos carnais - falou Márcio fazendo gestos com as mãos.

- Vou pensar nisso quando você quiser avançar algumas bases a noite - respondeu sorrindo.

- Hoje você não me escapa, se o Jaison aparecer eu acabo com ele. Agora me ajuda com a tua infinidade de malas.

- Claro último dos românticos.

Pegaram as malas e foram em direção a cabana.

- Eu liguei pro João semana passada, ele ficou de passar aqui e deixar tudo arrumado, já chega ter que fazer faxina em casa - Disse Gerusa.

- sempre pensando em tudo esse meu amor.

Subiram as escadas de madeira, ela na frente, colocou a chave no trinco e girou a maçaneta, assim que a porta se abriu, deixou a necessaire cair no chão.

- O que foi? - Perguntou ele parecendo preocupado com a reação de Gerusa.

- Não acredito que você fez isso, você pediu pro Seu João fazer? E como conseguiu esconder de mim?

- Do que você tá falando? Eu...

Não deixou ele terminar a frase é jogou-se em seus braços, beijando-o calorosamente.

Ele sem dúvida não sabia o que tinha feito, mas o beijo mostrava que tinha acertado em cheio.

Espiou pelo canto do olho e também não acreditou no que viu.

A cabana estava toda enfeitada de vermelho. Havia corações, balões, pétalas de rosa pelo chão; a mesa posta para duas pessoas, com duas grandes velas vermelhas.

Te amo, amor da minha vida, feliz dia de São Valentin estavam por toda a parte.

- Aquele maldito do João tinha se superado - pensou Márcio - Sem dúvida merecia um extra depois dessa surpresa.

- Venha cá meu tesão - puxou ele pela gola da camiseta, juntou ao seu corpo e disse - que se dane o Jaison na hora dessas, me lava lá pra cima agora.

Ela trançou as pernas em seu tronco e ele prontamente a carregou escada acima. Não importava quem tinha preparado o ambiente, quem iria se aproveitar era ele.

***

- Vou até a cidade buscar algumas coisas para fazermos o jantar - falou Márcio colocando um calção.

- Só não esqueça do meu chocolate, te espero aqui do mesmo jeito, esteja pronto.

- já estou agora - falou fechando a porta.

A cidade ficava a 10 minutos de caminhada por uma leve trilha. Não tinha muito o que comprar, então decidiu dar uma caminhada, respirar ar puro para variar.

No caminho passou por outras cabanas, a maioria vazia, algumas até davam a impressão de estarem vazias por muito tempo.

- É aí Márcio, aproveitando a cabana do sogrão? - ouviu uma voz familiar vindo de uma cabana a frente.

- E aí Tiago, claro, não sou bobo, fazer uma média com a patroa nesse dia especial.

- que dia especial cara?

- Ué, dia de São Valentin, é o dia dos namorados dos gringos.

- Tá certo você. Tudo é desculpa pra fazer festa.

- Vamos ver se fazemos um churrasco amanhã, de preferência a noite, espero ainda estar de ressaca ao meio dia.

- Marcado, bom te ver.

Não acredito que até aqui tenho que aturar essa gente. Esse cretino do Tiago faz de tudo pra passar por cima de todo mundo e agora quer dar uma de amigão. Azar, não vou me estressar. - pensou.

Apesar do encontro nada agradável, a caminhada por entre as árvores sempre era revigorante.

Chegou ao mercado no fim do dia, no horário de maior movimento - não que isso significasse muita coisa. Parecia que todos os moradores estavam lá - o que também não significava que eram muitas pessoas.

Bom, não tô muito a fim de passar tanto tempo cozinhando, um macarrão a carbonara deve servir. Junto com um bom vinho sempre impressiona como prato romântico - Sempre foi o cozinheiro da casa. E como gostava de cozinhar. Mas hoje queria aproveitar a companhia se sua mulher e não a cozinha parca da cabana.

Então sentiu alguém lhe cutucar o ombro, fazendo com que se perdesse em seus devaneios culinários.

- Não acredito Senhor Márcio, pensei que viriam apenas amanhã a tarde - falou um senhor de estatura baixa e levemente careca, sendo que esta se destacava visto que era era enxergado de cima pra baixo.

- Boa tarde Seu João, você não sabe como é bom encontrá-lo.

- Eu sei, eu sei, é sobre a limpeza da casa. Eu limpei todo o pátio e não tive temp...

- Aquilo que o Senhor fez no interior foi incrível, sem dúvida nunca ganhei tantos pontos na vida.

- Era exatamente sobre isso que eu ia lhe falar Seu Márcio. Eu não tive tempo de arrumar o interior da casa, iria fazer isso amanhã cedo.

Um calafrio subiu a espinha de Márcio. Se o Seu João não havia feito aquilo, que teria?

Abandou a cesta do mercado, esqueceu-se das compras e disparou pela rua, diante da visão incrédula de seu caseiro.

Subiu trilha acima. Felizmente não viu seu interlocutor anterior. Passou pelas cabanas abandonadas até chegar a sua própria. Chegou ao topo da escada de entrada com um só salto e abriu a porta.

Junto com os balões e corações vermelhos de São Valentin estava o corpo nu de sua mulher pendurado de braços abertos no mezanino, com uma mensagem escrita a sangue na parede

"EU FIZ A DECORAÇÃO, A PUTA É MINHA"

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⏰ Última atualização: Feb 15, 2017 ⏰

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