Capítulo II

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Seja Sem Vergonha!

— Não, não, não! — Tânia repetia, totalmente frustrada comigo, andando de um lado para o outro em sua sala de estar, com as mãos em concha próximas ao rosto, as veias delas saltadas. — Catrina, me diga que não fez isso! — seu tom agora era quase ameaçador, parecido com o de uma mãe quando se recusa a acreditar que seu filho fez uma merda das grandes, e eu realmente fiz uma. — Poxa vida, ele te ama! — suspiro, derrotada, em resposta.

Noite passada, antes que Jorge abrisse a porta, peguei os potinhos, corri para o quarto e fingi estar dormindo. Ouvi atentamente cada movimento seu, quando andou calmamente por sobre o piso de nossa sala, quando seus passos foram silenciados pelo tapete do corredor, e ele parou, abriu a porta do quarto das crianças por um instante, provavelmente para observá-las dormindo, a fechou após alguns segundos e seguiu adiante, entrando em nossa suíte — modo sutil de me referir ao nosso pequeno quarto com um banheiro simples — e sentando-se em seu lado da cama, ele acariciou meus cabelos com cuidado e leveza, como se não quisesse me acordar, e ouvi quando disse baixinho "Eu te amo, Cat, minha gatinha, durma bem", levantou-se e, em silêncio, seguiu para o banheiro afim de tomar um banho.

Admito, aquelas palavras me pegaram de surpresa e fizeram eu me sentir ainda mais idiota por fugir dele como uma garotinha assustada. As lágrimas rolaram antes que eu pudesse impedi-las e eu sabia que nunca estive mais errada. Pensei em sentar na cama, falar com ele, como deveria ter feito em vez de guardar tamanha insatisfação e jogar tudo nele sem nem ao menos ter lhe dito uma única vez o quanto a situação vinha me incomodando, mas me senti tão envergonhada depois de ouvir suas palavras sinceras, sussurradas quando, para ele, eu nem mesmo poderia ter consciência delas, que deixei a chance passar, continuando a fingir quando ele saiu do banheiro e deitou-se, que estava embalada num sono muito pesado. Hoje pela manhã, não houve conversa, ele parecia tentar começar a dizer algo sempre, mas as crianças estavam pulando e brincando pela casa sem parar, o que acabou por fazê-lo desistir e ir para o trabalho visivelmente cabisbaixo. Corri para a casa de Tânia assim que terminei meu turno como recepcionista no hospital próximo à nossa casa, onde já trabalhava há dez anos, às quatro da tarde. Ela me recebeu com um enorme sorriso que desapareceu ao ver meu estado. Choroso era pouco para defini-lo.

— Trina... — ela começa, com a voz controlada e tranquila agora, como normalmente era. — Por que fez isso? — questiona, cautelosa.

— Eu tive medo de que ele me achasse uma idiota, anjinha. — expiro lentamente. — Eu fiz tudo errado, sabe? O que eu te disse ontem, em grande parte, joguei na cara dele, sendo que nem uma única vez falei o quanto tudo aquilo me incomodava, e agora estou me sentindo como se houvesse valorizado seu amor apenas quando o perdi. Jorge é um bom pai e por mais que tenhamos nossas brigas, ele realmente me desejava e agora é como se qualquer coisa que eu faça para reverter nossa situação e pedir que volte a me tocar seja uma completa loucura. — termino, tão envergonhada por admitir aquilo que não conseguia olhá-la nos olhos.

— Catrina Medeiros Silva, pare com isso já! — sua voz era autoritária, o que me fez levantar a cabeça e encontrar um olhar compreensivo. — Eu entendo que se sinta assim, mas continua sendo uma das coisas mais idiotas que já ouvi saindo da sua boca. — ela revira os olhos. — Você estava cansada, droga! De que adianta o cara te desejar se ele não se empenha em fazer amor contigo? Acha que só enfiar o rapazote em você vai te deixar mega feliz, porque qualquer um que ache isso é um completo imbecil por melhor pessoa que seja. Pare de se refrear por inseguranças tão tolas, ele é seu marido, te ama e vai ficar maluco com uma surpresa dessas. — ela segura minhas mãos enquanto fala, e por mais que eu saiba que está com a razão, não me sinto pronta para fazer isso.

— Anjinha, eu não sei como fazer isso, você sabe, ser sensual e irresistível. Olhe para mim! Estou acima do peso, com estrias e um cabelo que mais se parece com palha! Minhas olheiras são tão profundas que devo estar a cara do Conde Drácula. — ela ri.

Prazer & Liberdade: Até Onde O Amor Pode Suportar? (Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora