— Sejam bem vindos à minha casa — Kael estava com um sorriso no rosto. Jogou sua mochila no sofá e o tirou o tênis. — Pode fingir que estão na casa de vocês.
Leon passava o olho por toda a casa. Era um pouco escura e decorada com objetos de cerâmica da cor vinho. Tinha carpete por todo o canto. Os olhos de Leon bateram num Xbox que estava na estante. Como se lesse seus pensamentos, Kael disse:
— Vocês podem jogar Just Dance enquanto eu preparo o almoço, se quiserem.
— Será ótimo — Leon respondeu.
Então Kael colocou o jogo em modo combate. Leon espreguiçava seu corpo, pronto para dançar. Joaquim estava um pouco tímido, mas não demorou muito tempo para se familiarizar com a dança. O cheiro do macarrão de Kael estava maravilhoso, o que fez Joaquim se desconcentrar na coreografia de Bang, da Anitta.
— Se o sabor estiver tão bom quanto está o cheiro, juro que sempre irei almoçar aqui — ele confessou.
Leon gostava de dançar, mas Joaquim se saiu melhor para quem nunca havia dançado. De tempos em tempos, Kael interrompia o preparo do almoço e observava os meninos dançarem. Ele os olhava com um sorriso sincero no rosto. Pela primeira vez em anos, ele tinha amigos.
— Vocês não estão nada mal.
— Acho que é meu temperamento artístico — Joaquim respondeu.
Leon sugeriu uma revanche, que Joaquim aceitou prontamente. Levaram a um nível mais avançado: escolheram duas coreografias do Michael Jackson. Na cozinha, Kael ria dos comentários que os amigos jogavam um para o outro.
— Não sei se estou morrendo de tanto dançar ou pelo cheiro da comida — Leon comentou.
No final, Joaquim não deu um pouco de chance para Leon se redimir, vencendo, então, as batalhas de dança.
— Espera só até eu dançar contra você — Kael desafiou Joaquim, lançando um olhar intimidador para ele, fazendo todos rirem.
Em um minuto, estavam prontos para almoçar.
— Eu fiz um macarrão à parmegiana e juro que se vocês não comerem tudo, vou enfiar essa comida por tudo quanto é buraco do corpo de vocês. Grato pela compreensão — Kael disse ao por uma jarra de suco na mesa. — Vamos agradecer pelo alimento.
Nem Leon e nem Joaquim tinham o hábito de orar antes de comer. Na verdade, eles não tinham nem o hábito de orar. A avó de Leon era católica do pé roxo e levava-o à missa todos os domingos. Com o tempo, ele deixou de ir. Leon acredita em Deus e em Jesus e para ele aquilo era o suficiente.
Religião é uma questão de fé. E a fé de ninguém pode ser julgada. Leon aprendeu a respeitar a crença de todos quando começou a pesquisar antropologia. É como se nenhuma religião fosse certa e mesmo assim todas estivessem certas. O que importava para ele era que as pessoas tinham uma âncora espiritual onde podiam se achegar.
Como um ato de respeito a Kael, ele curvou a cabeça e cruzou os dedos, fazendo um agradecimento um pouco confuso a Deus e aos Deuses que quiseram lhe ouvir, porém sincero.
— Amém — Kael levantou a cabeça com um sorriso no rosto. — Podem se servir.
Na primeira garfada, Leon fechou os olhos e sentiu o sabor do macarrão. Estava muito bom. Enquanto mastigava, ele fez sinal positivo com a mão, balançando a cabeça em um "sim".
— Nossa, está maravilhoso! Você cozinha muito bem.
— A Aparecida gosta muito de cozinhar também. Ela quer cursar gastronomia. Vocês podiam trocar algumas ideias. Ela faz cada coisa maravilhosa... — Joaquim completou.
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Efeitos Colaterais
Novela JuvenilNa pequena cidade São Carlos onde o termostato da Terra parece está quebrado, Leon, um vestibulando de dezessete anos, assume sua homossexualidade para sua família e amigos. A ideia de ser gay, na cabeça de Leon, deveria ser apenas homens que gostam...