4 - quem pode nos proteger?

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— Sejam bem vindos à minha casa — Kael estava com um sorriso no rosto. Jogou sua mochila no sofá e o tirou o tênis. — Pode fingir que estão na casa de vocês.

Leon passava o olho por toda a casa. Era um pouco escura e decorada com objetos de cerâmica da cor vinho. Tinha carpete por todo o canto. Os olhos de Leon bateram num Xbox que estava na estante. Como se lesse seus pensamentos, Kael disse:

— Vocês podem jogar Just Dance enquanto eu preparo o almoço, se quiserem.

— Será ótimo — Leon respondeu.

Então Kael colocou o jogo em modo combate. Leon espreguiçava seu corpo, pronto para dançar. Joaquim estava um pouco tímido, mas não demorou muito tempo para se familiarizar com a dança. O cheiro do macarrão de Kael estava maravilhoso, o que fez Joaquim se desconcentrar na coreografia de Bang, da Anitta.

— Se o sabor estiver tão bom quanto está o cheiro, juro que sempre irei almoçar aqui — ele confessou.

Leon gostava de dançar, mas Joaquim se saiu melhor para quem nunca havia dançado. De tempos em tempos, Kael interrompia o preparo do almoço e observava os meninos dançarem. Ele os olhava com um sorriso sincero no rosto. Pela primeira vez em anos, ele tinha amigos.

— Vocês não estão nada mal.

— Acho que é meu temperamento artístico — Joaquim respondeu.

Leon sugeriu uma revanche, que Joaquim aceitou prontamente. Levaram a um nível mais avançado: escolheram duas coreografias do Michael Jackson. Na cozinha, Kael ria dos comentários que os amigos jogavam um para o outro.

— Não sei se estou morrendo de tanto dançar ou pelo cheiro da comida — Leon comentou.

No final, Joaquim não deu um pouco de chance para Leon se redimir, vencendo, então, as batalhas de dança.

— Espera só até eu dançar contra você — Kael desafiou Joaquim, lançando um olhar intimidador para ele, fazendo todos rirem.

Em um minuto, estavam prontos para almoçar.

— Eu fiz um macarrão à parmegiana e juro que se vocês não comerem tudo, vou enfiar essa comida por tudo quanto é buraco do corpo de vocês. Grato pela compreensão — Kael disse ao por uma jarra de suco na mesa. — Vamos agradecer pelo alimento.

Nem Leon e nem Joaquim tinham o hábito de orar antes de comer. Na verdade, eles não tinham nem o hábito de orar. A avó de Leon era católica do pé roxo e levava-o à missa todos os domingos. Com o tempo, ele deixou de ir. Leon acredita em Deus e em Jesus e para ele aquilo era o suficiente.

Religião é uma questão de fé. E a fé de ninguém pode ser julgada. Leon aprendeu a respeitar a crença de todos quando começou a pesquisar antropologia. É como se nenhuma religião fosse certa e mesmo assim todas estivessem certas. O que importava para ele era que as pessoas tinham uma âncora espiritual onde podiam se achegar.

Como um ato de respeito a Kael, ele curvou a cabeça e cruzou os dedos, fazendo um agradecimento um pouco confuso a Deus e aos Deuses que quiseram lhe ouvir, porém sincero.

— Amém — Kael levantou a cabeça com um sorriso no rosto. — Podem se servir.

Na primeira garfada, Leon fechou os olhos e sentiu o sabor do macarrão. Estava muito bom. Enquanto mastigava, ele fez sinal positivo com a mão, balançando a cabeça em um "sim".

— Nossa, está maravilhoso! Você cozinha muito bem.

— A Aparecida gosta muito de cozinhar também. Ela quer cursar gastronomia. Vocês podiam trocar algumas ideias. Ela faz cada coisa maravilhosa... — Joaquim completou.

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