3ª Sinfonia

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Desceu as escadas olhando para os quadros que ornamentavam a parede. Na maioria das vezes que pisava naqueles degraus era obrigado atravessar três fases, como nos jogos de plataforma que jogava. Cada quadro era uma fase. Como estava descendo a escada o primeiro de cima para baixo trazia consigo uma plantação de milho.

— Obrigado por mais uma admiração Joseph. Você é o único dessa casa que olha para meus milhos — disse tristonho o Primeiro Quadro.

Desceu mais três degraus. Olhou para o segundo quadro, em que uma mulher estava de costas, com um vestido vermelho bem longo. Usava um chapéu de madame — também vermelho — enfeitado com rosas bem claras. E para finalizar a obra, segurava um guarda chuva gorducho. Joseph nunca entendia a feição daquela mulher. Parecia jovem e bela, mas quando olhava com mais atenção revelava ser uma imagem amarelada, seus olhos não davam sinal de pupilas e íris. Nos lábios um sorriso macabro com mais dentes que o normal. Aquela imagem fazia Joseph gelar a espinha.

— Que bicho estranho. — Jogou o topete para trás incomodado.

— Mas respeito com sua bisavó Joseph — se defendeu a mulher do quadro.

— Ainda bem que não te conheci, se te conhecesse teria a certeza que comeria minha orelha ou outra parte do meu corpo com esses dentes de tubarão.

Venceu mais alguns degraus e se deparou com o último quadro. Estava levemente torto na parede. Joseph acertou com a mão.

Nesse quadro, havia dois gatos brincando com um novelo de lã. O gato persa tinha a testa franzida e feição severa. O outro parecia um filhote de tigre, tinha os pelos quase ruivos, parecia sorrir com os olhos verdes e redondos.

— Sempre tenho dúvidas de qual gato ganhará o novelo de lã.

Ouviu dois miados, um impaciente e o outro extrovertido.

— Lógico que eles não falam, são gatos. — Deixou una risada grave.

Conteve-se em não olhar para os objetos da sala. Abriu a porta principal e sentiu um vento frio tentando cutucar suas costelas protegidas pelo casaco de moletom.

A grama ferida pelo frio estava presente nosquintais das casas daquela rua. Mas uma coisa não estava presente nas demaiscasas, uma caixa de correio se mexendo.    

Joseph e o PeixeOnde histórias criam vida. Descubra agora