Faço esforço para levantar as minhas pálpebras e, mesmo assim, continuo sem enxergar nada. Minha vista turva, prejudicada por não ter se formado corretamente no útero, necessita de um óculos. Apalpo a cama onde estou, procurando esse simples objeto que me permite enxergar devidamente. Encontro-o.
Visualizo o cômodo onde estou. Um quarto azul com estrelas no teto, uma cama, uma cômoda, um guarda roupa, uma televisão e uma caixa de brinquedos. Após analisar minimalisticamente este local, sinto uma pontada no peito. Euforia toma conta de mim e posso sentir que a dormência de meus músculos não estão cooperando para que eu me sustente em pé. Caio sentado na cama. Não consigo me lembrar de como cheguei até aqui. Não consigo entender como é possível eu estar no meu antigo quarto de infância. Esse quarto não existe mais em minha casa.
Eu não posso estar maluco, ou posso? Meus óculos nem mesmo aparentam defeito. Tento estabelecer uma mísera linha de raciocínio. Tento reorganizar cronologicamente os meus pensamentos, mas nada me remete a isso. Nada me remete a esse meu antigo quarto de infância. Vasculho meu bolso esquerdo atrás de alguma coisa que acabo de sentir. Puxo uma caneta e um papel amassado. Desamasso-o e vejo letras sobre o papel.
"Josh, eu sou você no futuro e estou escrevendo para me ajudar, ou melhor te ajudar, no passado. Tudo pode parecer confuso agora, contudo não se preocupe. É normal. É um efeito que a viagem provoca. Não posso explicar muita coisa. Apenas se lembre do seu verdadeiro objetivo, algo te remeterá a isso. E não se esqueça disso: não deixe que nenhum conhecido seu suspeite que você é você, pois isso pode causar um efeito negativo no tempo. "
Se ele, que diz ser eu, queria mesmo me ajudar, não funcionou. Estou ainda mais confuso do que antes. Que merda de viagem é essa que eu fiz?
Decido vasculhar o quarto. Ando até a cômoda e abro as gavetas. Vejo apenas roupas, porém quando abro a última gaveta me deparo com algo perturbador. Encontro uma foto minha, antiga, com a minha família.O efeito da viagem passa. Flashes surgem na minha mente como um tsunami invadindo um litoral. Parece um filme da minha vida. Me vejo com meus pais e meu irmãozinho em algumas situações até que imagens de quando eu tinha quinze anos, se intensificam. Imagens do acidente que os levou para sempre. Após isso me vejo triste, vivendo o luto e levando a vida sem me importar com nada. Lembro de completar dezoito anos. Lembro do meu amigo nerd, Tom, com teorias de viagem no tempo e o laboratório clandestino dele. Lembro de ir escondido até lá. E a última imagem que passa na minha cabeça é de quando puxei a alavanca da estranha máquina. Então é isso. Deu certo. Eu voltei.
Percebo uma voz que desde os meus quinze anos eu não ouvia mais. Uma voz doce que sempre me aconselhava e que me educava desde que nasci. Uma lágrima surge em meu olhar. É a voz da minha mãe.
— Josh, entra pra lanchar — disse ela.
Olho na janela e me vejo, ainda criança, correndo para dentro de casa. Percebo que sorrio involuntariamente. Não consigo identificar o que se passa na minha cabeça ao visualizar a mim mesmo, anos antes.
Tudo que eu mais queria nesse momento era descer e pular nos braços da minha família. Sentir o abraço, o cheiro, o calor novamente. Preciso ver cada um deles. Foi para isso que voltei. Aliás, não sei porque escrevi aquele bilhete autoexplicativo de maneira que não explicasse nada. Acredito que tinha medo das lembranças voltarem todas de uma única vez e me trazer confusão. Tenho que segurar a emoção e agir com a razão. Nesse momento, sou um estranho para a minha família. Um jovem que eles não conhecem, pois, para eles, ainda sou aquela criança correndo no quintal. Não faço a mínima ideia de como conseguirei me aproximar, de como conseguirei um simples abraço.
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De Volta No Tempo
Short Story#Conto Completo# De volta para anos antes do trágico acidente que levou sua família, Josh tem um único desejo: ver seus pais pela última vez. Seus entes queridos não têm como o reconhecer por causa da diferença de idade, mesmo assim Josh se aproxima...