— Josh? — grita minha mãe.
Desço a escada.
— Estava fazendo o que tanto tempo lá em cima?
Não tenho um espelho para ver a minha reação, contudo sei que estou com uma fisionomia de perdido. Perdido por não saber o que responder.
— Deitei um pouco — digo, sem graça.
— Vamos comigo no mercadinho. Meu filho sempre me acompanha, mas está no colégio.
— Claro!
Nosso bairro sempre teve dois minimercados. Fico imaginando em qual ela irá. Sempre acompanhava minha mãe nas compras, mesmo sem gostar. Minha parte preferida é comer. Comprar os ingredientes e preparar não faz muito o meu gosto, porém ia para ajudá-la. Chegamos no mercadinho da esquina esquerda e pego alguns alimentos, a seu pedido. Empurro o carrinho e comparo preços. Tudo o que eu sempre costumava fazer quando íamos as compras. É difícil segurar a emoção. Em um determinado momento, ela percebe e me questiona sobre as lágrimas. Passo a mão sobre o rosto e digo que alguma coisa caiu no meu olho.
Voltamos para casa e vejo que meu pai chegou do trabalho e que está sentado no sofá. Ajudo minha mãe a por as compras na cozinha e volto para assistir TV com meu pai. Ele pergunta se eu estou conseguindo me adaptar aqui. Respondo que sim. Na verdade, o que eu mais gostaria era que eu pudesse continuar aqui com eles. Gostaria de não ter que me despedir novamente, pra sempre. Não sei como não suspeitam da possibilidade de eu ser um psicopata, visto que fico parado olhando para eles o tempo todo. Fico memorizando cada detalhe dos seus rostos, mesmo que eu tenha certeza que nunca irei esquecer. Afinal, mesmo três anos depois de perdê-los, lembrava de cada detalhe.
Minha mãe trás um lanche para nós e nos faz companhia.
—Josh, fico muito feliz de ver que você está bem entre nós. Depois de tudo que você passou — diz ela.
— Estar aqui com vocês foi a única coisa boa que aconteceu depois que perdi meus pais — digo emocionado na expectativa de sensibilizá-los.Minha mãe que é mais emotiva se aproxima com um sorriso no rosto e me abraça. Quando vejo seus braços vindo em minha direção, sinto meu coração disparar. Movo os meus membros superiores envolta de seu corpo. Encosto minha cabeça em seus ombros e fecho os olhos, lembrando de todos os abraços que recebia dela quando eu acordava. As lágrimas rolam involuntariamente e começo a sentir pequenos soluços. Meu pai se aproxima. Damos um abraço triplo. Queria poder parar o tempo agora. Congelar permanentemente sem nenhuma interrupção. Aperto eles com toda a força que tenho. Sinto uns beijos na minha cabeça que me fazem acabar em lágrimas, ainda mais. Até que, segundos depois, eles se afastam.
— Desculpa pelo choro. É que não sentia... —Não sei como me expressar. Qual palavra usar. —Há muito tempo não sentia esse laço forte, um laço familiar.
Eles se olham um pouco sem graça, afinal, não me conhecem. Eu os conheço mais do que tudo, porém eles apenas se sentiram comovidos comigo desde ontem, quando me conheceram. Não tem como criar um laço familiar com ninguém em tão pouco tempo, contudo, mesmo sem saber quem realmente sou, devem entender os meus motivos para sentir isso em relação a eles.
— Você pode contar com a gente agora! — diz minha mãe e meu pai pronuncia algo em concordância.
Sinto um tremor em minha pele, por todo o meu corpo. É o mesmo que senti quando a máquina estava trabalhando para me trazer para cá. Esse tremor se intensifica, começo a me sentir um pouco mal. Logo agora? Estava tão bom esse momento. Não queria voltar nunca mais.
— Me prometam uma coisa? — digo nervoso.
Eles balançam a cabeça em concordância.
— Me prometam que vocês nunca vão andar de barco na vida?
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De Volta No Tempo
Nouvelles#Conto Completo# De volta para anos antes do trágico acidente que levou sua família, Josh tem um único desejo: ver seus pais pela última vez. Seus entes queridos não têm como o reconhecer por causa da diferença de idade, mesmo assim Josh se aproxima...