PODEMOS

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Por Jon

— Nós já consideramos e reconsideramos todos os outros caminhos! É indiscutível que Hipnos é a nossa melhor chance. — Emma já estava ficando cansada de ouvir sobre deuses e suas biografias.

— Eu concordo, mas como vamos chegar até ele se não dá pra entrar no Hades sem morrer? — Louis interveio.

Emma olhou para mim como se estivesse esperando que eu respondesse. Eu odeio decepcionar alguém, especialmente Emma. Ela sempre foi muito compreensiva com todos, algo que admiro especialmente, mas me sentiria mal de não alcançar suas expectativas, de qualquer forma. Provavelmente ela espera que eu pense numa forma de resolver o impasse da visita ao Hades, mas não vejo como. Por outro lado, quando sugeri que começássemos essa busca pelas Moiras no intuito de concertar tudo isso, também não via solução, até que considerei coisas diferentes.

Certa vez li um livro sobre armadilhas. Nele haviam instruções de como determinar qual seria o comportamento da presa frente a armadilha e assim montá-la de maneira eficiente. Talvez alguma armadilha me seja útil, apesar de que preciso tirar um monstro do caminho e não matar um alce, mas ideia são adaptáveis.

— Asterope, você disse que a passagem do Hades é guardada pela hidra. E que ela só permite a entrada de almas.

— Exato. — Ela confirmou.

— Mas e se ela não soubesse que estamos entrando? — Propus. — Se conseguirmos tirar ela do caminho, podemos entrar.

— É perigoso demais, Jon! Se falharmos e a hidra perceber vocês, ela vai lhes fazer em pedaços.

— Emma está certa. Essa é, de longe, nossa melhor chance. Precisamos entrar naquele lugar, seja qual for o risco.

Asterope relutou por alguns segundos, então cedeu.

— Certo. E como pretende se livrar da hidra?

Esclareci o meu plano, então começamos a trabalhar nos preparativos. Era por volta das quatro da tarde quando terminamos, agora bastava esperar. Ao cair da noite colocaríamos tudo e ação.

Eu havia me separado do resto do grupo e estava sentado ao pé de uma árvore, assistindo o sol se pôr. Gosto de como, nesse período do dia, as nuvens ficam pintadas de laranja e tudo ganha tons quentes aconchegantes. A visão do céu me lembrou de como havia sido o pôr do sol no dia anterior. Eu falei com papai na ferraria sobre a visita que havia feito a Emma. Aquela foi nossa última conversa de verdade. Se eu soubesse que aquele seria nosso último dia juntos eu teria dito tanto mais. Teria o abraçado tão mais forte. Sinto falta dele. Daria qualquer coisa para ter um concelho do papai agora. Meus olhos começaram a se encher. Eu precisava trazê-los de volta. Não suportava a ideia de viver sem eles por mais tempo.

— Tudo bem, Jon?

Olhei para o lado e vi Emma, de pé. A luz do sol refletia em seus cabelos vermelhos e não pude deixar de notar a semelhança entre este e as nuvens coloridas. Aquelas mechas estavam sempre pintadas de cores quentes aconchegantes, não só das cinco às seis.

— Sim, tudo bem. — Disse esfregando as mãos nos olhos para enxuga-los.

Ela se sentou à minha frente e seus olhos ficaram no mesmo nível dos meus.

— Quando falei com a mamãe pela última vez, — Ela começou. — estávamos saindo de casa para o festival. A última coisa que disse a ela foi "vou ficar bem mãe, eu sei me cuidar". Daria qualquer coisa para mudar aquele momento. Para poder abraça-la com toda a minha força e dizer que a amo muito. — Ela fez uma pausa para se recompor. Queria poder consolá-la, mas não havia como. — Se algo der errado hoje à noite, esse vai ser o nosso último momento juntos, e eu não vou cometer o mesmo erro. Não quero me arrepender de não ter aproveitado melhor esse momento como me arrependo de não ter aproveitado meus últimos minutos com a mamãe. Se essa for minha última chance de dizer, quero que saiba que...

— Não vai ser! — Interrompi. — Eu juro por tudo o que há de mais sagrado que você vai vê-la de novo. — Olhei no fundo dos olhos dela. — Vamos trazê-los de volta.

Ela sorriu levemente e me abraçou.

— Obrigada! — Disse no meu ouvido antes de largar.

Eu não sabia de onde tinha vindo toda aquela segurança, mas ela tomou conta de mim. Sinto que podemos fazer isso. Sinto que vamos fazer isso.


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mil perdões à quem estava acompanhando o livro pelo hiato entre o capítulo anterior e este. Estive tão cheio com isso de escola e piano e vestibular e vida social, tudo ao mesmo tempo, que não pude me dedicar como deveria a esse projeto, mas acredito que as coisas estejam voltando ao normal e pretendo escrever com maior frequência.

novamente, agradecimentos à Ana_claraErnesto por me ajudar a ver esse capítulo por outros olhos.

muito obrigado pelo carinho e paciência ❤︎

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Outono em Old RiverOnde histórias criam vida. Descubra agora