Oito horas e cadê você?
Eu te esperei, no telhado, como você pediu, como sempre fazíamos, mas onde você estava?
Eu achei que íamos fugir juntos, tínhamos programados tudo, por que me deixou?
Nove horas, você está atrasado, mas eu continuo aqui, sentada em cima das telhas vermelhas, com minha bolsa nas costas e o céu a cima de mim.
Dez horas, eu já estava desistindo, você não viria não é mesmo? Não consigo entender.
"-Eu não aguento mais esse lugar, eu ODEIO essas pessoas! - Falei em desespero andando de um lado para o outro do quarto, as lágrimas já encharcavam meu rosto, era apenas mais uma crise de ansiedade.
-Calma Angel. - Ele se levantou vindo até mim e me abraçou enquanto eu me encolhia em seu peito.
-Eu não aguento mais. - Choraminguei.
-Eu sei querida, eu sei que está sendo difícil, mas eu estou aqui certo? - Ele apoiou seu queixo no topo da minha cabeça enquanto afagava meus cabelos e eu apenas concordei deixando meus soluços tomarem conta do quarto. - Nos vamos embora daqui, eu prometo. - Ele sussurrou."
"Minha respiração começou a ficar descompassada, minha barriga se revirando, minha cabeça pensava em tudo e ao mesmo tempo em nada, eu não conseguia organizar meus pensamentos fechando e abrindo as mãos, o desespero tomando conta de mim. Eu não sabia o que fazer.
Ouvi um barulho e me virei para minha janela com os olhos arregalados. Era ele.
Corri até a janela e tentei abri-la, mas minhas mãos tremendo não estavam ajudando muito e aquilo me deixou ainda mais desesperada. Assim que consegui abrir ele pulou para dentro me arrastando para o meio do quarto, eu já não conseguia respirar.
-Meu deus. - Ele sussurrou. - Ta, calma. - Ele viu minhas mãos inquietas e olhou ao redor do quarto me deixando para pegar alguma coisa.
-Eu não consigo respirar. - Falei sentindo meu corpo inteiro tremer enquanto eu forçava minhas unhas contra minha própria pele.
Ele voltou com um caderno em mãos e me colocou sentada na cama. Ele arrancou uma folha do caderno e puxou minhas mãos fazendo eu tirar a minha atenção de um ponto no chão e olhar para seus olhos.
-Rasga esse papel, amassa, sei lá, faz o que quiser. - Franzi o cenho olhando para ele sem entender como isso me ajudaria. - Confia em mim. - E eu o fiz. Peguei a folha e observei o papel por um momento antes de rasga-la ferozmente e de novo e de novo, até não sobrar nada, peguei o caderno de suas mãos arrancando outra folha, e outra, rasgando tudo, amassando, e jogando, e aquilo de alguma forma foi me acalmando, uma sensação de paz se instalando dentro de mim.
Ao final meu quarto estava com papeis picados e amassados por toda parte e minha mãe me mataria, mas eu não me importava. Eu rasgava uma folhas lentamente, já calma, apenas vendo ela se despedaçar em minhas mãos. Ele se sentou ao meu lado devagar observando a folha junto a mim.
-Isso tem acontecido com mais frequência né? - Engoli seco apenas concordando.
-Como sabia o que fazer? - Perguntei enfim desviando o olhar da folha para ele.
-O corpo pede por destruição, é terapêutico, tipo quando você quer quebrar algo, a sensação de destruição solta o hormônio de prazer, isso acalma de alguma forma, e bom, acho que "destruir" o papel é melhor do que sair quebrando o seu quarto. - Ele sorriu de lado me fazendo sorrir também, mas logo seu sorriso se foi. - Eu estou preocupado com você, desde que tudo aconteceu você está ficando cada vez pior, se quebrando por dentro. - Desviei meu olhar para minhas mãos, uma das minhas unhas havia feito um corte superficial na pele que ainda ardia um pouco, mas a sensação era reconfortante.
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Why Did Not You Come?
Short StoryPoderia ser só mais romance, mas acabou se tornando muito mais que isso. Será que você perceberia se a pessoa com quem convive todos os dias estivesse prestes a se matar?