A claridade entra pelas persianas invadindo todo o quarto e chegando aos meus olhos fechados, a primeira coisa que vejo ao acordar é o vermelho do interior das minhas pálpebras, e ao abrir os olhos, o horário no relógio da mesinha que mostra 07:12. Moro a dois minutos do colégio, o que me permite acordar bem perto da hora de ir. Visto uma calça jeans clara, a regata branca com emblema da escola, escovo os dentes e saio. Quando chego a rua são 07:26, não quero chegar antes do sinal bater, tenho que fazer o percurso no dobro do tempo normal, ou seja, 4 minutos, enquanto ando observo os outros alunos, os grupinhos de amigas todas de short curto e maquiagem pesada, os meninos agindo como meninos, tudo devidamente normal. O clima é quente, já deveria ter começado a esfriar, mas o calor de janeiro ainda está presente dia pós dia. Eu subo as escadas da escola, até minha sala, que é a última do corredor em passos lentos, a playlist aleatória do meu celular não fez um bom serviço até agora.
Hoje eu tenho a primeira aula de genética, biologia é uma das matérias que tenho mais facilidade, o que me permite não prestar a mínima atenção e pensar nos meus afazeres do dia.
-Pintar os cabelos
-Ir até a agência de empregos
-Ir até o psicólogo
-Ir dormir na casa dos meus padrinhos.
Hoje é sexta feira, então meus padrinhos me chamaram para dormir lá, eu sempre durmo lá uma vez por mês, acho que é porque eles não podem ter filhos, e Tom, filho adotado do casal, não é... bem... uma menina, como eles desejavam, e então sentem falta.O tempo passa veloz e derrepente são 11:30, hora de ir embora. Decido ir almoçar em um restaurante barato no Atiradores, aproveitando ser perto do centro, onde vou retocar o preto dos cabelos e procurar emprego. A comida tem cara de requentada, mas eu não iria comer muito mesmo.
-Olá Eduarda, o que faremos hoje?
-Boa tarde! O mesmo de sempre, só retocar a cor, acho que está desbotando.A ida ao psicólogo, Doutor Ivo Hartman foi tranquila, na verdade comecei as consultas por conta da insônia e dos "problemas" com o pai que nunca conheci (a segunda questão minha mãe me obrigou)
Ele tem um cabelo loiro claro, uma pele clara, olhos escuros, quase pretos, é muito alto, a cima do peso. Não é atraente, mas exala uma paz, me sinto bem, me sinto confiante perto dele. Eu confio nele.- Boa tarde srta. Pabst. Como está hoje?
e então eu começo a tagarelar. Incessantemente. Ele apenas escuta, suas participações são mínimas. Eu realmente falo tudo o que sou acostumada a guardar pra mim.É tarde quando termino meus afazeres e então vou direto a casa dos padrinhos Rosa e Jean. É uma casa vitoriana com vidraças coloridas e portas francesas, decorada toda em tons claros, um jardim grande que dá para uma área de festas, a casa em si é branca, tem dois andares.
Sou recebida calorosamente, Rosa, uma mulher bem sucedida na casa dos quarenta tem uma voz acolhedora
-Oi meu amor, que bom que você chegou, vem, entra,- ela parece ansiosa, elétrica- Tom- ela grita- A Eduarda chegou! vem Duda, deve estar cansada.
Tom é seu filho, dois anos mais velho que eu, crescemos juntos, éramos muito amigos na infância, agora somos apenas conhecidos, intimidade zero.
Tom grita algo inaudível do segundo andar e Rosa deixa o sorriso vacilar por um segundo, ela parece sobrecarregada.
-Dinha, posso me servir de chá gelado?- ela sempre tem chá gelado.
-Eu pego pra você, então, o dinho Jean ainda não saio do escritório, acho que chegará tarde- ela me entregá a xícara- ele anda trabalhando muito ultimamente- ela fala gesticulando, mas não olha pra mim, ela está andando pela casa, levando cestos de roupa para uma das portas onde fica a lavanderia, lava um copo na pia, ela é mais baixa que eu, tem cabelos curtos, usa um vestido despojado florido, uma maquiagem leve porém bem feita e sustenta um olhar acolhedor -mas ele vai adorar se esperarmos ele para assistirmos um filme- agora ela começa a subir os degraus e para no terceiro- Tom- ela aumenta o tom de voz- Tom dessa, vamos!
Ouço-o bater a porta, por enquanto não sei se a fechou para não ouvir ou berros da mãe ou se está saindo do quarto, vejo os pés dele se arrastando lentamente pelas escadas com par de meias do homem aranha.
Entrar nessa casa impecável sempre me deixa receosa, tímida.. sou reservada quando se trata dessa família, eles exalam felicidade absoluta, sempre tenho a sensação de que algo muito errado está acontecendo aqui.
-Oi Duda- ele fala casualmente, mas sei que está feliz em me ver.
-Fala Tom, desceu por espontânea vontade?
ele ri, Rosa também ri, enquanto faz um sinal de reprovação com a cabeça
-Esse menino só quer saber desses jogos online.-Diz lá da cozinha enquanto prepara o jantar
Tom revira os olhos
-Então Duda, tá tudo de boa?-ele se esforça pra agir casual e educadamente, aprendeu a sutileza com a mãe.
-Está tudo igual- fito minhas mãos.Após alguns minutos de conversa fiada, Jean, alto, moreno, elegante e cheiroso chega. E então o jantar é servido, é pato recheado, dinha Rosa cozinha muito bem.
Após o jantar vemos um filme sem graça sobre uma guerra mundial e estamos preparados para dormir, eu sempre durmo no chão do quarto de Tom, geralmente conversamos sobre música, séries e filmes até dormir. Mas hoje não.
Tom sempre foi mais baixo que eu, mas a uns dois anos pra cá ele passou de mim, está com o abdômen definido, tem traços alemães, provavelmente seus pais biológicos eram descendentes de alemães ou russos. Ele tinha olhos azuis vidrantes, cabelos cor de mel e uma pele clara, suas mãos macias tocavam minhas costas na altura da abertura do meu sutiã. As minhas mãos, com as unhas pintadas de um preto fosco abriam o fecho de sua calça jeans, e nós riamos baixo, não acreditando no que estávamos fazendo e tentando fazer o mínimo de barulho. A língua dele invade minha boca, cheiro de dente recém-escovado, sua barba rala roçando no meu queixo, suas mãos entrando por baixo da minha blusa até chegar nos seios...
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Descoberta indesejada
Mystère / ThrillerPorque algumas coisas deveriam continuar sendo um mistério.