Eu havia acordado. Eu não estava exatamente dormindo. Eu estava parado diante de um painel de controle. De que? Eu não faço a mínima ideia do que estou fazendo aqui.
A cabine em que eu estava era apertada e iluminada. As paredes laterais possuíam janelas de vidro transparente que não abriam e que permitiam ver as cabines adjacentes. As paredes e o teto brancos refletiam a luz que vinha do teto.
Caminhei até a porta e ao passar em frente às janelas pude ver no reflexo do vidro que eu estava diferente. Como eu podia estar... Adulto?! Eu tenho 12 anos. Isso é impossível.
Apressei-me em sair da cabine que deu em um corredor estreito, uma parede do mesmo material e cor do interior da cabine a frente, várias portas para outras cabines do lado oposto. Ao fim do corredor havia uma porta diferente. Corri uns 30 metros até ela e puxei a barra de ferro presa a ela.
Tomei um susto enorme ao encontrar um homem alto, do lado de fora. Ele era negro, careca e bastante forte, porém seu rosto não parecia ameaçador.
– Fique calmo. Vamos te reprogramar. – e logo pressionou um bastão metálico contra meu abdômen na altura do fígado. Grunhi agonizante ao sentir a forte corrente elétrica percorrer meu corpo.
Eu senti que ia desmaiar mas isso não aconteceu. Ao invés disso fiquei paralisado, mole. O homem alto me segurou antes que eu caísse e me conduziu para fora do corredor. Um outro homem, bem menor e de cabelo castanho e pele branca estava junto com ele.
A descarga elétrica deixou minha visão um pouco escura e enevoada, mesmo assim era possível notar que estávamos em um patamar mais alto dentro de um galpão, parecia uma fábrica. Os andares eram divididos apenas nas extremidades da construção. O centro era aberto de modo que, se alguém caísse do último andar enfrentaria uma queda de quase 15 metros até o térreo.
Os dois homens iam me conduzindo e eu estava sem forças pra reagir. "Vamos reprogramar você". O que aquilo significa?
Fiquei apreensivo. O medo subia dos meus intestinos à boca do estômago até minha garganta onde tentava me sufocar. Respirar era difícil.
Descer dois andares de escada havia sido bastante dificultoso para eles e eu também não tinha a intenção de facilitar. Mas agora o caminho era plano. Sem dificuldade para eles. Eu queria fugir. Me visualizava fugindo mas era prisioneiro do meu próprio corpo. A apreensão crescia à medida que nos aproximamos de uma porta. Estávamos a poucos metros. A palavra "reprogramação" era legível no letreiro da porta.
Por dentro o ambiente se parecia com uma sala de espera de um consultório médico. Eles me largaram sobre uma fileira de cadeiras acopladas encostadas na parede nas quais eu não consegui me manter e tombei até o piso frio de pedra. Os dois homens soaram uma campainha que fez um som de zumbido intenso e saíram.
Fechei os olhos, não imaginava o que estava por vir. Esperei alguns segundos até que senti dois dedos pressionando meu pescoço e depois encostou algo quente na minha nuca.
– Ei, levanta. – falou uma voz no meu ouvido. Abri os olhos e vi um homem agachado ao meu lado. – Eu tenho que te tirar daqui. Não tenho tempo pra explicar mas eu sou amigo e quero te ajudar a entender o que está acontecendo.
Eu não sabia o que pensar. Acenei com a cabeça e ele olhou pros lados.
– OK o efeito da descarga elétrica vai passar em alguns instantes. Preciso que me siga até minha sala. Sairemos pela janela onde tem uma escada de incêndio que nos leva pra fora daqui. Temos que ser rápidos e não podemos ser vistos até entrarmos no meu carro. Entendeu?
– Entendi. – Enunciei precariamente mas isso foi o bastante para ele me puxar pelo braço e me erguer. Ia andando apoiado nele, recobrando aos poucos a autonomia dos meus passos.
Sua sala era escura, as paredes eram de pedra cinza e havia uma mesa de metal grande o suficiente para uma pessoa deitar em cima. Alguns instrumentos dos quais não fazia ideia da serventia e o que me parecia ser um computador ultrapassado.
– Vem comigo – falou o rapaz abrindo a janela com um único impulso. A janela devia ter uns dois metros de largura e a altura da passagem que ela dava era de uns oitenta centímetros. Ele esgueirou-se e pôs um pé para fora passando também a cabeça e tronco para o lado de fora. – Vem logo!
Me aproximei da janela. Do lado de fora havia a plataforma metálica da escada de incêndio. Estava bastante gasta e enferruja em alguns lugares. Deslizei suavemente para fora.
Descemos um andar até o final da escada que ficava a uns dois metros do chão. Pulei depois dele para uma queda que não foi tão ruim quanto eu pensei que seria.
– Meu carro está na próxima rua. Se conseguirmos chegar até lá sem que sejamos vistos estaremos a salvo. – Eu apenas acenei com a cabeça. Estávamos em um beco largo entre dois prédios baixos. O dia estava no fim e o céu se tornara alaranjado.
Andamos em direção à saída do beco eu ia rápido até sentir o cotovelo do rapaz em minha barriga.
– Espera. – ele havia estendido o braço para me parar. – Olha – ele apontou para fora do beco. Duas mulheres altas e de porte atlético andavam de um lado para o outro. Elas usavam trajes que se assemelhavam a uniformes policiais. – São Seekers! Se nos virem estamos ferrados. Vem. – ele me puxou pelo braço de volta para dentro do beco. – Vamos sair pelo outro lado.
Nós corremos até a outra saída do beco. Ele ia mais a frente, guiando e eu ia atrás olhando atento se não estávamos sendo seguidos.
Ele estava a uns três metros adiante quando estávamos perto da saída uma porta se abriu bem à minha frente. Eu quase esbarrei. De dentro dela saiu o mesmo homem alto que havia me levado mais cedo.
– Fique calmo, vamos te reprogramar. – ele repetiu as mesmas palavras e pôs a mão na cintura onde carregava o bastão que usou para me paralisar mais cedo. Recuei uns passos para trás mas acabei tropeçando e caí. Ele se aproximou. Vi o bastão preto refletir o céu laranja.
De repente, com um tinir metálico, o rapaz que me ajudaram acertou o homem alto na cabeça com um barra de ferro. O grandalhão foi desabando como um edifício implodido. Tomei o cuidado de sair de perto.
Eu me levantei e tirei a poeira de minhas roupas. Fiquei chocado ao ver aquele brutamontes caído como um saco de batatas no chão. O sangue descia pela parte posterior da cabeça. O rapaz que estava comigo largou a barra e mexeu na nuca do grandalhão caído.
– Vamos. – ele disse. E saímos em disparada. Não encontramos mais ninguém no caminho até o carro.
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O Bug
Science FictionNo futuro uma invenção causa uma enorme revolução. O Chip de Extensão Humana permite o livre acesso de pessoas a computadores e sua rede mundial. Mas como a humanidade vai lidar quando essa tecnologia dominar as pessoas? Onze anos depois da inv...