Acordei no dia seguinte com uma dor pulsante na minha cabeça. Não fazia ideia de como o quarto podia parecer mais claro enterrado há dezenas de metros abaixo do solo. A impressão que se tinha era a de que eu poderia abrir uma janela e deixar a luz do sol invadir o quarto.
Dênis dormia ao meu lado, deixara uma poça de baba em seu travesseiro. Achei melhor não o acordar. Gastei cinco minutos no banheiro entre higiene pessoal e a tentativa de deixar meu cabelo decente. Eu ainda não me conformo com essa cara de psicopata que tenho agora. Eu tinha olheiras de quem havia tido uma noite precária de sono, o que piorava a situação.
Eu peguei uma garrafa de água no frigobar e sentei-me no sofá e liguei a TV baixo demais para acordar Dênis. Obviamente não passaria nada nos canais de TV, pus algum filme da memória ao qual não prestaria atenção de qualquer forma. Estava ansioso para descobrir onde poderiam estar meus pais e o que havia acontecido comigo no tempo em que fiquei em transe.
Passou-se pouco mais de meia-hora de filme até que Dênis acordasse. Ele me deu bom dia e esfregou os olhos antes de cambalear mancando até o banheiro. Eu agora concentrava mais atenção a esperá-lo sair do que ao filme que passava na TV. Dez minutos depois ele saiu, parecia que outro homem havia substituído a criatura desgrenhada que sumiu por aquela porta momentos antes.
– O que está vendo? – Perguntou-me contornando habilmente o sofá e sentando ao meu lado por cima do braço do móvel.
– Para falar a verdade não sei. Não estava prestando atenção. Estava esperando você acordar para que pudesse me levar até Sarah...
– Uhh, ainda com isso na cabeça é? Tudo bem. Eu te levo. Mas primeiro temos que comer alguma coisa, e de qualquer forma, Sarah ainda não deve estar de pé. Poderíamos aproveitar e fazer seu registro na base também.
– Ok... – Eu disse depois de um suspiro desanimado.
– Eu já me lembrei desse filme. Eles não ficam juntos no final.
– Ahh, que droga Dênis! – Mesmo que não tivesse prestando atenção no filme me incomodou saber do final. Usei o controle remoto para desligar a TV.
– Achei que não estava interessado no filme. – Ele desculpou-se.
– Tanto faz – me levantei e fui andando até a porta. – Vamos comer algo logo, quero pegar a Sarah assim que ela levantar.
– Boa sorte andando pela base de cueca.
***
Chegamos ao refeitório por volta de quinze minutos depois. Eu não estava mais de cueca, mas sim uma calça jeans rasgada que Dênis me emprestou e uma camisa de lã e mangas longas o que amenizava o frio que fazia dentro da base.
O lugar era uma enorme praça de alimentação, com mesas redondas e quiosques por todos os lados que vendiam de tudo, de comidas rápidas a refeições caseiras, sobremesas e suco. Muitos dos quiosques estavam fechados, mas já havia considerável movimentação por ali.
Dênis e eu nos ajeitamos em uma mesa. Ele comeu uns Croissants que pareciam ótimos, eu comi um cheeseburguer com bacon que me atentou ao fato de não ter sentido fome na noite passada.
– Quando está sob influência você só come uma vez por dia – ele me explicou – eles fazem uma pasta com todos os nutrientes que o ser humano precisa em um dia e o chip faz com que não sinta fome. Assim o tempo usado alimentação é menor. Toda a comida comum que não desviamos para as bases é mandada para Marte, eles não conseguem cultivar muita coisa lá, você deve imaginar.
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O Bug
Science FictionNo futuro uma invenção causa uma enorme revolução. O Chip de Extensão Humana permite o livre acesso de pessoas a computadores e sua rede mundial. Mas como a humanidade vai lidar quando essa tecnologia dominar as pessoas? Onze anos depois da inv...