Capítulo 3: Admirável Chip Novo

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O som daquelas palavras veio como uma marretada na cabeça me deixando atordoado. Como não existe mais? Como pode não existir?

   – Acho que entendi errado...

   – Não. Você entendeu perfeitamente. Nada do que você conhece existe mais. Todo o sistema pelo qual vivíamos e o modo de produção. Tudo foi desmontado e recriado. – Falou Sarah com a naturalidade de quem ensina a tabuada.

   – Mas como assim? Por quem?

   – Antes de você saber quem, você precisa saber como. Kyle você provavelmente era muito novo na época para se lembrar de como aconteceu e o impacto que isso teve, mas com certeza você se lembra do chip.

   – O chip de extensão humana? Eu me lembro sim.

   – Só no caso de ter esquecido algo, o chip humano era uma tecnologia injetada nas pessoas para que pudessem controlar máquinas e aparelhos eletrônicos e obter informação online através do pensamento.

   Eu lembrava de quando o chip foi anunciado popularmente. As propagandas prometiam substituir aparelhos como smartphones e computadores. Todas as outras crianças no colégio comentavam sobre: "vai ser demais, vou pedir para o meu pai comprar um", "não sei se vou poder, deve ser muito caro, meus pais não vão ter dinheiro", "será que dói pra colocar? Disseram que eles implantam na nuca, deve doer bastante". Comentários assim eram frequentes não só entre as crianças.

   Entretanto, quando foi lançado, a repercussão foi ainda maior pelo fato de ser surpreendentemente acessível. As lojas lotaram, todos queriam. Poderosas empresas de eletrônicos viram suas ações desvalorizarem quando seus produtos se tornaram obsoletos.

   – Bom, esse chip foi responsável pela revolução que hoje, os que se preocupam em preservar esse trecho da história chamam de Revolução Tecno-mental. – Continuou Sarah.  Dênis e Phêmo apenas a observavam prestando atenção – toda nossa vida mudou. Coisas que você precisaria aprender na escola estavam agora salvas no seu cérebro. A tecnologia avançava ainda mais rápido e o conhecimento humano se expandia.

   "Em dois anos cerca de 80% da população já havia instalado o chip. Alguns governos o usavam como um cadastro de pessoas substituindo os documentos de papel. Era usado para troca de moeda, identificação, fonte para estudos. Havia ainda quem usasse para encontrar com pessoas em todo o mundo através de realidade virtual simulada diretamente no pensamento. Pessoas chegavam a namorar com outras pessoas reais que estavam em lugares distantes, e com pessoas que só existiam em suas realidades virtuais. Sexo com clones de famosos era bem popular" Dênis e Phêmo riram, eu achei engraçado porém estava surpreso com o potencial dessa ferramenta. Eu desconhecia algumas dessas utilidades.

   – Então, toda essa utilidade teve um fim catastrófico. Esse acesso mental à informações se mostrou uma via de mão dupla. O chip passou a ter acesso a mente das pessoas. No começo foram apenas algumas informações pessoais vazadas. Depois o chip passou a controla-las completamente.

   – Mas não tinha um jeito de impedir isso quando começou? – Eu perguntei.

   – Na verdade tudo aconteceu de uma forma quase imprevisível. Quando as informações começaram a vazar pensaram ser apenas um defeito mas foi descoberto depois que era ação de hackers. Logo depois toda a população que usava o chip foi dominada de uma só vez há nove anos no dia 6 de março de 2102.

   – Caralho! Nove anos! – Me levantei e levei a mão à testa. De repente sentia uma dor pulsante na parte frontal da cabeça. – É claro! Nove anos... Eu perdi nove anos da minha vida. – Onde estariam meus pais? Provavelmente era impossível saber. Essas pessoas não deviam ter meios de saber.

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