Ellen

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As rodas do carro deslizam sobre a estrada como se eu estivesse a patinar no gelo. Ainda bem que a chuva tinha parado de cair, dando lugar a uma brisa fresca que pairava no ar. Porque a chuva e a velocidade não era a combinação mais sensata. E eu precisava chegar o mais depressa possível ao encontro da Any. Seu desespero desperta em mim o instinto de uma Leoa feroz, pronto a protegê-la de qualquer perigo. Richard, foi o primeiro nome que veio-me na cabeça. Uma sensação de culpa começou a crescer no meu coração. Como eu poderia ter confiado nele, e ter escondido tudo do seu passado durante todo esse tempo para Any? Mas como eu poderia dizer a ela que o homem que ela ama è uma pessoa totalmente diferente da pessoa que ela conhece? Mas o amor não poderia mudar as pessoas? Pelo menos foi o que eu li nos romances durante a minha adolescência. Quando ela o conheceu, pareceu que tudo iluminou na vida da Any. Era o homem perfeito, perfeito até demais, ao ponto de despertar a minha curiosidade de jornalista e o investigar. O seu passado era tão obscuro como os seus olhos e cabelos negros. E quando finalmente eu ia revelar tudo a Any, ela me disse que não poderia viver sem ele, porque ela tinha encontrado o amor da sua vida. Como amiga, eu não poderia destruir a chance de ela ser feliz, mas agora vejo que eu levei a Any para um caminho sem volta.
O MP3 do carro toca agora "Bring me to life" de Evanescence e parece que tudo desaba ao meu redor ao ritmo da musica , porque eu nunca iria me perdoar se acontece alguma coisa com ela. Avisto o seu carro de longe, e o meu coração quase para por alguns segundos ao ver o seu carro todo batido. Mas ao vê-la com um policial o meu coração se tranquiliza por um momento . Desço do carro o mais depressa possível e vou a passos largos ao encontro deles.
-Any , o que aconteceu? -digo enquanto lhe abraço e consigo sentir o seu corpo gelado.
Ela não emite nem um som e olho para o policial que se encontrava falando no rádio do carro e fico a espera que ele dissesse alguma coisa.
-Senhora, já vasculhamos toda essa zona e nada de algum homem e muito menos com essas semelhanças descritas por você. E creio que ninguém seria louco de andar debaixo dessa tempestade a pé. -ele diz com a convicção que o seu posto exigia.-Mas, se a senhora quiser me acompanhar até a esquadra para prestar queixa. Me acompanhe por favor.-ele diz indicando o seu carro de polícia.
A Any se solta dos meus braços e encara o policial.
-Eu só quero ir para casa.
O policial dá de ombros .
-Neste caso a responsabilidade torna sua.-ele diz com uma voz cortante, como se quisesse dar a entender que estava aborrecido por ter vindo aqui para nada.
-Vamos então Any -digo tentando quebrar o clima tenso.
Agradeço ao policial pelo serviço e derijo-me para o meu carro com a Any. Ao vela sã e salva, o pavor que eu sentia outrora deu lugar a uma curiosidade que estava me corroendo por dentro para saber o que tinha acontecido. Mas permaneci todo o caminho em silêncio, tal como ela. E assim foi até que ela estivesse confortavelmente na sua cama, depois de um banho quente e uma chávena de chá. Chá? Eu queria era um Whisky, porque essa história seria mais emocionante do que aparentava ser. Pelo menos era o que o meu instinto de jornalista indicava.
-Começa a contar. Eu quero todos os detalhes -digo com os olhos brilhantes encarando-a enquanto seguro o meu copo de Whisky na mão, sentada na beira da sua cama.
Ela passa uma mecha de cabelo para trás , suspira e me encara.
-Eu fui atrás de ajuda num centro de espiritualismo que o Richard me indicou.
Richard, eu sabia que tinha que ter o dedo dele nessa história.
Ela continua.
-E apareceu um homem do nada, e que sabia tudo sobre mim. E começou a falar que tinha ficado quarenta dias sem sexo por minha causa. Foi horrível.-ela diz encolhendo com os joelhos dobrados.
Enquanto ela falava, eu me deliciava com goles da minha bebida. Mas quando eu ouvi a palavra sexo quase engasguei com o whisky.
-Anyyy ?! Me passa o endereço desse centro espirita agora. Eu já estou até me convertendo.-digo brincando.-Você deu o seu número para ele não è?
Ele me fita com um olhar incrédula.
-Claro que não. Se ele for um psicopata Tarado? Além disso, eu não partilho meus dados pessoais com ninguém que eu acabo de conhecer.
Ninguém pode ser mais perigoso do que com aquele que tu vives Any. Penso para mim mesma, mas de imediato afasto esses pensamentos e concentro-me de novo na conversa.
-Mais uma razão, se vc não o conhece de nenhum lado, como ele pode saber tanto sobre você? -digo olhando para ela.
-Ele disse que poderia me ajudar com a minha medionidade.
-Então?-digo me levantando toda empolgada. -Vamos amanhã a esse centro espirita e vamos tentar ter informações sobre este homem mistério.-digo elevando as sobrancelhas.
-Não sei se ele vai querer falar comigo. Eu deitei-lhe spray de pimenta nos olhos e sai correndo feito uma louca. E depois apareceu uma mulher que não era mulher, mas sim um espírito. Quase bati o carro. E não sei como, ela apareceu e eu tentei passar o carro por cima dele. E depois chamei a polícia e ele sumiu como mágica.
-Anyyy!! Mais uma razão de vc procurar esse cara. Você quase o matou. E não importa se vc o conheceu hoje. A realidade è que o tempo não è o mais importante, mas sim a intensidade das emoções vividas nesse tempo. Ele pode ser a resposta para tudo.
-Okay, Okay. -ele diz levantando os braços em rendimento. -Só se você aceitar dormir aqui comigo hoje. -ela diz fazendo um beicinho.
-E o Richard? -digo enquanto me levanto.
-Ele viajou a trabalho. -ela diz desanimada.
Que excelente notícia.
-Claro-digo animada.-Assim teremos um tempo para nós duas. Porque quando ele está aqui, è só Richard daqui e dali-digo emitando a sua voz.
Ela joga o travesseiro na minha direção.
-Não è para tanto. -ela diz rindo.
-È sim. -jogo o travesseiro de volta. -Mas pelo menos eu te fiz sorrir nessa noite horrorizante que você teve. Ha, não se esqueça amanhã è o baile para a arrecadação de fundos para as mulheres com câncer na Biblioteca Municipal. E nós vamos.
-Você tem razão. Eu preciso relaxar um pouco de tudo isso que está acontecendo. O que seria da minha vida sem você Ellen? -ela diz olhando para mim.
Me aproximo dela e abraço-a .
-Você sempre me terá, sempre. Agora deixa eu ir tomar um banho porque amanhã será um grande dia. -digo enquanto a solto, pego o meu copo de Whisky e termino de beber.
Me levanto, vou até a casa de banho , tomo um banho rapidamente e pego uma camiseta da Any. A verdade é que nunca tivemos problemas em roupa porque tínhamos quase as mesmas medidas. Prendo o meu cabelo loiro num coque desajeitado e escovo os meus dentes com uma escova nova que ela sempre guardava para um possível hóspede.
-Any, você já sabe o que você vestirá amanhã para ir ao Baile? -digo enquanto passo o creme de rosto, mas ela não responde.-Any? -digo enquanto saio da casa de banho para o quarto.
Ela não estava lá, quando eu sinto um grito horrorizante vindo da Cozinha. Corro imediatamente para lá, e lá estava a Any branca como um papel olhando fixamente para a parede da sala. Segui com os meus olhos a mesma direcção e lá estava o seu batom vermelho levitando enquanto escrevia em letras Maiúsculas " Bem vindo ao Hollow ".
Eu não era cristã, envagelhica ou espírita . Mas não poderia negar o que os meus olhos viam.
Ela olhou para mim como se quisesse confirmar o que ela via se eu via também.
-Vamos Amanhã, isto tem que acabar. -ela diz com uma certa firmeza que não era o hábito dela.
Consegui somente abanar a cabeça positivamente como resposta . A verdade que isso se tornava cada vez mais mistérioso e era necessário o desvendar.
* Espero que tenham gostado. Deixem os vossos comentários, toda crítica è bem vinda, porque ajuda a melhorar *

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