Any

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Hoje acordei primeiro do que o sol. As seis da manhã já estávamos na estrada, e ainda se via os rastos da noite que iam se desvanecendo ao serem tocados pelos primeiros raios de luz.
-Eu não acredito que estou de pé as seis da manhã em pleno sábado. -diz a Ellen a resmungar.
Olho para ela sentanda no banco do carro com as pernas na janela.
-Onde está o teu espírito de jornalista? -digo rindo das queixas dela.
- Ficou na cama deitado. Onde eu deveria estar também -diz enquanto coloca uns óculos escuros.
-Eu não sei como você consegue dormir depois de ontem. Aquilo não me sai da cabeça -digo enquanto mantenho um olhar fixo na estrada.
-Eu quero acreditar que foi o Whisky.
-Ainda bem que eu bebi chá e sei muito bem o que eu vi. E ali está. -digo indicando com a cabeça a placa de boas vindas do Hollow.
Entro na direcção indicada, e só de pensar que eu estive aqui ontem, dá um arrepio na espinha. Entretanto, a rua já não tinha mais a aparência medonha da noite passada. Pelo contrário, um ambiente bastante acolhedor e colorido pelos imensos jardins que nos guiavam até ao centro espirita "Para além dessa vida".
Estaciono o carro uns metros antes, olho para a Ellen que já tinha dado um pulo da cadeira e saído do carro. Saio de seguida e suspiro fundo.
-Vamos -diz ela apressada -Você não me fez levantar da cama para nada não è?-diz ela me encarando.
Aceno positivamente com a cabeça e começo a caminhar. Quando eu chego na porta, bato e imediatamente surge um senhor velhinho que veio nos atender. Era baixinho , usava óculos e tinha cabelos brancos igual a neve. Pelas suas feições, poderia se dizer que em outros tempos foi de uma beleza e tanta.
-Entrem, eu estava a vossa espera. -ele diz indicando que entrassemos.
Que raios è que toda gente nesse lugar sabe o que fazemos?
A Ellen dá uma gargalhada.
-Eu adoraria ter esse dom. Imagina saber o que as pessoas vão fazer antes de elas fazer. Eu poderia o usar para saber se os boys iriam topar ficar comigo ou não na balada.-ela diz animada.
Fito-a com um olhar de se contenha.
-Pronto parei. Ela diz aborrecida.
O senhor olha para nós com uma serenidade e indicanos duas cadeiras para sentarmos e sente-se também logo de seguida. E olha para Ellen e depois para mim.
-As visões que temos não são absolutas. Tudo depende da escolha que a pessoa fizer: o livro árbitro. Vocês escolheram vir aqui, e aqui estão. Porém há escolhas predestinadas , e que não cabe a nós fazê-las agora, somente vive-las, como o seu dom Any.
-Caraca ele sabe o teu nome Any.-diz a Ellen surprendinda.
O senhor dá uma risada contida.
-Penso que está escrito no colar dela.
Levo a minha mão e toco no colar de ouro branco que o Richard tinha me dado de presente de aniversário.
-Claro, óbvio -diz a Ellen um pouco desapontada.
Mas lembrando o que eu fui lá fazer, retomo a conversa.
-Então o senhor está querendo dizer que eu escolhi ter esse dom de medionidade?-digo enquanto me sento na cadeira.
-Sim, antes mesmo de nasceres. Ele è necessário para chegares a alguém que te espera a muito tempo. -ele diz enquanto se levanta , vai até uma estante, e traz consigo um papel.
-O senhor não está se referindo aquele tarado, pois não? -digo num sobressalto.
-Se chama Kali. E durante vários anos veio a sua procura, como agora que viste a procura dele.
-Eu não o conheço de nenhum lado.
-Agora, porque há pessoas que conhecemos desde outros tempos, mas não recordamos, até que os sentimentos falem mais alto do que a nossa razão em tentar entender o que sentimos.
Ele coloca o papel em cima da mesa. E quando eu o apanho e ele segura fortemente a minha mão.
-Se você quiser a verdade, terá que pagar um preço que está muito além do teu imaginável.
-Pago qualquer coisa para viver em paz -digo me soltando da sua mão.
- Qualquer coisa è muita coisa Any, até a morte. Além disso, nunca se vive em paz depois de saber a verdade.-ele diz olhando profundamente em meus olhos. -Vai com Deus.
Ele se levanta e indicanos a saída.
Ao sairmos, sou presenteada com a mesma melodia dos sinos de vento, que eu ouvi na noite antes de encontrar com o Kali. Kali, agora eu sei o seu nome.
Estava perdida eu meus pensamentos, quando sou interrompida pela Ellen.
-Nossa, eu senti um arrepio quando ele falou de morte -diz a Ellen cruzando os braços.
-Acho que foi só uma forma de dizer. -digo enquanto abro a porta do carro.
Ela entra no carro e olha para mim.
-Vamos atrás desse homem?
-Vamos -digo arrancando o carro.

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